sábado, 31 de agosto de 2024

Petição a Lula por um posicionamento distinto do Brasil sobre o Sahara ocidental

O presidente Luís Inácio da Silva (Lula)

29 de Agosto de 2024 - AbrilAbril

Mais de uma centena de personalidades, sobretudo latino-americanas, subscreveram um documento em que se pede ao presidente brasileiro que «corrija» o alinhamento do seu país com Marrocos.

Na petição, lançada este mês e intitulada «Comunicado Internacional pela autodeterminação e independência do Sahara Ocidental», os signatários afirmam ter tomado conhecimento, «com grande surpresa», de «um comunicado conjunto subscrito pelas chancelarias do Brasil e de Marrocos por ocasião da visita do ministro Mauro Vieira a Rabat em 7 de Junho de 2024».

Nesse texto, «o chefe da diplomacia brasileira anuncia, de maneira surpreendente, um grave alinhamento sobre a posição de Marrocos no conflito de descolonização pendente do Sahara Ocidental», denunciam, considerando que se trata de um posicionamento «injust[o] e insustentável tanto juridicamente e politicamente como moralmente».

Com base no Direito Internacional, os signatários afirmam que a chamada comunidade internacional (ONU, União Africana, Movimento dos Não Alinhados – MNOAL, Tribunal Internacional de Justiça, Tribunal Africano de Direitos do Homem e dos Povos e muitas outras instituições) não reconhece a Marrocos «qualquer soberania sobre o Sahara Ocidental», destacando o facto de que, no «seu ditame de 1975, o Tribunal Internacional de Justiça confirmou que o Sahara Ocidental nunca foi parte de Marrocos antes da colonização espanhola, em 1884, e não teve nenhum laço de soberania entre os dois».

Lembram ainda, entre outros aspectos, que desde 1963 «a questão do Sahara Ocidental é qualificada como questão de descolonização, um território não autónomo, e o seu povo é titular do direito à autodeterminação e à independência».

Além disso, afirmam, «Marrocos bloqueou, desde 1991, a organização do Referendo de Autodeterminação previsto pelos Acordos firmados entre Marrocos e a Frente Polisario, sob os auspícios da ONU e da Organização da União Africana, após 16 anos de guerra».

 

Apoio do Brasil a Marrocos opõe-se à legalidade internacional

Do ponto de vista político, consideram que «um apoio do Brasil a Marrocos, um regime monárquico de corte feudal, opressor, corrupto, agressor e violador dos direitos humanos, é diametralmente oposto à legalidade internacional e à natureza política de um país democrático e com um governo progressista como o que tem e representa o Brasil».

Sublinham ainda que se trata de «um gesto totalmente contrário à orientação e linha política oficial conhecida do companheiro presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu partido, o Partido dos Trabalhadores».

Já moralmente, recordam que as grandes organizações de defesa dos direitos humanos continuam a exigir a Marrocos, mas sem resultado, «que ponha fim à sua ocupação ilegal do Sahara Ocidental e à sua grave e sistemática política de repressão contra a população saharaui nos territórios sob ocupação, que inclui crimes de guerra e contra a humanidade».

 

Pedido de rectificação da posição firmada pelo ministro Vieira

Neste sentido e recordando «o apoio tradicional e de princípio dos partidos democráticos, de esquerda e progressistas e forças sociais da América Latina e das Caraíbas às lutas de libertação contra o colonialismo e o neocolonialismo, contra o apartheid e a ocupação estrangeira», os signatários pedem a Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores que intervenham «para rectificar a posição subscrita pelo ministro Vieira com o ministro do ocupante marroquino», ao mesmo tempo que solicitam o estabelecimento de relações diplomáticas com a República Saharaui.

«A causa saharaui que encabeça a Frente Polisario e a República Árabe Saharaui Democrática – RASD, país fundador e integrante da União Africana, é uma causa de justiça e autodeterminação e de descolonização pendente», declara o texto divulgado pela agência Sahara Press Service (SPS).

Entre os signatários, contam-se personalidades a título individual e representantes de organizações do Brasil, Venezuela, Paraguai, México, Uruguai, Argentina, Costa Rica, Guatemala e Peru. Também das Honduras, do Chile, de Porto Rico, El Salvador, Bolívia, Cuba e Espanha.

Sahara Ocidental. Uma manobra política arriscada do Presidente Macron

 

Rabat, 15 de novembro de 2018. O rei marroquino Mohamed VI (à esquerda) cumprimenta o presidente francês Emmanuel Macron (à direita), que pisca o olho, ao sair da estação após a inauguração de uma linha de alta velocidade.
CHRISTOPHE ARCHAMBAULT / AFP / POOL


Ao afirmar que “o presente e o futuro do Sahara Ocidental se inscrevem no quadro da soberania marroquina”, o Presidente Emmanuel Macron arrisca uma rutura com a Argélia, com o único objetivo de apaziguar a direita e a extrema-direita francesas.

Autor: Jean-Pierre Sereni(*) - 29 agosto 2024 - OrientXXI


Estará o Sahara Ocidental tão longe do Palácio Bourbon como habitualmente se imagina? Podemos interrogar-nos sobre esta proximidade inesperada, após uma das raras intervenções políticas estivais de Emmanuel Macron, para além das suas efusões regulares com os medalhados franceses nos Jogos Olímpicos.

A 30 de julho, três semanas após a segunda volta das eleições legislativas e a chegada de uma Câmara dos Deputados dividida em três grandes blocos (Macronista, Nouveau Front Populaire, Rassemblement National), o Presidente da República escreveu uma carta ao Rei de Marrocos, Mohamed VI, por ocasião da Festa do Trono, na qual se alinhava sem grandes nuances com a posição cherifiana sobre a resolução da questão saharaui, pendente há quase cinquenta anos.

 

«Le présent et l’avenir du Sahara occidental s’inscrivent dans le cadre de la souveraineté marocaine. Aussi, je Vous affirme l’intangibilité de la position française sur cet enjeu de sécurité nationale pour Votre Royaume. La France entend agir en cohérence avec cette position à titre national et au niveau international. Pour la France, l’autonomie sous souveraineté marocaine est le cadre dans lequel cette question doit être résolue. Notre soutien au plan d’autonomie proposé par le Maroc en 2007 est clair et constant.»

 

Um referendo de autodeterminação esquecido

A resolução das Nações Unidas, segundo a qual os habitantes da região devem ser consultados para decidir o seu futuro, foi esquecida. Enquanto território não autónomo, o Sahara Ocidental continua, em princípio, a ser objeto de um referendo de autodeterminação.

Que impacto terá a carta presidencial? Provavelmente nenhum. No terreno, Marrocos detém três quartos do país e os raros actos de guerra da Frente Polisario, apoiada à distância desde 1977 pela Argélia, são incapazes de pôr em causa o status quo. As Nações Unidas continuam empenhadas na autodeterminação do Sahara, como reiterou o seu porta-voz no dia seguinte à publicação da carta presidencial. No plano diplomático, dois dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a China e a Rússia, poderão sempre opor-se a qualquer inversão de posição.

