sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Dois símbolos de Gdeim Izik





Deida Uld Esid, ancião cuja idade se perde na longa noite da memória beduina. Nayem Elgarhi, 14 anos. Várias gerações os separavam. Mas que importa o ano de nascimento quando se trata de defender a dignidade e o direito de um povo a existir? Deida e Nayem. Os dois, saharauis de El Aaiún ocupada. Os dois, tão diferentes mas tão iguais, decidiram abandonar a espera e passar à ação direta. Fizeram parte daque vaga em que milhares de saharauis denunciam em uníssono a sua situação face à comunidade internacional.

Deida e Nayem deixaram a sua não existência diária na cidade ocupada, superaram a raiva e o seu tédio para renovar o desejo de lutar contra a opressão marroquina.

Deida, um ancião, e Nayem, quase uma criança… Várias gerações os separavam pero isso não significa nada. Nos seus olhos adivinhava-se a mesma chama, a ilusão de vir a unir todos os saharauis na sua terra independente e livre. Os olhos cansados de Deida continuavam a vaguear com curiosidade e otimismo o que estava por vir. Os olhos de Nayem, curiosos e um pouco assustados, restava-lhes já tão pouco tempo…

Deida e Nayem, dois símbolos de Gdeim Izik. Duas atitudes, duas decisões, duas esperanças, duas certezas. O presente encarnado num velhote sábio e o passado retido numa criança que já não será.

O ancião saudava a vitória, cercado pelos esbirros marroquinos. A criança só queria provar, junto com os seus companheiros, o sabor de se se sentir livre na sua própria terra.

O mal levou  Nayem. Um golpe de brutalidade em forma de balas condenou-o a não ser uma criança com toda a vida pela frente. A passagem dos anos levou-nos Deida.

Dois símbolos que sempre iluminarão o povo saharaui. Uma criança eterne e um velhinho luminoso e livre.

À memória de Deida Uld Esid, falecido a 24 de Janeiro de 2018 e de Elgarhi Nayem, assassinado em 24 de Outubro de 2010.

Fonte: Haz lo que debas / Por Conx Moya



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