O novo
presidente da República Árabe Saharaui Democrática, Brahim Gali, recorda a
Marrocos que não pode “oferecer a autonomia” ao Sahara Ocidental porque não lhe
“pertence”: “Não se pode ser generoso com o que não se tem”.
Marrocos
estica a corda no Sahara e a Frente Polisario adverte para um possível regresso
às armas
Fonte: www.publico.es – Alejandro
Torrús
ACAMPAMENTOS
DE REFUGIADOS SAHARAUIS EM TINDOUF (ARGÉLIA).- o novo presidente da República
Árabe Saharaui Democrática (RASD), Brahim Gali, não tirou nem uma vírgula ao
discurso discurso que atá há pouco proferia Mohamed Abdelaziz (Anterior SG da
Polisario e Presidente da RASD, falecido após prolongada doença): “O Sahara não
é nem nunca fará parte de Marrocos”. Nem com plano de autonomia, nem com
negociações, nem por muita violência ou repressão que exarça o reino alauita.
Foi desta forma contundente que o máximo dirigente saharaui se apresentou numa
conferência de imprensa no âmbito do XIII Festival de Cinema do Sahara (que
decorre nos campos de refugiados).
“Temos
internacionalmente reconhecido o direito à autodeterminação. Se Marrocos quer
ser generoso e dar autonomia pois que o dê a um território que lhe pertença.
Não se pode ser generoso com o que não lhe pertence. A RASD não faz nem fará
nunca parte de Marrpcos”, asseverou Gali, eleito em Congresso da Frente
Polisario no passado dia 9 de julho por mais de 90% dos votos.
A
conferência de imprensa tem lugar num momento de tensão máxima entre Marrocos e
a República saharaui. Um documento da ONU, a que a agência AP teve acesso,
afirma que o reino de Mohamed VI violou o acordo de cessar-fogo, de 1991, já
que havia ultrapassado a zona limite definida pelo plano de paz, passando para
lá do denominado (pelos saharauis) “muro da vergonha” marroquino. O presidente
saharaui afirmou que se trata de unidades militares e acusou Marrocos de estar
construindo uma estrada para “fazer chegar a cannabis à parte oriental de
África”.
“Fomos
obrigados a enviar militares saharauis e a distância entre ambas (as forças) é
muito curta. As suas provocações mantêm-se e se não fosse o nosso apego à paz a
situação já teria sido muito diferente. A violação do acordo de paz por
Marrocos permitiria-nos regressar guerra, mas mantivémo-nos tranquilos”,
assegurou Brahim Gali, que afirmou que tudo o que faz o reino alauita no Sahara
Ocidental é “ilegal” já que se trata de uma “força de ocupação”. “Seja na
construção de estradas ou na espoliação dos recursos. Tudo o que faz é ilegal.
Não reconhecemos o que faz nem dentro nem fora, mas como afirmámos queremos que
o acordo de paz seja respeitado”, acrescentou.
Esperança
com o novo secretário-geral da ONU
O presidente
da RASD atacou duramente a França, principal aliado de Marrocos neste conflito,
referindo que aquele país “continua a manter uma mentalidade colonialista na
região”. “Pedimos a França que não atue fora do quadro internacional. Sendo condiderado
o país-berço dos Direitos Humanos, está a apoiar Marrocos a violar os direitos
dos saharauis e o acordo de paz”, adiantou Gali.
O dirigente
saharaui teve palavras amáveis para aquele que será o novo secretário-geral da
ONU, António Guterres, tendo destado que ele "conhece bem a causa
saharaui” porque “esteve nos acampamentos de refugiados” ainda que tenha
reconhecido que “irá herdar uma situação muito difícil”. “Todos esperamos que
intensifique os esforços da ONU e que que possa contar com os apoios do
Conselho de Segurança para que, de uma vez por todas, a ONU possa cumprir a sua
missão”.
Por último,
o presidente saharaui pronunciou-se sobre a petição de Marrocos de formar parte
da União Africana (UA). Neste sentido, Gali assinalou que se trata de uma
excelente oportunidade para que se “aclarem de forma solene onde começam e onde
acabam as suas fronteiras” e para deixar claro que estão dispostos a respeitar
a RASD como membro fundador da UA. “Não creio que sejam capazes de o fazer”,
comentou o dirigente máximo da Frente Polisario, que concluiu a sua intervenção
com um “Venceremos”.
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