O seu único efeito previsível é uma nova crise franco-argelina, que ocorre ao mesmo tempo que uma lenta erosão do soft power francês nos seus três antigos departamentos ultramarinos. No mercado argelino, a China e a Turquia ultrapassaram os exportadores franceses. O terceiro lugar é disputado ferozmente pela Itália da primeira-ministra Giorgia Meloni, que pretende suplantar Paris em todo o Norte de África. A ENI, a grande empresa transalpina, apodera-se da parte de leão do gás natural argelino e os cereais russos desafiam cada vez mais a posição eminente dos cerealistas da região francesa de Beauce no fornecimento de trigo mole à Argélia, de onde provém o pão de cada dia de mais de 44 milhões de argelinos. Se a esperada visita a Paris do Presidente argelino Abdelmadjid Tebboune, que será sem dúvida reeleito em 7 de setembro de 2024 para um segundo mandato, for cancelada, será apenas a terceira ou quarta vez, mas a primeira quase rutura das relações diplomáticas desde 2020.

 

Satisfazer a direita

Porque é que o Presidente francês correu o risco de uma inevitável crise franco-argelina? Porquê pôr em perigo o grande projeto que tem vindo a desenvolver desde 2017, a reconciliação dos dois países com base numa história que foi conjuntamente revisitada e aceite pelas suas elites? Na realidade, tudo mudou desde 8 de julho. A sua principal frente já não é a Ucrânia, a União Europeia ou a Nova Caledónia, mas o resgate da política da oferta posta em prática sob François Hollande e intensificada sob Emmanuel Macron. Resume-se a apoiar fortemente as empresas e os seus acionistas, mesmo que isso signifique racionar o Estado social (escolas, hospitais, orçamentos sociais), reduzindo as suas receitas e diminuindo drasticamente as suas ambições. A maioria dos eleitores condenou estas escolhas e a Assembleia Nacional tripartida não pode continuar a fazê-lo, mas o Palácio do Eliseu espera que o reforço dos 47 deputados republicanos, somados aos 166 deputados dos três grupos do Ensemble, e a compreensão dos 126 deputados de extrema-direita garantam uma aparência de maioria e que, assim, possa salvar o essencial do seu legado económico e financeiro, nomeadamente a última reforma das pensões.

Mais uma ilusão? Sem dúvida, mas a carta a Mohamed VI representa um novo gesto para conquistar a direita, que partilha a sua proximidade com a monarquia cherifiana e a sua hostilidade visceral em relação à Argélia, recordação de uma guerra colonial perdida, e a sua oposição de longa data à política pró-argelina do general de Gaulle, apoiada na altura pela extrema-esquerda. Atualmente, os gaullistas desapareceram como força parlamentar e os comunistas só têm 9 deputados (em 577). O resto da esquerda denuncia o autoritarismo do regime de Argel, que reprimiu o movimento popular Hirak e prendeu muitos jornalistas.

Os acordos de 1968 entre os dois países já tinham sido objeto de uma ofensiva em grande escala no final de 2023, que incluía o Rassemblement National, Les Républicains e Édouard Philippe, antigo primeiro-ministro do Presidente Macron. Concebido para facilitar a imigração económica e compensar a necessidade de mão de obra durante as Trente Glorieuses (1945-1974), o acordo previa a livre circulação entre os dois países para os cidadãos argelinos. Esvaziado do seu conteúdo ao longo dos anos, o texto já não tem grande influência nos fluxos migratórios; no entanto, a direita mobilizou-se para o revogar, permitindo-lhe alimentar as suas fantasias sobre a “invasão” do país. O governo de Gabriel Attal inscreveu imediatamente na ordem do dia a renegociação do acordo, um cartão vermelho para Argel devido ao seu valor simbólico. A realidade é mais prosaica: a última vantagem concedida aos argelinos é permitir que os seus estudantes em França se estabeleçam como comerciantes!


(*) - Journalista, antigo diretor do Nouvel Économiste e ex-redator chefe de l’Express. Autor de várias obras sobre o Magrebe, o Golfe, Energia e a V República francesa.


Encontro Brahim Ghali-António Guterres em Díli (Timor-Leste): Ratificado compromiso da ONU em alcançar uma solução para o conflito do Sahara Ocidental

 


Díli, Timor-Leste, 31/08/2024 - (SPS) - Durante a sua participação no 25º aniversário da organização do referendo de autodeterminação em Timor-Leste, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou ao Presidente da República Saharaui e Secretário-Geral da Frente POLISARIO, Brahim Ghali, o seu empenho em trabalhar por todos os meios para alcançar uma solução para o conflito do Sahara Ocidental, no quadro da aplicação das resoluções da ONU, a fim de permitir ao povo saharaui exercer o seu direito à autodeterminação.

O líder saharaui, que se reuniu com o SG da ONU, felicitou este último pela cidadania honorária que lhe foi concedida pelo povo e governo timorenses em reconhecimento dos seus esforços para completar o processo de descolonização de Timor-Leste, quando era Primeiro-Ministro de Portugal, então potênciua administrante até à consulta popular de 30 de agosto de 1999.

Brahim Ghali elogiou Guterres, mas também lhe lembrou que os casos do Sahara Ocidental e de Timor-Leste são de natureza jurídica semelhante, historicamente sincronizados e de génese semelhante, mas que o povo saharaui ainda espera pela oportunidade de desfrutar de um dia da democracia em que possam escolher livremente o seu próprio destino, como fez o povo timorense há vinte e cinco anos.

O líder saharaui sublinha mais uma vez a necessidade de a MINURSO (Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental) e a ONU assumirem a sua total responsabilidade de proteger os civis desarmados e pôr fim à pilhagem dos recursos naturais, uma vez que o Sahara Ocidental está sob a responsabilidade directa da organização e está pendente de um processo de descolonização.

O Sahara Ocidental, ocupado desde 1975 por Marrocos, apoiado pela França, é a última colónia em África pendente de descolonização. O mundo continua indiferente ao último território colonial de África, que espera que a ONU ponha fim ao processo de descolonização, como o fez com Timor-Leste.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Presidente Saharaui recebe homenagens especiais em Timor-Leste

 

O Presidente José Ramos-Horta homenageia Brahim Ghali

O líder saharaui, Brahim Ghali, recebeu homenagens especiais por parte do seu homólogo timorense, José Ramos-Horta, no final de um jantar oferecido na noite de quinta-feira pelo primeiro-ministro timorense , Xanana Gusmão.

Perante uma grande multidão de convidados do país, liderados pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, representantes de países, governos, missões diplomáticas e diversas organizações, e o convidado de honra, o Secretário-Geral das Nações Unidas, o primeiro-ministro Xanana Gusmão dirigiu uma saudação especial ao Presidente saharaui, agradecendo-lhe por ter vindo assistir pessoalmente às celebrações do 25.º aniversário da organização do referendo de autodeterminação, que conduziu à independência.

