Fonte:
El Sáhara de los Olvidados / Livro “Del Sáhara Español a la República Saharaui”
// Por Emiliano Gómez
Fase da “Defesa Positiva”
A defesa positiva foi uma estratégia delineada pela Frente
POLISARIO para atrasar o mais possível o avanço da invasão e assim permitir que
a população civil pudesse pôr-se a salvo da repressão e do extermínio físico.
Por essa razão as operações militares foram de caráter defensivo e tiveram um raio
de ação limitado. Não obstante, a dureza dos confrontos pautou desde um
primeiro momento o desenvolvimento ulterior da guerra.
As forças marroquinas tiveram que se haver com um inimigo
tenaz e extremamente movediço, que atacava no lugar e no momento menos previsível,
e se esfumava na paisagem com a mesma rapidez que tinha aparecido. O Exército
Popular Saharaui desenvolveu um enorme esforço até que conseguiu completar a
evacuação dos refugiados para a zona de Tindouf (Argélia) nos últimos dias de
março de 1976.
Ofensiva de Verão
Com a proclamação da República Saharaui (27 de fevereiro de
1976), e depois de colocar ao abrigo do perigo dezenas de milhares de
refugiados civis, a Frente POLISARIO deu por finalizada a denominada fase
“Defesa Positiva”. A partir de então voltou-se a inverter o sinal dos
confrontos, imprimindo um caráter ofensivo às ações do Exército Popular.
A Ofensiva de Verão prolongou-se até finais de agosto.
Durante o seu curso, o Exército Popular conseguiu tomar a iniciativa no terreno
e apoderar-se do armamento necessário para desenvolver ações de maior
envergadura. Mostrou também que poderia atingir no mais profundo da retaguarda
do inimigo, sem que a distância constituísse um obstáculo intransponível.
Quarto Congresso da Frente
POLISARIO. Ofensiva “Houari Boumédiène”
Em setembro de 1978 teve lugar o 4º Congresso da Frente
POLISARIO sob o lema: ”A luta continua para impor a independência nacional e a paz”.
Este Congresso ordenou ao Exército Popular o desencadeamento da ofensiva “Houari
Boumédiène” assim denominada em homenagem ao presidente argelino recentemente
falecido.
A vasta operação bélica haveria de prolongar-se até meados
de 1981 e as suas ações mais importantes seriam levadas a cabo na região do
Saguia El Hamra (centro e norte do Sahara Ocidental) e, sobretudo, na região
sul do território marroquino. O objetivo central da ofensiva era destruir as
bases de apoio logístico das FAR (Forças Armadas Reais), desorganizar a sua
retaguarda e isolar as tropas destacadas no Sahara.
Um balanço da F. POLISARIO indicava que, entre novembro de
1978 e finais de outubro de 1979, e o exército marroquino teria sofrido 20.140
baixas entre mortos e feridos, além de 739 efetivos capturados. Também havia
perdido 1.650 veículos de todo tipo, assim como sete helicópteros e seis aviões.
A ofensiva saharaui prosseguiu com intensidade durante o ano
de 1980. A 1 de março desse ano, um exército marroquino composta por 8000
efetivos internou-se na região montanhosa de Ouarkziz (sul de Marrocos), com o objetivo
de desalojar a zona de forças saharauis. A batalha prolongou-se até 11 de março
e teve um final desastroso para as FAR: 2.000 baixas, 108 prisioneiros e 41
carros blindados e 181 veículos destruídos.
Um despacho da Agência France Presse, descrevia o aspeto que
apresentava o cenário dos combates uma vez finalizados:
“No dia seguinte à batalha que se desenrolou entre os dias 1
e 11 de março e em que os agrupamentos móveis marroquinos OUHOUD e ZELLAGA foram
deslocados, um pequeno grupo de jornalistas da imprensa internacional, pôde
visitar durante 48 horas uma parte do campo de batalha que se estende numa frente
de 120 quilómetros. Os cadáveres dos militares marroquinos jaziam às dezenas nos
diversos lugares dos enfrentamentos, com guarnições e tropas dos blindados e
dos transportes de tropa carbonizados no seu interior, testemunhando a violência
dos combates ".
