quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Fala o novo presidente da República Saharaui: “Nunca faremos parte de Marrocos”




O novo presidente da República Árabe Saharaui Democrática, Brahim Gali, recorda a Marrocos que não pode “oferecer a autonomia” ao Sahara Ocidental porque não lhe “pertence”: “Não se pode ser generoso com o que não se tem”.
Marrocos estica a corda no Sahara e a Frente Polisario adverte para um possível regresso às armas
Fonte: www.publico.es – Alejandro Torrús

ACAMPAMENTOS DE REFUGIADOS SAHARAUIS EM TINDOUF (ARGÉLIA).- o novo presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD), Brahim Gali, não tirou nem uma vírgula ao discurso discurso que atá há pouco proferia Mohamed Abdelaziz (Anterior SG da Polisario e Presidente da RASD, falecido após prolongada doença): “O Sahara não é nem nunca fará parte de Marrocos”. Nem com plano de autonomia, nem com negociações, nem por muita violência ou repressão que exarça o reino alauita. Foi desta forma contundente que o máximo dirigente saharaui se apresentou numa conferência de imprensa no âmbito do XIII Festival de Cinema do Sahara (que decorre nos campos de refugiados).

“Temos internacionalmente reconhecido o direito à autodeterminação. Se Marrocos quer ser generoso e dar autonomia pois que o dê a um território que lhe pertença. Não se pode ser generoso com o que não lhe pertence. A RASD não faz nem fará nunca parte de Marrpcos”, asseverou Gali, eleito em Congresso da Frente Polisario no passado dia 9 de julho por mais de 90% dos votos.

A conferência de imprensa tem lugar num momento de tensão máxima entre Marrocos e a República saharaui. Um documento da ONU, a que a agência AP teve acesso, afirma que o reino de Mohamed VI violou o acordo de cessar-fogo, de 1991, já que havia ultrapassado a zona limite definida pelo plano de paz, passando para lá do denominado (pelos saharauis) “muro da vergonha” marroquino. O presidente saharaui afirmou que se trata de unidades militares e acusou Marrocos de estar construindo uma estrada para “fazer chegar a cannabis à parte oriental de África”.

“Fomos obrigados a enviar militares saharauis e a distância entre ambas (as forças) é muito curta. As suas provocações mantêm-se e se não fosse o nosso apego à paz a situação já teria sido muito diferente. A violação do acordo de paz por Marrocos permitiria-nos regressar guerra, mas mantivémo-nos tranquilos”, assegurou Brahim Gali, que afirmou que tudo o que faz o reino alauita no Sahara Ocidental é “ilegal” já que se trata de uma “força de ocupação”. “Seja na construção de estradas ou na espoliação dos recursos. Tudo o que faz é ilegal. Não reconhecemos o que faz nem dentro nem fora, mas como afirmámos queremos que o acordo de paz seja respeitado”, acrescentou.

Esperança com o novo secretário-geral da ONU

O presidente da RASD atacou duramente a França, principal aliado de Marrocos neste conflito, referindo que aquele país “continua a manter uma mentalidade colonialista na região”. “Pedimos a França que não atue fora do quadro internacional. Sendo condiderado o país-berço dos Direitos Humanos, está a apoiar Marrocos a violar os direitos dos saharauis e o acordo de paz”, adiantou Gali.

O dirigente saharaui teve palavras amáveis para aquele que será o novo secretário-geral da ONU, António Guterres, tendo destado que ele "conhece bem a causa saharaui” porque “esteve nos acampamentos de refugiados” ainda que tenha reconhecido que “irá herdar uma situação muito difícil”. “Todos esperamos que intensifique os esforços da ONU e que que possa contar com os apoios do Conselho de Segurança para que, de uma vez por todas, a ONU possa cumprir a sua missão”.


Por último, o presidente saharaui pronunciou-se sobre a petição de Marrocos de formar parte da União Africana (UA). Neste sentido, Gali assinalou que se trata de uma excelente oportunidade para que se “aclarem de forma solene onde começam e onde acabam as suas fronteiras” e para deixar claro que estão dispostos a respeitar a RASD como membro fundador da UA. “Não creio que sejam capazes de o fazer”, comentou o dirigente máximo da Frente Polisario, que concluiu a sua intervenção com um “Venceremos”.

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