O Presidente Horta apresentou então o presidente saharaui da forma tradicional, acompanhado de vivas e aplausos, antes do evento terminar com actuações artísticas e fogos de artifício.

No primeiro dia da sua visita, o Presidente da República assistiu ao programa televisivo “The Ramos-Horta Show”, apresentado pelo Presidente timorense, que dedicou integralmente ao vigésimo quinto aniversário da organização do referendo de autodeterminação.

Os principais convidados da sessão foram o Primeiro-Ministro e líder histórico da resistência timorense, Xanana Gusmão, e o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, que desempenhou um papel importante na organização daquele referendo de autodeterminação, quando foi Primeiro-Ministro do Governo de Portugal, então potência administrante de Timor-Leste.


António Guterres (Secretário-Geral da ONU) e José Ramos-Horta (Presidente da República Democrática de Timor-Leste)
Créditos: Tatoli (Agência Noticiosa de Timor-Leste).
O Parlamento de Timor-Leste atribuiu a nacionalidade timorense a António Guterres.


Gusmão expressou a sua gratidão a todas as partes que contribuíram para o sucesso da consulta popular, em particular ao governo português e às Nações Unidas, que supervisionaram a organização do referendo, lembrando neste contexto que o povo do Sahara Ocidental ainda espera por a organização dessa consulta, que as Nações Unidas prometeram e com a qual se comprometeram.

O SG da ONU, António Guterres, ao abordar os conflitos existentes no mundo, afirmou que o povo saharaui, tal como o povo palestiniano, tem pleno direito à autodeterminação.

Timor-Leste: Líder saharaui encontra-se com Xanana Gusmão

 

Brahim Ghali e Xanana Gusmão

Dili, 29 de agosto de 2024 (SPS) - O Presidente da República Saharaui e secretário-geral da Frente POLISARIO,Brahim Gali, encontra-se em Timor-Leste desde quinta-feira para participar nas celebrações do 25.º aniversário do referendo para a independência de Timor-Leste, a convite do seu homólogo da República de Timor-Leste, o Presidente José Ramos Horta.

O líder saharaui foi recebido esta sexta-feira pelo Primeiro-Ministro da República Democrática de Timor-Leste, Xanana Gusmão. As duas partes trocaram pontos de vista sobre os últimos desenvolvimentos da questão saharaui e sobre as excelentes relações bilaterais e acções comuns.

No encontro, Xanana Gusmão sublinhou o forte apreço à causa saharaui, tanto para ele pessoalmente como para o povo timorense em geral, destacando as relações históricas entre os dois países e povos, sublinhando o forte apego e apoio continuado à luta do povo saharaui até que esta culmine na concretização dos seus legítimos objectivos de liberdade e independência.

Por seu lado, o Presidente saharaui agradeceu ao seu anfitrião o acolhimento caloroso, a solidariedade e o apoio, e felicitou-o por ocasião do 25.º aniversário da organização do referendo de autodeterminação, lembrando que o povo saharaui continua à espera de uma oportunidade semelhante, como um direito natural garantido pela Carta e pelas resoluções da ONU, tanto mais que a sua causa é muito semelhante à do povo de Timor-Leste, no sentido de que se trata de um processo de descolonização inacabado, devido à ocupação militar do seu território pelo Reino de Marrocos.

Xanana Gusmão é muito popular no seu país e altamente considerado no estrangeiro como um líder histórico da luta do povo timorense pela independência, tendo sido eleito o primeiro Presidente de Timor-Leste após a independência, sendo atualmente o quarto Primeiro-Ministro do país.

No final do encontro, o Presidente da República Saharui fez uma declaração aos meios de comunicação social timorenses e internacionais presentes, manifestando a sua satisfação pelo encontro com o Primeiro-Ministro timorense, descrevendo-o como cordial e franco.

Brahim Ghali reiterou também o seu apreço pelo convite que lhe foi dirigido pelo Presidente de Timor Leste, José Ramos Horta, para participar na comemoração do 25.º aniversário da organização do referendo de autodeterminação em Timor Leste.

O Presidente saharaui faz-se acompanhar nesta ocasião por Abdati Breika, conselheiro da Presidência, e Abba Malainin, embaixador da República saharaui em Timor Leste.

Recorde-se que Timor-Leste estabeleceu relações diplomáticas com a República Árabe Saharaui Democrática (RASD) desde 2002 e reconhece a Frente Polisario como representante legítimo do povo do Sahara Ocidental.

 

 

 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Brahim Ghali chega à capital timorense para participar no 25.º aniversário da organização do referendo de autodeterminação em Timor-Leste

 


Díli (Timor-Leste), 29 de agosto de 2024 (SPS) – A convite do seu homólogo da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, Brahim Ghali, Presidente da República Árabe Saharaui Democrática e Secretário-Geral da Frente POLISARIO, chegou hoje, quinta-feira, à capital do país, Díli, para participar nas celebrações da comemoração do vigésimo quinto aniversário da realização do referendo de autodeterminação em Timor-Leste.

No Aeroporto Internacional Nicolau Lobato, na capital, Díli, o Presidente Saharaui foi recebido por vários membros do governo timorense e entidades da sociedade civil, e recebido com honras por parte de uma força militar.

O povo de Timor-Leste comemora o vigésimo quinto aniversário da consulta popular que teve lugar a 30 de Agosto de 1999, depois de as duas partes, Timor-Leste e Indonésia, terem aceite o plano das Nações Unidas para organizar um referendo de autodeterminação, que levou à independência da antiga colónia portuguesa.

As celebrações comemorativas da consulta popular em Timor-Leste deverão testemunhar uma série de eventos e actividades, incluindo reuniões ao mais alto nível e visitas a vários locais relacionados com a luta do povo timorense pela independência, para culminar no evento oficial que será organizado pelo Parlamento timorense.

A República de Timor-Leste mantém relações diplomáticas com a República Saharaui desde 2002, tendo a embaixada saharaui sido oficialmente inaugurada em 2010, como uma extensão das fortes relações entre os dois povos durante a guerra de libertação de Timor-Leste.

O Presidente da República Saharaui está acompanhado por Abdati Brika, Conselheiro da Presidência, e Aba Maa El-Anein, Embaixador da República Saharaui em Timor-Leste.

Com o Presidente Ramos-Horta

Brahim Ghali foi recebido posteriormente pelo seu homólogo da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta.

Depois de ter escrito uma saudação especial no livro de visitas de honra, Ghali manifestou em primeiro lugar o seu agradecimento pelo amável convite que recebeu para participar nesta distinta ocasião, felicitando em nome do povo saharaui o seu homólogo timorense e desejando-lhe mais progressos  e prosperidades.


