As
mulheres saharauis, em geral, são conhecidas pela sua força e perseverança, mas
também por seu espírito livre dentro da sociedade do Sahara Ocidental. Durante
o conflito entre o Sahara Ocidental e Marrocos, as mulheres saharauis tornaram-se
a sua principal força.
Enquanto
os homens saharauis lutavam contra Marrocos, as mulheres ficaram para trás para
construir campos de refugiados no sul da Argélia. Hoje, as mulheres saharauis
continuam a ser um símbolo de força nos campos de refugiados, no Sahara
Ocidental e no resto do mundo. Há 10 mulheres saharauis que estão a ganhar
notoriedade a nível internacional, embora o mundo ainda não as conheça.
Nadira Luchaa Mohemad
Nadira
nasceu nos campos de refugiados mas viveu em Espanha a maior parte da sua vida.
Ela é a primeira atriz saharaui. Em 2011, foi escolhida como a protagonista para
o filme “Wilaya”, dirigido pelo diretor espanhol Pedro Pérez Rosado.
O
filme recebeu vários prémios internacionais. Nadira foi nomeada para a
distinção de melhor atriz no Film Festival do Abdu Dhabi em 2011. Atualmente,
Nadira prossegue a sua carreira na Espanha.
Aziza Brahim
Ainda
muito jovem, Aziza recebeu uma bolsa para frequentar a escola em Cuba, onde
passou a maior parte da sua vida. Depois de terminar os seus estudos, voltou
aos campos de refugiados, onde começou a sua carreira musical. A música de
Aziza é conhecida pela sua mistura de música tradicional africana, blues, de
rock, juntamente com jazz latino espanhol.
Em
2009, foi a finalista do Freedom to Create Prize; o prémio é dedicado ao poder
da arte para combater a opressão e a quebrar estereótipos na sociedade global.
Em 2012, Aziza foi premiada no Festival de Cinema de Málaga pelo seu papel e pela
interpretação da trilha sonora original Biznaga, no filme “Wilaya”. Seu novo
álbum Soutak (Vossa Voz) foi lançado em fevereiro de 2014.
Al-Kadra
Al-Kadra
é avó de Aziza Brahim. É conhecida pela sua poesia, que tem sido símbolo de
resistência contra a ocupação marroquina e de mobilização das mulheres nos
campos de refugiados. Em 2012, teve uma intervenção de destaque na canal de TV Al-Jazeera
na série de documentários Artscape: Poetas de protesto. A sua poesia e os seus versos
continuam a inspirar não só a população saharaui, mas também artistas e poetas por
todo o lado. Em numerosas ocasiões, artistas de diferentes lugares visitaram os
acampamentos para trabalhar com Al-Kadra na composição de diferentes poesias
que têm sido utilizadas em diversos festivais e eventos que têm tido lugar nos
campos de refugiados.
Al-Kadra
continua a ser uma fonte de inspiração e um símbolo de resistência e liberdade para
os Saharauis nos campos de refugiados e um pouco por todo o mundo.
Senia Bachir Abderhaman
Nascida
nos campos de refugiados, Senia, ainda muito muito nova, frequentou escolas-internato
em diferentes cidades da Argélia. Foi a primeira jovem saharaui a quem foi
atribuída uma bolsa global para frequentar o Red Cross United World College, na
Noruega, fundado pelo ex-rainha da Jordânia Nor. Ao terminar os seus estudos na
World College United, ganhou outra bolsa de estudos no Mount Holyoke College,
nos EUA, tornando-se a primeira mulher saharaui a concluir os estudos naquela prestigiada
faculdade.
Lá,
recebeu o prémio McCulloch Center Global Engagement, pelo seu excecional
compromisso na consciencialização sobre a questão do Sahara Ocidental. A
experiência de Senia nos campos de refugiados e a sua história tem merecido destaque
no website do Committee for Refugees and Immigration dos EUA, bem como em
diferentes periódicos e revistas sobre temas africanos.
A
educação e ativismo de Senia têm-na levado a lugares como as Nações Unidas e
países como a Noruega, Alemanha, Suécia, EUA e Argélia. Atualmente, é frequenta a pós-graduação do mestrado de Saúde
Internacional na Universidade de Oslo, Noruega.
Sultana Jaya
Sultana
é conhecida por seu ativismo pelos direitos humanos, mas principalmente notabilizou-se
durante os protestos dos estudantes saharauis que tiveram lugar em Marraquexe,
em 2007, quando centenas de estudantes saharauis protestaram contra o
tratamento diário de que eram alvo por parte de professores e polícias.
Foi
então presa pelas forças de segurança de Marrocos e levada para interrogatório,
onde foi exposta a diferentes métodos de tortura, durante os quais perdeu um dos
seus olhos. Como a sua história foi divulgada na Internet, tornou-se de
imediato um símbolo da resistência saharaui contra a ocupação e as violações
dos direitos humanos por parte de Marrocos.
