sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Cabo Verde formaliza criação de embaixada em Marrocos e consulado no Sahara Ocidental ocupado

 

Os dirigentes implicados na decisão

A decisão tomada ontem pelo Governo de Cabo Verde é merecedora da mais viva repulsa e indignação. Ela constitui um atentado ao Direito Internacional, à Carta das Nações Unidas e ao passado histórico anti-colonialista do povo cabo-verdiano e aos fundadores daquele Estado-Arquipélago. Voltaremos a este tema.


Esta o texto divulgado ontem pela agência noticiosa LUSA:

 O Governo de Cabo Verde criou formalmente a embaixada do arquipélago em Marrocos, na capital Rabat, e um consulado em Dakhla, no sul do país [nota: não! No sul do território ocupado do Sahara Ocidental] para incrementar as relações bilaterais, conforme resolução hoje publicada.

Num decreto-lei aprovado em Conselho de Ministros e promulgado pelo Presidente da República, José Maria Neves, o Governo liderado por Ulisses Correia e Silva recorda que Cabo Verde e Marrocos estabeleceram relações diplomáticas em 1986, "com subsequentes ações de cooperação que resultaram em ganhos palpáveis em setores importantes de atividades".

"Quais sejam, por exemplo, a formação de quadros que tem sido a área de maior concentração da cooperação, transportes aéreos, água e eletricidade, histórico-cultural", lê-se.

Entretanto, ambos os governos "estão cientes das enormes potencialidades existentes, sobretudo nas esferas económica, político-diplomáticas, suscetíveis de catapultarem as relações bilaterais a um patamar muito superior, tendo, por esse motivo, desencadeado, nos últimos tempos, um conjunto de iniciativas estratégicas para o cumprimento desse desiderato".

"Entre as iniciativas atrás referidas está a redefinição da cobertura diplomática e consular de Cabo Verde no território marroquino e vice-versa, mediante criação das representações diplomáticas e consulares residentes num território e noutro", acrescenta o decreto-lei, que formaliza a "instituição de uma representação diplomática cabo-verdiana em Rabat, cidade capital marroquina e de uma representação consular em Dakhla na região sul de Marrocos".

O Governo cabo-verdiano anunciou no final de julho que estava a estudar a criação de novas embaixadas em zonas estratégicas para o arquipélago, bem como a instituição de embaixadores para determinados temas, e pretende alargar a extensão da jurisdição das atuais missões diplomáticas.

"É um exercício justamente para ver em que medida é que poderemos otimizar a eficácia das missões diplomáticas e futuras outras, dependendo do interesse e da visão que nós temos com a política externa, no sentido também de abrir ou não outras embaixadas em diferentes continentes", explicou a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Cabo Verde, Miryan Vieira.

O tema, segundo a governante, foi abordado na reunião do Conselho do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Integração Regional, que decorreu em 26 de julho, na cidade da Praia.

"Esta análise é basicamente o diagnóstico daquilo que nós já temos e a partir daí perspetivar a abertura ou não de outras embaixadas. Mas a curto prazo, o que nós vamos fazer é a extensão da jurisdição das atuais embaixadas, a fim de otimizar a sua atuação junto de outros países com os quais Cabo Verde tenciona ter parcerias estratégicas", acrescentou.

Cabo Verde tem atualmente 21 representações diplomáticas e postos consulares, sendo 16 embaixadas em diferentes continentes, duas missões permanentes e três consulados de carreira ou consulados gerais.

O primeiro passo deste processo passa por, a partir das estruturas atuais, "ver como estender a jurisdição das referidas missões diplomáticas em outros países" e só depois "eventualmente a abertura de outras missões diplomáticas".

"Não estamos a pensar, a curto prazo, fazer nenhum encerramento das embaixadas, mas basicamente este primeiro exercício é de ter efetivamente uma perspetiva para a extensão da jurisdição da cobertura das atuais embaixadas que nós temos e de ver, também de acordo com a prioridade a ser definida pelo Governo, a abertura ou reabertura de outras embaixadas", disse ainda.

De acordo com a secretária de Estado, o "exercício" em curso é de avaliar a atual rede diplomática, mas o "fator orçamental é algo a ter em conta" igualmente, sobretudo face à crise económica que ainda afeta o país.

"O que nós estamos a fazer nesse exercício, sobretudo as propostas que vão sair, é o equilíbrio entre a disponibilidade orçamental e, obviamente, os interesses do país. Porque para se ter uma diplomacia ativa há que também ter instrumentos para a efetiva realização da diplomacia. Isso passa, obviamente, pelas embaixadas e pelas missões diplomáticas que Cabo Verde tem no exterior", disse.

"Mas tudo isso são questões que serão devidamente ponderadas e qualquer decisão que se venha a tomar vai ser em concertação, obviamente, com o Ministério das Finanças, com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e outros departamentos do Governo", acrescentou a secretária de Estado.

PVJ // LFS

Lusa/Fim

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