Brahim Gali e José Ramos-Horta


O Presidente da República manifestou ainda o seu agradecimento pelas posições de princípio e duradouras de apoio à luta do povo saharaui por parte de Timor-Leste, a todos os níveis, incluindo por parte do próprio Presidente do país ou do Primeiro-Ministro, Xanana Gusmão, em todos os fóruns e plataformas internacionais em que participam, como corporização de relações sólidas, reforçadas pela história comum de luta pela liberdade e independência.

Brahim Ghali fez também uma apresentação detalhada sobre os últimos desenvolvimentos da questão nacional, especialmente desde o reinício da luta armada, após o estado ocupante marroquino ter violado o acordo de cessar-fogo em 13 de novembro de 2020, destacando as graves violações dos direitos humanos e os ataques e apreensões flagrantes a que os cidadãos saharauis indefesos estão expostos no território ocupado das suas terras e a apreensão ou destruição dos seus bens, sob bloqueio de segurança e meios de comunicação, restrições e pilhagem de recursos naturais.

O Presidente Ramos-Horta reiterou a posição firme do seu país no apoio ao direito do povo saharaui à autodeterminação e independência.

O Presidente Horta fez ainda uma apresentação sobre os esforços deste jovem país nas áreas do desenvolvimento, construção institucional e perspectivas de trabalho futuro, reiterando neste contexto a sua determinação em consolidar as relações de amizade e cooperação entre a República de Timor-Leste e a República Saharaui.

A reunião contou com a presença do lado timorense do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e de vários conselheiros do presidente, enquanto do lado saharaui estiveram presentes Abdati Brika, conselheiro da Presidência, e Aba Maa El-Anein, embaixador da República Saharaui. (SPS).

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Milhares de imigrantes tentaram chegar a Ceuta a nado vindos de Marrocos

 


Milhares de migrantes, incluindo centenas de jovens, tentaram nos últimos dias nadar da costa de Marrocos até à cidade autónoma de Ceuta para escapar aos controlos fronteiriços, disseram as autoridades espanholas.

Vídeos transmitidos pelos meios de comunicação social espanhóis durante fim de semana mostram a polícia espanhola a interceptar migrantes na água à noite, no meio de um nevoeiro cerrado, mas também em plena luz do dia, lutando para separar os recém-chegados das multidões de banhistas.

Cristina Pérez, representante do Governo espanhol no enclave situado no continente africano, disse aos jornalistas na segunda-feira que desde 22 de agosto uma média de 700 pessoas tentaram atravessar a fronteira irregularmente por dia, com um pico de 1.500 tentativas no domingo.

Pérez não revelou quantas pessoas conseguiram chegar a Ceuta com sucesso, mas explicou que as autoridades tinham enviado de volta para Marrocos entre 150 a 200 pessoas por dia e agradeceu a “cooperação leal” das autoridades marroquinas.

Em 04 de agosto, 21 imigrantes marroquinos e argelinos, entre os quais nove menores, nadaram até Ceuta, partindo da costa de Castillejos, em Marrocos, para contornar o quebra-mar fronteiriço de Tarajal, aproveitando condições climatéricas favoráveis.

Ceuta e Melilla – dois pequenos territórios espanhóis no Norte de África, na costa do mar Mediterrâneo – são há muito alvo de migrantes e refugiados que procuram melhores vidas na Europa.

Muitos tentam escalar as vedações de arame farpado que circundam as cidades autónomas.

Devido à geografia, Espanha depende em grande parte da boa vontade de Marrocos para controlar as fronteiras e manter os migrantes afastados.

Em 2021, na sequência de uma disputa diplomática entre as duas nações, milhares de pessoas, incluindo muitas crianças não acompanhadas, afluíram a Ceuta em poucos dias, sobrecarregando as autoridades espanholas.

Embora Espanha e Marrocos tenham normalizado desde então as suas relações e trabalhado em conjunto para combater a migração irregular, as autoridades de Ceuta afirmam que estão novamente sob pressão este ano.

O enclave registou a chegada de 1.622 migrantes entre janeiro e meados de agosto, em comparação com apenas 620 no mesmo período do ano passado, de acordo com as estatísticas divulgadas pelo Ministério do Interior espanhol.

Em fevereiro, os residentes da cidade vizinha de Belyounech tentaram nadar até Ceuta depois de o Governo marroquino ter começado a demolir casas não autorizadas à beira-mar para dar lugar a novos empreendimentos.

Embora o número de migrantes que chegam a Ceuta represente apenas uma pequena fracção das mais de 31 mil chegadas irregulares a Espanha este ano, Pérez disse que o território de 18,5 quilómetros quadrados estava sob “extrema pressão migratória ”.

Lusa

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Terminam as férias de Verão das crianças saharauis em Itália

 


Roma (Itália), 22 de agosto de 2024 (SPS) - A estadia de Verão dos “Pequenos Embaixadores Saharauis para a Paz” chegou ao fim na quinta-feira, com a despedida pelo movimento de solidariedade italiano ao início da manhã no Aeroporto Internacional Leonardo da Vinci, em Roma.

A cerimónia de despedida foi marcada por grande emoção e solidariedade por parte dos membros do movimento de solidariedade em Itália, liderado pela ONG “Rete Sahrawi” e na presença da representante da Frente POLISARIO em Itália, Fatima Mahfud.

O trabalho extraordinário realizado durante estes dois meses pelo movimento de solidariedade nas actividades de lazer, culturais, políticas e nas visitas médicas que organizou foi um verdadeiro exemplo de solidariedade, apoio e amizade.

Graças à dedicação e ao esforço do movimento de solidariedade, as crianças saharauis não só desfrutaram de uma estadia cheia de afeto, como também levaram consigo memórias inestimáveis que refletem a humanidade e a generosidade com que foram recebidas.

Graças ao trabalho desenvolvido durante estes dois meses pelo movimento de solidariedade e pela representação da Frente POLISARIO, os laços entre os dois povos, o saharaui e o italiano, foram ainda mais reforçados, aumentando assim o apoio à causa legítima do povo saharaui.

É de salientar que, no quadro do projeto “Férias em Paz-Itália” deste ano, 126 crianças saharauis foram beneficiadas, assim como vinte e cinco (25) acompanhantes distribuídos pelas diferentes regiões italianas. (SPS)

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Fons Menorquí atribuiu 110 500 euros para melhorar a saúde infantil e a segurança alimentar nos campos de refugiados de Tindouf

 

Foto: Fons Menorquí de Cooperació (Esfons)

Palma, 22 ago (EFE).- O Fons Menorquí de Cooperació (Esfons) atribuiu 110.500 euros desde 2020 ao Programa Integral de Salud Infantil Saharaui (PISIS), tendo beneficiado cerca de 15.000 crianças com menos de cinco anos nos campos de refugiados de Tindouf, em colaboração com Amics del Poble Saharaui Illes Balears e Menorca.

Esta iniciativa contribuiu significativamente para a melhoria dos cuidados de saúde e da segurança alimentar da população saharaui, estimada em 173 600 pessoas, refere a organização em comunicado.