Vários
poetas e cantores saharauis têm escrito poemas e canções sobre a sua
experiência e testemunho. Esteve em Espanha onde foi sujeita a uma delicada cirurgia
ocular. Desde então, recebeu muitos prémios de direitos humanos, continua a participar
em diferentes conferências e prossegue o seu ativismo contra a ocupação
marroquina.
Rabab Amaidan
Nascida
no Sahara Ocidental, as experiências de Rabab sob ocupação marroquina não foram
nada agradáveis. Devido ao seu ativismo, a sua família vive sob vigilância
constante por parte das autoridades marroquinas. Em 2006, seu irmão foi detido
e preso pela segurança de Marrocos.
Na
altura, ela tornou-se a voz pela liberação de seu irmão. Devido às ameaças que
estava recebendo por parte dos serviços secretos de Marrocos, teve que partir
para a Suécia, onde lhe foi concedido asilo, tornando-se o primeiro saharaui a
quem concedido asilo político. Rabab e a sua família continuam a lutar na defesa
da autodeterminação nacional e contra as violações dos direitos humanos no
Sahara Ocidental.
Asria Mohamed
Asria
viveu a maior parte da sua vida nos campos de refugiados. No entanto, ela é conhecida
como uma das mais promissoras mulheres jornalistas e escritoras saharauis
depois de ter completado seus estudos de Jornalismo e Comunicação na
Universidade de Alarbi Ben Mheidy, na Argélia. Tornou-se, então, uma das
principais vozes femininas na Rádio e Televisão Saharaui como apresentador e
produtora.
Em
2010, foi escolhida para fazer parte do programa Peace Corps para ensinar árabe
no Red Cross Nordic United World College, na Noruega. Em 2011, o seu primeiro
livro “Between the Strong Sand and White Snow Lives My Hope for A Free Sahara”
foi publicado pela Associação das Nações Unidas da Noruega. Atualmente, está
estudando no programa de mestrado em Estudos de Comunicação na Universidade de
Oslo, na Noruega, e a trabalhar no seu segundo livro.
Aminatu Haidar
Aminatu
é conhecida como a 'Ghandi saharaui" tendo-se tornado conhecida depois de
ter sido libertada de uma prisão secreta de Marrocos, onde estava detida há cerca
de 12 anos. Devido à sua luta em defesa da não-violência contra Marrocos, foi-lhe
recusada a entrada no Sahara Ocidental, onde nasceu e onde seus filhos vivem. O
motivo deveu-se ao ter recusado escrever "marroquina", como nacionalidade,
tendo sido então expulsa de volta para o aeroporto Lanzorate, nas Ilhas
Canárias, onde encetou um mês de greve de fome. A sua greve atraiu não só os Media
internacionais, mas também diferentes organizações e governos de todo o mundo.
Em
2008, foi agraciada nos Estados Unidos com o prémio Robert F. Kennedy Center
for Justice & Human Rights, a que se juntam muitas outras dezenas de prémios
em reconhecimento do seu ativismo e coragem. Aminatu continua a defender os
direitos dos saharauis no Sahara Ocidental e em outros lugares.
Suilma Ali
Suilma
Ali é uma compositora e cantora hispano-saharaui, que escreve as suas canções muitas
vezes em espanhol. No entanto, o seu estilo de música afasta-se da forma
tradicional que os saharauis têm conhecido; introduzindo algo novo e moderno.
Tem
participado em muitos programas, como o Sandblast Festival na Inglaterra. Tem também
colaborado com diversos cantores de diferentes partes do mundo e, recentemente,
foi escolhida para cantar uma de suas canções no The Voice, em Espanha.
Mariam Hassan
Conhecida
como a "Voz do Sahara", a sua carreira musical foi lançada durante o
conflito entre o Sahara Ocidental e Marrocos nos anos 70. Desde então, Mariem
tem sido a voz que fala pelos saharauis. Através da sua música, ela foi capaz
de sensibilizar e realizar concertos em diferentes partes do mundo.
Em
2007, atraiu a atenção da editora espanhola Nubenegra, onde lançou o seu álbum
de estreia “Deseo”, após o que lhe foi diagnosticado um cancro de mama. No
entanto, a sua doença e o lançamento do seu álbum não só inspiraram milhares de
pessoas nos campos de refugiados e no Sahara Ocidental, como também em Espanha,
onde reside atualmente. Mariam lançou o seu mais recente álbum "El Aiun
sob fogo", em homenagem aos protestos que ocorreram no Sahara Ocidental, e
em particular na capital do território ocupado.
Autora:
Agaila Abba. Saharaui jornalista freelance
e escritora vocacionada em temas relacionados com o norte de África e do Médio
Oriente.