A última ação de grande envergadura, e talvez a mais
impactante da ofensiva “Houari Boumédiène” foi o ataque a Guelta Zemmur e o virtual
aniquilamento da sua guarnição. Com efeito, a 13 de outubro de 1981 o IV
Regimento das FAR foi aniquilado e o seu comandante pôs-se em fuga abandonando até
a sua documentação pessoal.
Os combatentes do ELPS (Exército de Libertação Popular
Saharaui) atravessaram os campos minados e as barreiras de arame farpado e tomaram
de assalto o dispositivo do regimento. Nessa ação capturaram 230 prisioneiros,
destruíram 4 aviões e apoderaram-se de uma enorme reserva de provisões e
armamento.
A ofensiva “Houari Boumédiène” obrigou o alto comando marroquino
a rever a sua estratégia no Sahara Ocidental. Em finais de 1980, o ELPS
controlava mais das três quartas partes do solo pátrio e tinha mergulhado na
aflição todo o sistema militar do sul de Marrocos.
Estratégia dos muros e
participação norte-americana
Tendo em vista os péssimos resultados militares, o governo
marroquino decidiu erigir um sistema defensivo para proteger a zona económica mais
importante do Sahara, isto é, o denominado “triângulo útil” cujos vértices eram
El Aaiún, Smara e Bu-Craa.
A nova estratégia marroquina baseava-se na criação de uma área,
teoricamente inexpugnável, que pudesse ser alargada gradualmente até abarcar a
totalidade do território saharaui. Deste modo poder-se-ia conseguir: 1º –
Proteger o “triângulo útil” e isolar o sul de Marrocos mediante um muro
fortificado que fosse intransitável para o exército saharaui. 2º – Reduzir sucessivamente
a área controlada pela Frente POLISARIO para impedir a mobilidade das suas
unidades de combate.
Entre agosto de 1980 e os primeiros meses de 1982 foi construído
o primeiro muro em torno do “triângulo útil”. Quase de imediato, foram
levantados o segundo e o terceiro para ampliar a proteção do mencionado “triângulo”.
Posteriormente, em maio de 1984, Marrocos começou a erigir o quarto muro, e um ano
depois o quinto. Em 1987, com o sexto muro, as obras defensivas totalizavam
2500 quilómetros e estendiam-se desde a região de Ouarkziz no sul marroquino, até
à fronteira meridional do Sahara.
Os muros em questão são barreiras de pedra e areia, com uma
altura média de três metros. À frente deles, a uma centena de metros de
distância, estende-se uma faixa de campo minado, e entre este e os muros
existem defesas de arame farpado. O complexo defensivo dispõe de um sistema de
radares capaz de detetar o movimento de uma pessoa a vários quilómetros de
distância.
A guarnição destes muros é composta por unidades com diferente
potencial de fogo de acordo com o comprimento do troço de defender.
Cada dez quilómetros há um “ponto de apoio” com 150 homens
armados com metralhadoras ligeiras e metralhadoras pesadas, armas antitanque e
morteiros de 80 a 120 mm. Entre dois “pontos de apoio” há uma “sonnette”
(alarme) integrada por 46 homens. Entre todas estas posições há um patrulhamento
contínuo durante as vinte e quatro horas.
Dez quilómetros atrás do muro há um segundo dispositivo
defensivo integrado por unidades de tanques, artilharia e destacamentos
blindados, cuja missão é ajudar imediatamente qualquer ponto atacado, e fechar
a ruptura da primeira linha. O sistema de defesa terrestre é reforçado com
apoio aéreo de helicópteros e aviões de combate.
Segundo a Frente POLISARIO, o desenho da estratégia marroquina
foi possível graças à assessoria técnica e ao apoio político e económico
brindado pelos Estados Unidos. A colaboração militar entre os EUA e Marrocos
intensificou-se depois de Hassan II ter atuado como mediador na aproximação entre
Israel e alguns países árabes, aproximação que culminou com a assinatura dos acordos
de Camp Davis em 1978.
Já em princípios de 1979, o Departamento de Estado autorizou
a venda de vários helicópteros ao governo marroquino. Pouco depois concedeu-lhe
ajuda militar num montante multimilionário. Uma boa parte desses fundos foi
destinada à construção e equipamento dos muros defensivos. Graças a isso, o trono
alauita conseguiu afastar o espetro de uma eminente derrota.
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