No primeiro ano do programa, 2020, o Fons Menorquí atribuiu 64 000 euros. Entre as acções mais importantes, destaca-se o envio de 30 kits de cozinha, 70.000 seringas para vacinação e material para tratamento da anemia.

Além disso, foram realizados 504 workshops de nutrição, nos quais participaram 4.800 mães, e foi oferecida formação telemática aos trabalhadores das 29 clínicas de saúde.

Durante 2021, o apoio da organização centrou-se na segurança alimentar com uma contribuição de 25.000 euros que permitiu a compra de mais de 12.000 quilos de alimentos, incluindo arroz e leguminosas.

Estes alimentos foram distribuídos a 1593 pessoas selecionadas com base na sua vulnerabilidade, e as reservas alimentares nos campos foram aumentadas com a distribuição de 24 246 rações adicionais.

Em 2022, Fons Menorquí investiu 21 500 euros para continuar a melhorar a saúde infantil, especialmente através da educação para a saúde. Foram realizados 259 workshops de nutrição infantil em 29 clínicas de saúde, envolvendo 2.270 mães de crianças com menos de dois anos de idade.

Uma parte dos fundos foi também utilizada para reforçar a gestão dos recursos humanos e a logística do Ministério da Saúde Pública saharaui, tendo sido financiados incentivos para 70 trabalhadores, na sua maioria mulheres.

Presidente da República Saharaui e SG da Frente POLISARIO escreve a António Guterres sobre a grave situação nas zonas ocupadas

 


Bir Lehlu (República Saharaui), 21 de agosto de 2024 (SPS) – O Presidente da República e Secretário-Geral da Frente POLISARIO, Brahim Ghali, dirigiu na terça-feira uma carta ao Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, chamando a sua atenção e a dos membros do Conselho de Segurança para “a grave situação nas zonas ocupadas saharauis, devido à contínua opressão e violência exercida por Marrocos, Estado ocupante, contra os civis saharauis”.

Ghali sublinhou “a política de terra queimada levada a cabo pelas autoridades de ocupação marroquinas, expropriando as terras pertencentes aos saharauis, destruindo as suas casas, queimando as suas tendas, minando os seus meios de subsistência, matando o seu gado e envenenando os seus poços, com o objetivo declarado de os desenraizar das suas casas e terras e de instalar mais colonos marroquinos e outros no território, no quadro de uma política intensiva de colonização cujo principal objetivo é alterar a composição demográfica do território e perpetuar a ocupação”.

Neste contexto, o Presidente da República e Secretário-Geral da Frente POLISARIO lembrou que “as autoridades de ocupação marroquinas realizaram uma campanha acelerada e intensiva de confisco de grandes áreas de terras saharauis, especialmente depois de Marrocos, o Estado ocupante, ter violado o cessar-fogo em 13 de novembro de 2020, onde civis saharauis foram expulsos e deslocados das suas terras de pastagem e agrícolas e as suas casas foram destruídas em várias áreas em torno das principais cidades saharauis ocupadas”.

Ghali acrescenta que “Marrocos, o Estado ocupante, e as suas forças repressivas não só expropriam as terras que pertencem aos saharauis, como lhes negam o direito de se reunirem pacificamente para reclamar as suas terras e denunciar este crime sistemático a que estão sujeitos, que viola os seus direitos, incluindo o direito de possuir as terras que herdaram de geração em geração”.

Brahim Ghali sublinha que “todas estas práticas são contrárias às disposições da Convenção de Genebra de 1949 relativa à Proteção das Pessoas Civis em Tempo de Guerra, em particular o artigo 49.º, que proíbe as transferências forçadas individuais ou em massa, bem como as deportações de pessoas protegidas do território ocupado para o território da potência ocupante ou para o de qualquer outro país. Também estipula que a Potência Ocupante não deportará ou transferirá partes da sua própria população civil para o território que ocupa”.

O Presidente da República e o Secretário-Geral da Frente Polisario apela ao Secretário-Geral da ONU para que tome todas as medidas necessárias para responsabilizar Marrocos, o Estado ocupante, pelas suas violações flagrantes do direito internacional humanitário e para que utilize a autoridade que lhe é conferida pela Carta da ONU e pelas suas resoluções pertinentes para assegurar a proteção dos direitos fundamentais dos saharauis no Sahara Ocidental ocupado, um território que aguarda a descolonização sob os auspícios das Nações Unidas.

A este respeito, o Presidente da República e Secretário-Geral da Frente Polisario recorda também que “Marrocos, Estado ocupante, prossegue as suas práticas agressivas que visam silenciar as vozes saharauis, impedir os activistas saharauis de exercer o seu direito de manifestação pacífica, reprimi-los e submetê-los a torturas físicas e psicológicas, bem como a práticas deploráveis e degradantes”.

Além disso, recorda que “Marrocos, o Estado ocupante, continua a prosseguir uma política de empobrecimento, de fome, de privações, de exclusão, de discriminação racial e de ruptura dos meios de subsistência contra os Saharauis, a fim de os subjugar pela força através de uma política multifacetada de punição coletiva”.

O Presidente da República e secretário-geral da Frente POLISARIO chama a atenção para “os crimes atrozes cometidos pelas autoridades de ocupação marroquinas contra os presos políticos saharauis, entre os quais o Grupo Gdeim Izik, que vivem em condições deploráveis no interior das prisões do Estado ocupante, obrigando-os a fazer greve da fome para protestar contra a negação dos seus direitos elementares de presos políticos”.

O Presidente da República e Secretário-Geral da Frente Polisario reitera o seu apelo ao Secretário-Geral da ONU “para que tome todas as medidas necessárias para assegurar a libertação imediata e incondicional de todos os presos políticos saharauis, para que possam regressar à sua pátria e reencontrar as suas famílias”.

Brahim Ghali volta a chamar a atenção para “a utilização pelas forças de ocupação marroquinas, desde a violação do cessar-fogo em 13 de novembro de 2020, de todo o tipo de armas, incluindo veículos aéreos não tripulados (UAV), que até agora resultou na morte de centenas de civis e ferimentos graves e variados em dezenas de pessoas, incluindo nacionais de países vizinhos, ao atravessarem as Áreas Libertadas Saharauis”.

O líder saharaui reafirma que “o alvejamento deliberado de civis e de objectos civis constitui um crime de guerra em conformidade com o Estatuto do Tribunal Penal Internacional e uma violação das regras do direito humanitário internacional aplicáveis nos conflitos armados internacionais. Apelo de novo às Nações Unidas para que responsabilizem Marrocos, o Estado ocupante, por todos os crimes cometidos contra a população civil saharaui e pela utilização ilegal de armas letais sofisticadas” - sublinha.

