Paris (AFP) - Um jornalista marroquino, Omar Brouksy, publicou esta semana
em França um livro extremamente crítico relativamente ao rei de Marrocos Mohamed
VI, colocando-se firmemente na esteira do escritor francês Gilles Perrault,
autor em 1990 do retumbante "Nosso Amigo o Rei."
"Mohammed VI derrière les masques" (edições Nouveau Monde) tem
como subtítulo "O Filho do Nosso Amigo", em referência ao livro de
Gilles Perrault, que de resto assina o prefácio. Consagrado a Hassan II e
revelando à luz do dia a repressão aos opositores durante os "anos de
chumbo", "Nosso Amigo o Rei" causou uma das piores crises da
história das relações franco-marroquinas.
Desta vez, porém, é um jornalista marroquino, e não um autor francês, que
pega na escrita para traçar uma avaliação muito rigorosa dos primeiros 15 anos
do reinado de Mohamed VI, que subiu ao trono em 1999 após a morte de seu pai
Hassan II.
O livro contém um retrato do rei, abordando temas muito pessoais, como a aparente
timidez ou a sua saúde, e a crítica política da governança de Marrocos, marcada,
segundo Omar Brouksy, pela extrema concentração do poder político e económico nas
mãos do rei e de alguns dos seus amigos mais próximos.
O rei de Marrocos Mohamed VI saúda a multidão diante do palácio real durante a cerimónia que assinalou o 15.º aniversário do seu acesso ao trono. |
"O leitor pouco familiarizado com as realidades marroquinas vai
descobrir, com espanto, que o poder, mais do que nunca concentrado no Palácio
Real, com os altos funcionários e os próprios ministros reduzidos ao papel de meros
figurantes, é realmente exercido pelo rei e por uma dúzia dos seus amigos",
escreve Gilles Perrault no seu prefácio. Em sua opinião, o livro dá "a
sentença de morte às esperanças que o novo reino tinha suscitado há já 15
anos."
Omar Brouksy confessa a sua deceção pelo facto do jovem soberano não ter
seguido o exemplo de Juan Carlos de Espanha que, tendo herdado todos os poderes
do General Franco, transformou o seu país numa monarquia constitucional.
Ele lamenta também que a primavera árabe, que chegou a Marrocos com manifestações
de escala muito menor do que em alguns de seus vizinhos, não tenha gerado em
2011 senão "mini-reformas", sem real impacto sobre o sistema político
do país.
Ele dedica também grande atenção à descrição dos mecanismos pelos quais,
segundo ele, o controle da economia e das grandes empresas do país é exercido a
partir do Palácio Real.
Omar Brouksy, que já trabalhou em meios de comunicação marroquinos e foi
um dos jornalistas da delegação da agência France Presse em Rabat de dezembro
de 2009 a agosto de 2014, reconhece também que "uma grande parte da
sociedade marroquina" satisfaz-se com o status quo e não aspira necessariamente a uma mudança, como o do
modelo espanhol.
As autoridades marroquinas, até agora, não responderam formalmente ao
lançamento deste livro.
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