quinta-feira, 7 de junho de 2012

O majzen procura enterrar a prova de um assassinato


O rosto de Said Dambar captado na morgue do hospital
por um telemóvel. É visível o orifício da bala, na testa, entre os olhos


Uma vez mais o Western Sahara Human Rights Watch (WSHRW) divulgou o sucedido: o majzen ordenou o enterro do cadáver de Said Dambar, cujo assassinato o majzen não quer esclarecer... precisamente por ter sido cometido por um dos seus agentes. O grave é que o enterro se fez contra a expressa vontade da família do assassinado que não tem cessado de reclamar uma autópsia desde que o jovem foi assassinado à queima-roupa por um tiro de um polícia marroquino.

I. O MAJZEN TRATA DE DESTRUIR A PROVA DE UM ASSASSINATO
Uma nova notícia macabra protagonizada pelo majzen. Esta é a notícia que no dia 4 de junho, divulgou em primeira-mão o WSHRW:

MARROCOS TENTA ENTERRAR A INVESTIGAÇÃO DO ASSASSINATO DE SAID DAMBAR

jun 4th, 2012 |

Na manhã de 4 de junho, às 8:30h, as autoridades de ocupação marroquinas chegaram a casa da família de Said Dambar com uma ordem escrita do tribunal de El Aaiún dizendo que o mártir Said Dambar devia ser enterrado às 9:00h, dessa mesma manhã, de acordo com as informações proporcionadas por Mattu Dambar, irmã de Dambar.
A mãe de Dambar recusou-se a assinar a ordem escrita do tribunal e atirou o papel para bem longe, enquanto o vento tratava de o arrastar fora de todo o alcance.
Então, os agentes do governo marroquino abandonaram a casa da família de Dambar dizendo à família que era seu problema fazer caso omisso da ordem e asseguraram que Said Dambar seria enterrado de qualquer forma.
Mais tarde, a família inteirou-se de que o seu filho foi enterrado na presença apenas de agentes do Estado no cemitério Jat Eramla, na cidade ocupada de El Aaiún, segundo o testemunho de Mattu Dambar.
Desde muito cedo nessa manhã, o cemitério encontrava-se fechado e cercado por forças paramilitares marroquinas, o que acontece até agora, e não é permitido a ninguém entrar no cemitério ou aproximar-se em seu redor.

Na sequência desta informação, uma das organizações de direitos humanos do território ocupado, a CODESA, emitiu um comunicado de condenação.

II. UM ASSASSINATO INFAME... E UMA INFAME EXPLICAÇÃO OFICIAL...
O assassinato de Said Dambar produziu-se no dia 22 de dezembro de 2010. Apenas uns dias depois da brutal destruição do acampamento de Akdeim Izik pelas forças de ocupação marroquinas.
O Observatório Aragonês para o Sahara Ocidental sintetiza as circunstâncias do caso:

O cadáver permanece na morgue do hospital Hassan Ben el Medí. A família nega-se a enterrá-lo sem que se faça uma autópsia que determine as circunstâncias reais do falecimento. Quando a família visitou a morgue pôde comprovar que o cadáver tinha um orifício de bala entre os dois olhos. Uma fotografia tirada por um telemóvel testemunha-o.

A Polícia mantem a versão de que a morte responde a um acidente: o falecido e o polícia eram amigos, tinham bebido álcool juntos e um disparo fortuito ocasionou a morte. À tragédia vem juntar-se o opróbrio que significa esta explicação para a família. Said era um jovem saharaui licenciado em Económicas, desportista e muçulmano. A versão oficial não merece nenhum crédito, ninguém acredita que menos de dois meses depois da vaga de violência que teve lugar durante e depois do desmantelamento do acampamento “Esperança”, numa cidade sitiada, onde os jovens saharauis são acossados sistematicamente pela polícia, Said pudesse estar a “festejar” com um polícia marroquino.

A família pediu insistentemente sem resultado que se recolhessem provas, como a autópsia, que trouxessem luz ao caso. Na morgue o peito de Said estava envolto. Teria ele outro impacto de bala? Entre os objetos pessoais devolvidos à família pela polícia encontravam-se as calças de Said, mas a camisa havia desaparecido.

(...)
Duas horas depois de terminar o julgamento foi divulgada a sentença, o Tribunal condenou a 15 anos de prisão o polícia YAMAL TAKERMCHT. A família não ficou satisfeita: o Estado não foi declarado responsável civil pela morte de Said, foi impedida a autópsia e a morte do seu irmão aparece como resultado de um acidente entre dois amigos.

O pai de Said Dambar participou no acampamento de Akdeim Izik. A sua tenda e o seu carro todo-terreno foram destruídos pelas forças de ocupação marroquinas.

O certo é que as gravíssimas acusações e suspeitas da família de Dambar tinham uma muito fácil solução: realizar uma autópsia do cadáver. Uma autópsia revelaria, sem sombra de dúvida:
- se era verdade que o assassinado havia bebido álcool (a família nega-o)
- as circunstâncias do disparo de frente na testa;
- se houve algum outro disparo;
- outras circunstâncias relevantes.

Há que ter em conta que Dambar era muçulmano e para os muçulmanos o consumo de álcool está proibido.
Tratava-se, portanto, não só de aclarar se, efetivamente, Dambar havia sido assassinado, mas também se havia sido bom cumpridor dos costumes religiosos do seu povo.
E não apenas isso. Una condenação de "15 anos" por este "acidente" não significa nada no império da impunidade que é o reino do majzen.

Como bem recorda o Observatorio Aragonês para o Sahara Ocidental:

A familia e os saharauis tem bem presente na sua memória o caso de outro jovem saharaui, Hamdi Lembarki, assassinado por dois polícias marroquinos que foram condenados inicialmente a dez anos de prisão, depois a pena diminuída para dois anos no recurso, saindo os dois de imediato em liberdade e incorporados no serviço ativo.

III. POR QUE RAZÃO O MAJZEN ENTERRA O CADÁVER? PARA GARANTIR A IMPUNIDADE
A autópsia reclamada pela família ia pôr a descoberto a enorme mentira da versão oficial do majzen.
Por isso, o majzen encontrava-se numa situação extremadamente comprometedora.
A "solução" dada pelo sistema da dinastia alauita foi a mais cobarde que se possa imaginar.
O enterro em qualquer sociedade civilizada só pode ser autorizado pela família.
Dado que a família se negava a autorizar o enterro, sem que tivesse sido efetuada a autópsia, o majzen recorreu à sua manobra mais vil: ordenar o enterro contra o expresso desejo da família.
O que se pretende com esta brutal violação das mais elementares normas de respeito por uma família numa sociedade civilizada?

A explicação é esta:
NA RELIGIÃO MUÇULMANA ESTÁ PROIBÍDO DESENTERRAR UM CADÁVER.

Desta forma, o majzen, depois de ter deixado insinuar que Said Dambar não era um bom muçulmano porque teria bebido álcool... Agora quer obrigar a sua família a infringir um preceito muçulmano se o desenterrar para que se faça verdade sobre o assassinato.

Este é o comportamento das forças de ocupação a mando de quem se faz chamar  "emir dos crentes muçulmanos".

Artigo do Prof. Carlos Ruiz Miguel no seu blog Desde El Atlántico

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