Para além da política de empobrecimento, de fome e de privações levada a cabo por Marrocos, Estado ocupante, contra os saharauis nas zonas ocupadas saharauis, o Presidente da República e Secretário-Geral da Frente Polisario lembra que “as autoridades ocupantes continuam a pilhar as riquezas saharauis em conluio com entidades estrangeiras em flagrante violação do direito do povo saharaui à soberania permanente sobre os seus recursos naturais”.

Neste contexto, “apelo ao secretário-geral da ONU para que utilize todos os meios à sua disposição para informar a opinião pública mundial e os órgãos competentes das Nações Unidas de todas as actividades económicas e outras actividades ilegais levadas a cabo por Marrocos, Estado ocupante, no Sahara Ocidental ocupado, a fim de pilhar os recursos naturais do povo saharaui, consolidar pela força o facto consumado colonial no território e minar o exercício pelo povo saharaui do seu direito à autodeterminação e à independência, em conformidade com a resolução da Assembleia Geral sobre “Actividades económicas e outras que afectam os interesses dos povos dos territórios não autónomos”, datada de 11 de dezembro de 2023”.

O Presidente da República e secretário-geral da Frente POLISARIO adverte novamente que “a continuação das violações flagrantes dos direitos humanos perpetradas por Marrocos, o Estado ocupante, contra os civis saharauis e os defensores dos direitos humanos mina ainda mais a confiança no processo de paz patrocinado pela ONU no Sahara Ocidental e a credibilidade da própria ONU, compromete seriamente as perspectivas de relançamento do processo de paz paralisado e dificulta os esforços do Enviado Pessoal do Secretário-Geral para o Sahara Ocidental”.

Por fim, Ghali reafirma que “nenhum processo de paz sério e significativo será possível enquanto Marrocos, o Estado ocupante, persistir, com total impunidade, nas suas violações das regras do direito internacional humanitário e do direito internacional no Sahara Ocidental ocupado, assim como nas suas tentativas de impor pela força um facto consumado no Território à vista das Nações Unidas e da sua Missão no terreno”. (SPS)

 

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

ARTifariti: a arte como luta pela liberdade do povo saharaui, no Outono nos campos de refugiados

 


Contramutis - Agosto 2024

O encontro internacional de artistas que apoiam a autodeterminação do povo saharaui realizar-se-á sob o título Sanduj el Auda -Bauls do Retorno- considerado um marco na história do conflito e uma poderosa metáfora carregada de múltiplas semânticas, nomeadamente a infâmia cometida por Marrocos, Espanha e a ONU contra o povo saharaui.

ARTifariti XVIII, a arte como luta pela liberdade do povo saharaui, regressa aos campos de refugiados no deserto argelino no Outono de 2024. Os Encontros Internacionais de Arte e Direitos Humanos tornaram-se virtuais com a eclosão da pandemia e a quebra do cessar-fogo por Marrocos, quando o seu exército entrou nos territórios libertados, em Guergerat, em novembro de 2020.

ARTifariti é um encontro internacional de artistas que apoiam a autodeterminação do povo saharaui, que vive na ocupação, no exílio e na diáspora.

O festival de artes visuais nasceu em 2007 na cidade de Tifariti, nos territórios libertados do Sahara Ocidental sob o controlo da Frente Polisário, como uma ação colectiva experimental pelos direitos humanos universais e contra o Muro da Vergonha que divide o território em dois, separando as famílias saharauis entre a ocupação e o exílio. Esta barreira militar de 2.720 km é o maior campo de minas antipessoal do mundo e fratura a terra e as famílias saharauis. Esta construção prolonga-se como um monumento ofensivo ao assassinato cultural e à pilhagem sistemática perpetrada contra o povo saharaui.

ARTifariti insere-se num horizonte mais vasto de práticas de resistência não violenta de uma geração de artistas saharauis e internacionais numa intifada da arte (nas palavras do ativista dos direitos humanos Aminetu Haidar) face à brutal ocupação marroquina. Os artistas invocam as capacidades transformadoras das práticas activistas, produzem e questionam o campo teórico das artes em relação aos direitos humanos e reivindicam, através das práticas artísticas, o direito dos indivíduos e dos povos à sua terra, à sua cultura, às suas raízes e à sua liberdade.

 

Os baús do povo saharaui para regressar à sua terra

Muitas famílias dos campos de refugiados saharauis guardam um baú para o dia de regresso, em Hassania Sanduj el Auda. Trata-se de baús feitos pelo povo saharaui em 1992, após a assinatura do cessar-fogo com Marrocos.

A promessa da ONU do regresso iminente ao Sahara Ocidental e a realização do referendo de autodeterminação que devolveria esta terra aos seus legítimos habitantes levou-os a fabricar essas arcas. Cada família utilizou as chapas de zinco que compõem os tectos das casas dos acampamentos de Tindouf, na Argélia, para construir o seu baú de regresso, onde guardavam as suas tendas, os seus cobertores e os seus poucos pertences mais preciosos, com os quais desejavam regressar à sua terra, às suas casas, para se reunirem aos seus familiares que permaneciam no Sahara Ocidental ocupado. Acima de tudo, os baús de regresso continham a felicidade de regressar a casa e de construir uma terra livre.

O referendo significava a independência do Sahara Ocidental na luta dos saharauis pelo seu próprio Estado e a retirada de Marrocos dos territórios saharauis invadidos, ante o qual Marrocos recuaria e recusou efetuar qualquer consulta.

Sob o título Sanduj el Auda - Baús do Retorno - os acampamentos acolhem a 18ª edição do ARTifariti 2024. As arcas do retorno são consideradas um marco na história do conflito e uma poderosa metáfora carregada de múltiplas semânticas, nomeadamente a infâmia cometida por Marrocos, Espanha e ONU contra o povo saharaui durante décadas, mas também o facto de ARTifariti assumir este objeto como símbolo de resistência ativa significa, e um apoio claro ao referendo de autodeterminação do povo saharaui como única saída possível.

Numa altura em que a luta armada foi imposta ao povo saharaui como a única forma de alcançar a paz e a libertação do seu território ocupado por Marrocos, e quando noutras partes do mundo, tal como na Palestina, as contradições do sistema causam a dor horrível de multidões de seres humanos: não será tempo de acabar com todas as guerras e usar o tempo para construir estradas e salvar a vida na Terra?

Os encontros, que terão início a 26 de outubro de 2024 na Escola Superior de Artes Saharauis (ESA) do acampamento de Bojador, contarão com a participação de artistas e investigadores de diferentes nacionalidades, para além da presença contínua de argelinos.

ARTifariti é uma produção do Ministério da Cultura da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) em colaboração com a Associação de Amizade com o Povo Saharaui de Sevilha.



sábado, 17 de agosto de 2024

O exercício pelo povo do Sahara Ocidental do seu direito à autodeterminação “é apenas uma questão de tempo” - afirma Oubi Bouchraya ao AL24 News



16 de agosto de 2024 - AL24 News

O exercício pelo povo do Sahara Ocidental do seu direito inalienável à autodeterminação “é apenas uma questão de tempo”, afirmou o representante da Frente Polisario na Suíça e junto das Nações Unidas e das organizações internacionais em Genebra, Oubi Bouchraya Bachir, sublinhando que a sua concretização através de um referendo “não pode ser adiada indefinidamente” ou mesmo “evitada”.

