quarta-feira, 24 de setembro de 2014

"Mohammed VI derrière les masques": um livro muito crítico de Omar Brouksy



Paris (AFP) - Um jornalista marroquino, Omar Brouksy, publicou esta semana em França um livro extremamente crítico relativamente ao rei de Marrocos Mohamed VI, colocando-se firmemente na esteira do escritor francês Gilles Perrault, autor em 1990 do retumbante "Nosso Amigo o Rei."

"Mohammed VI derrière les masques" (edições Nouveau Monde) tem como subtítulo "O Filho do Nosso Amigo", em referência ao livro de Gilles Perrault, que de resto assina o prefácio. Consagrado a Hassan II e revelando à luz do dia a repressão aos opositores durante os "anos de chumbo", "Nosso Amigo o Rei" causou uma das piores crises da história das relações franco-marroquinas.

Desta vez, porém, é um jornalista marroquino, e não um autor francês, que pega na escrita para traçar uma avaliação muito rigorosa dos primeiros 15 anos do reinado de Mohamed VI, que subiu ao trono em 1999 após a morte de seu pai Hassan II.

O livro contém um retrato do rei, abordando temas muito pessoais, como a aparente timidez ou a sua saúde, e a crítica política da governança de Marrocos, marcada, segundo Omar Brouksy, pela extrema concentração do poder político e económico nas mãos do rei e de alguns dos seus amigos mais próximos.

O rei de Marrocos Mohamed VI saúda a multidão diante do palácio real durante a cerimónia que assinalou o 15.º aniversário do seu acesso ao trono.

"O leitor pouco familiarizado com as realidades marroquinas vai descobrir, com espanto, que o poder, mais do que nunca concentrado no Palácio Real, com os altos funcionários e os próprios ministros reduzidos ao papel de meros figurantes, é realmente exercido pelo rei e por uma dúzia dos seus amigos", escreve Gilles Perrault no seu prefácio. Em sua opinião, o livro dá "a sentença de morte às esperanças que o novo reino tinha suscitado há já 15 anos."

Omar Brouksy confessa a sua deceção pelo facto do jovem soberano não ter seguido o exemplo de Juan Carlos de Espanha que, tendo herdado todos os poderes do General Franco, transformou o seu país numa monarquia constitucional.

Ele lamenta também que a primavera árabe, que chegou a Marrocos com manifestações de escala muito menor do que em alguns de seus vizinhos, não tenha gerado em 2011 senão "mini-reformas", sem real impacto sobre o sistema político do país.

Ele dedica também grande atenção à descrição dos mecanismos pelos quais, segundo ele, o controle da economia e das grandes empresas do país é exercido a partir do Palácio Real.

Omar Brouksy, que já trabalhou em meios de comunicação marroquinos e foi um dos jornalistas da delegação da agência France Presse em Rabat de dezembro de 2009 a agosto de 2014, reconhece também que "uma grande parte da sociedade marroquina" satisfaz-se com o status quo e não aspira necessariamente a uma mudança, como o do modelo espanhol.

As autoridades marroquinas, até agora, não responderam formalmente ao lançamento deste livro.

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