O fio das investigações do massacre de
11 de Março (11-M) de 2004, em Madrid, e da recente chacina de 13 de Novembro
(13-N), em Paris, acaba por passar sempre por… Marrocos.
Estranha coincidência, reconheçamos!
A ligação não tem a ver apenas com o
facto da esmagadora maioria dos autores de tão terríveis acções serem de
naturalidade ou ascendência marroquina. Não, a importância da conexão prende-se,
sobretudo, com o maior problema com que o regime marroquino se debate há
décadas, tanto a nível nacional como internacional, o qual, em última
instância, poderá mesmo vir a pôr em causa a própria monarquia. Falamos do
Sahara Ocidental.
Especulação, dirão? Talvez não. Essa,
pelo menos, é a opinião de alguns jornalistas e analistas que
dedicam muito do seu tempo ao tema do terrorismo magrebino e, seguramente, de
estudiosos e operacionais de diferentes serviços secretos.
11-M:
o ódio a Aznar e o período eleitoral de 2004
O 11-M ocorre em pleno clima eleitoral
em Espanha e era conhecido o ódio que o regime de Rabat votava a Aznar,
principalmente depois do vexame passado na confrontação entre os dois países
pelo controlo da ilha de Perejil (2002). Rabat temia também a eventual evolução
do posicionamento político do Estado espanhol em relação ao conflito do Sahara
Ocidental na cena internacional.
No caso da ligação com os acontecimentos
trágicos ocorridos este mês em Paris, o equacionamento de eventual cumplicidade
com os autores dos atentados pode parecer ainda mais especulativa… Vejamos.
Afinal, não tem sido a França a potência
que sempre apoiou o regime marroquino — desde a preparação e a consumação da
ocupação da antiga colónia espanhola até à actualidade — em todos os fóruns internacionais e, em
particular, na ONU, impedindo a realização do Referendo de Autodeterminação
para o qual foi criada a missão das Nações (MINURSO) em 1991? Não pode ser mais
verdade… É facto. Mas também não deixa de ser verdade que, com a chegada de
François Hollande ao Eliseu, as coisas são bem diferentes nas relações entre os
dois países, se comparadas com os tempos despreocupados e “festivos” de Chirac
e Sarkozy. E os últimos anos têm sido annus
horribilis nas relações entre Paris e regime do Makhzen, de que a enxurrada de documentos secretos de Marrocos
divulgados pelo “misterioso” Chris Coleman (que alguns afirmam ser uma
marioneta dos próprios serviços secretos franceses) foi o ponto, talvez mais
alto.
Na sequência dos atentados de Paris, a
imprensa francesa dava conta do afã das sua congénere marroquina em noticiar a
pronta intervenção de Sua Majesta e das Secretas marroquinas, numa eficiência passível
mesmo de suplantar o Mossad israelita…A “inteligência” marroquina deu mostras
de um conhecimento surpreendente sobre as movimentações do alegado «cérebro» da
operação…
France 24 : Dès mercredi matin, le site
marocain Le360.ma, l’affirmait : "Ce sont les services de
renseignements marocains qui ont réussi à localiser les terroristes retranchés
dans un appartement de Saint-Denis, apprend
Le360 de source sûre. " Le site précisait : "Au lendemain des
attentats qui avaient ensanglanté la capitale française, et sur demande des
autorités françaises et belges, des officiers des renseignements marocains
s’étaient rendus à Paris et Bruxelles pour aider dans les investigations en
cours. Et déjà cette collaboration donne ses fruits avec l’opération menée ce
(mercredi) matin."
Abdelhamid Abaaoud, o alegado «cérebro» dos atentados de Paris. Os Serviços Secretos marroquinos tinham uma surpreendente informação sobre as movimentações do terrorista. |
Hollande logo se apressou a receber Sua
Majestade Mohamed VI, agradecendo a sua prontíssima intervenção, quando
anteriormente, algumas vezes, muitos meses o fez esperar pela tão desejada
audiência no Palácio do Eliseu.
Le
président de la République a reçu aujourd’hui Sa Majesté Mohammed VI, Roi du
Maroc.
Le
président de la République a remercié le Roi pour l’assistance efficace
apportée par le Maroc à la suite des attentats de vendredi dernier. Les deux
chefs d’Etat ont marqué la détermination partagée de la France et du Maroc à
mener ensemble le combat contre le terrorisme et la radicalisation et à œuvrer
à la résolution des crises régionales et internationales.
Eliseu -
20 de Novembro 2015
Marrocos teme que a França afrouxe o seu
apoio internacional à ocupação do Sahara Ocidental, num momento que a questão
parece não poder se arrastar mais no status quo em que caiu. Seja por
pressões na ONU e no Conselho de Segurança, seja por que os saharauis não
parecem dispostos a esperar e a contemporizar muito mais com o impasse.
O futuro trará novos desenvolvimentos e,
seguramente, novas informações.
Autor: ABS
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