“A justeza da causa saharaui e a determinação do povo do Sahara Ocidental em continuar a luta por todos os meios e em várias frentes, significam que a consagração do seu direito à autodeterminação e à independência é apenas uma "uma questão de tempo e uma obrigação que não pode ser evitada ou adiada indefinidamente", disse numa Conferência Internacional sobre Descolonização em Abuja, na Nigéria.

Segundo este diplomata, a luta do povo saharaui pela sua independência assenta no tríptico: "o direito internacional, que inclui numerosas resoluções das Nações Unidas, incluindo o parecer consultivo do Tribunal Internacional de Justiça, o direito africano, que inclui decisões da Organização de Unidade Africana e a União Africana, incluindo a decisão do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos proferida em Setembro de 2022, e o direito europeu com as várias decisões do Tribunal de Justiça da UE proferidas em 2016, 2018 e 2021”.

O representante da Frente Polisario na Suíça sublinhou, neste contexto, que o ocupante marroquino “não está disposto a cooperar” para “chegar a uma solução pacífica que respeite a legalidade internacional”, sublinhando que “a comunidade internacional, incluindo a União Africana, é chamada, hoje mais do que nunca, a exercer pressão sobre Rabat para o obrigar a respeitar os compromissos e os acordos que assinou com a parte saharaui sob a supervisão das Nações Unidas”.

“Só o povo saharaui tem o direito de determinar o estatuto definitivo do Sahara Ocidental, um território que está sob ocupação militar marroquina desde 1975”, acrescentou na conferência, que foi presidida pelo antigo ministro nigeriano dos Negócios Estrangeiros, Ibrahim Gambari.

Na ocasião, Oubi Bouchraya Bachir denunciou “as posições unilaterais assumidas por alguns países ocidentais, o mais recente dos quais é a França, que decidiu apoiar as teses expansionistas de Marrocos”.

“Marrocos precisa que os seus verdadeiros amigos o ajudem a sair do impasse da sua ocupação contínua do Sahara Ocidental, que lhe custa muito caro tanto financeira como politicamente, e não alguém que o encoraje a prosseguir a sua aventura expansionista no Sahara Ocidental”, afirmou, alertando para as ‘consequências desastrosas’ deste apoio para a segurança e a estabilidade da região norte-africana.

Apelou à comunidade internacional para que “aprenda com a história das guerras de libertação em África e no mundo, e com o que se passa atualmente na Palestina, onde o apoio incondicional do Ocidente (à entidade sionista) desencadeou uma guerra que corre o risco de se estender a toda a região”.

Conferência internacional anticolonialista destaca luta do povo saharaui




16 de Agosto de 2024 - AbrilAbril

A Conferência Internacional para a Erradicação do Colonialismo, que se realizou na Nigéria, reafirmou o apoio à luta do povo saharaui pela soberania total sobre o território da República Saarauí, sujeito à ocupação marroquina.


A declaração final do encontro, que decorreu a 12 e 13 de Agosto em Abuja, recordou a advertência do Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos «a todos os países africanos contra a tomada de qualquer medida que possa afectar negativamente, de alguma forma, a luta do povo saharauí e o seu direito à liberdade e à independência».

Ler todo o artigo AQUI

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Os EUA, a França e a Espanha iludem-se sobre o Sahara Ocidental

 


autor: Jacob Mundy - agosto 13, 2024 - Worls Politics Review (WPR)

 

No final de julho, numa carta que celebrava o 25º aniversário da ascensão ao trono do rei marroquino Mohamed VI, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou que iria executar uma importante mudança na política francesa em relação à longa disputa sobre o Sahara Ocidental. A França não só apoiaria a proposta marroquina de 2007, que oferece uma autonomia limitada à região como única solução realista para o conflito, como passaria a considerar efetivamente o território contestado como parte de Marrocos.

Macron é apenas o mais recente líder ocidental a apoiar a posição de Rabat na disputa de 50 anos do Sahara Ocidental, que opôs as aspirações indígenas de independência à afirmação de Marrocos do título histórico sobre a antiga colónia espanhola que invadiu em 1975 e que ocupa desde então. O Presidente dos EUA, Donald Trump, em 2020, e o Primeiro-Ministro espanhol, Pedro Sanchez, há dois anos, apoiaram definitivamente a “proposta de autonomia” de Marrocos como a única forma de acabar com o conflito, em vez de a considerarem uma solução possível, como tinham feito anteriormente através de declarações do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O conselho irá reexaminar a questão em Outubro, com alguns observadores aparentemente imaginando que a reação em cadeia desencadeada pela proclamação de Trump em dezembro de 2020, que reconheceu a soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental em troca da normalização dos laços de Rabat com Israel, irá impulsionar o moribundo processo de paz do Sahara Ocidental e movê-lo em uma direção nova e mais “realista”. Mas, por uma série de razões, é pouco provável que estes acontecimentos venham a mudar.

De facto, no meio de um agravamento da situação de segurança em toda a região do Sahara-Sahel, eles só pioram a situação, porque esta onda de apoio a Marrocos tem pouco a ver com a revitalização do processo de paz do Sahara Ocidental. Os verdadeiros factores que impulsionam a mudança de Washington, Madrid e, agora, Paris são uma mistura de política transacional e manobras geopolíticas na arena internacional, a necessidade de aplacar as oposições internas no país e a preocupação com a sobrevivência de uma monarquia marroquina em apuros em Rabat.

Entretanto, o direito do movimento independentista do Sahara Ocidental à autodeterminação, ao abrigo do direito internacional, continua a ser reafirmado em quase todos os fóruns jurídicos internacionais onde é posto à prova. Mais recentemente, o parecer de julho do Tribunal Internacional de Justiça sobre a ocupação israelita dos territórios palestinianos citou o parecer histórico de 1975 do próprio tribunal sobre o Sahara Ocidental - na altura ainda administrado por Espanha - emitido poucas semanas antes de Marrocos invadir o território para expulsar os espanhóis. Nessa altura, tal como agora, o tribunal reconheceu o povo do Sahara Ocidental como o verdadeiro poder soberano do território, com o direito exclusivo de se despojar dessa soberania.

Estrategicamente, Marrocos e os seus aliados devem também recordar o famoso adágio de Henry Kissinger: “O guerrilheiro ganha se não perder”. Durante cinco décadas, os nacionalistas do Sahara Ocidental, liderados pela Frente Polisario, viveram no exílio na Argélia, ao lado de 170.000 refugiados, quase metade da população saharaui autóctone. Não há indicações de que o apoio à independência tenha diminuído entre a maioria dos saharauis, mesmo quando o apoio da Argélia ao movimento se intensificou nos últimos anos, incluindo uma nova campanha armada após quase 20 anos de cessar-fogo.

Para as potências do Atlântico Norte, o direito internacional e os refugiados saharauis têm sido, no máximo, um ligeiro inconveniente nos seus esforços para sustentar a monarquia marroquina, que sofreu uma crise contínua de legitimidade nos últimos anos devido à sua resposta lenta ao devastador terramoto de setembro de 2023 nas montanhas do Alto Atlas; o seu apoio contínuo a Israel, apesar da devastação contínua da guerra em Gaza; e agora uma seca nacional sem precedentes que leva a importações de alimentos dispendiosas e o desemprego a níveis recordes. O apoio das grandes potências à anexação do Sahara Ocidental por Rabat é um dos poucos pontos positivos que Mohammed VI pode apontar, embora pouco importe para o marroquino médio que luta para fazer face às despesas.

 

O processo de paz no Sahara Ocidental

Quando se trata de mediação e resolução de conflitos, uma estratégia frequentemente utilizada nos processos de paz consiste em criar a percepção ou mesmo a realidade de factos irreversíveis no terreno. Uma ou todas as partes em conflito são assim confrontadas com a escolha entre embarcar ou ser deixadas para trás. Com a Espanha e dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU a apoiarem agora um Sahara Ocidental autónomo sob a soberania marroquina como única solução para o conflito, Rabat e os seus apoiantes estarão ansiosos por sugerir que já não existe qualquer alternativa realista, sobretudo nenhuma que leve o Sahara Ocidental a tornar-se um Estado independente, mesmo que tenha esse direito ao abrigo do direito internacional.

Esta técnica de pacificação, conhecida como “o comboio está a sair da estação”, já foi utilizada anteriormente no conflito do Sahara Ocidental, muitas vezes com poucos resultados. O cessar-fogo original de 1991 entre a Polisario e as forças marroquinas foi um caso raro de sucesso qualificado. Em vez de o armistício ser um acordo bilateral, como propunha o plano de resolução original da ONU de 1991, o então secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar, convenceu Marrocos a declarar unilateralmente um cessar-fogo, deixando a Polisario sem outra opção senão seguir o exemplo ou tornar-se o desmancha-prazeres. Mas o movimento independentista do Sahara Ocidental só o fez a contragosto e, desde então, tem mobilizado frequentemente as suas forças quando os progressos diplomáticos param. O movimento abandonou definitivamente o cessar-fogo em 2020 e tem realizado bombardeamentos regulares de posições marroquinas desde então.


“Uma estratégia frequentemente utilizada nos processos de paz é criar a percepção ou mesmo a realidade de factos irreversíveis no terreno. Esta técnica já foi utilizada anteriormente no conflito do Sahara Ocidental, muitas vezes com poucos resultados”.

 

Em termos mais gerais, todo o processo de paz da ONU, que incluía a exigência de organizar um referendo sobre a independência do Sahara Ocidental ou a sua integração em Marrocos, tem sido um fracasso colossal da abordagem “factos no terreno” para resolver o conflito. Muitos dos envolvidos esperavam que a ameaça realista de um referendo livre e justo entre os nativos do Sahara Ocidental, que muito provavelmente votariam esmagadoramente pela independência, pudesse ser utilizada para extrair concessões de Marrocos para um acordo político duradouro.

Mas o Conselho de Segurança abandonou esta estratégia para todos os efeitos em 1999, após a sua experiência desastrosa em Timor Leste, onde a supressão violenta pela Indonésia dos resultados de um referendo sobre a independência patrocinado pela ONU exigiu uma missão de manutenção da paz para travar um massacre e restaurar a ordem. Nesse mesmo ano, a morte do rei Hassan II, há muito no poder em Marrocos, levou ao poder o ainda jovem e não testado Mohamed VI.

Desde então, o processo de paz do Sahara Ocidental perdeu quase toda a sua urgência, deixando o Conselho de Segurança sem qualquer influência sobre as partes, para além da ameaça de retirada da missão de manutenção da paz da ONU que foi enviada para o local desde que o cessar-fogo de 1991 entrou em vigor. No entanto, ninguém - à excepção de John Bolton, quando desempenhou brevemente o cargo de conselheiro de segurança nacional dos EUA durante o governo de Trump - sugeriu utilizar esta ameaça para influenciar as partes.

No verão de 2003, James Baker - o principal negociador das Nações Unidas na altura - tentou recriar uma sensação de ímpeto imparável ao pedir ao Conselho de Segurança que adoptasse a sua proposta de acordo de compromisso como a única forma de avançar. Baker tinha proposto um período experimental de cinco anos de autonomia robusta para o Sahara Ocidental, seguido de um referendo sobre o estatuto final, com a independência, a integração ou a continuação da autonomia como opções, mas com a condição adicional de que os colonos marroquinos no território também pudessem votar, equilibrando assim o eleitorado. No entanto, na altura, com a ocupação americana do Iraque a ficar rapidamente fora de controlo e no rescaldo do maior atentado terrorista de sempre em Marrocos, o Conselho de Segurança não tinha estômago para obrigar as partes, sobretudo Rabat, a trabalhar no quadro proposto por Baker.

Nos anos que se seguiram, o mantra do Conselho de Segurança tem sido “a solução deve vir das partes”. Em 2007, Marrocos propôs o seu plano de autonomia local limitada e aparentemente revogável. Por seu lado, a Polisario propôs uma série de garantias políticas e de segurança a Marrocos para quando o território se tornasse independente. Desde então, nenhuma das partes elaborou as suas propostas de forma substancial, nem Marrocos procurou implementar unilateralmente o seu esquema de “autonomia”, o que sugere que não se trata de facto de uma proposta séria e credível. Os quatro mediadores da ONU que seguiram os passos de Baker não conseguiram obter uma única concessão de nenhuma das partes. O atual enviado, Stephan de Mistura, ainda não conseguiu sequer reunir as partes, apesar de estar há quase três anos em funções.

Se a França e os EUA tentarem que o Conselho de Segurança da ONU adopte a proposta de autonomia de Marrocos como a única via a seguir, é provável que provoquem a resistência da China e, mais importante ainda, da Rússia. Moscovo tem vindo a abster-se cada vez mais nas resoluções do Conselho sobre o Sahara Ocidental nos últimos anos, citando frequentemente a forma unilateral como os EUA, na qualidade de “penholder” do Conselho sobre o conflito, têm feito aprovar resoluções com pouco das práticas consultivas e consensuais que costumavam ser utilizadas nas votações do Conselho sobre o Sahara Ocidental. Mas, desta vez, podem ameaçar vetar qualquer tentativa de alterar a posição oficial do Conselho.

Como a Argélia também detém atualmente um lugar não permanente no Conselho de Segurança, seria sensato apostar na manutenção do status quo quando o principal órgão político do mundo reexaminar a questão em outubro. Isso não mudará necessariamente o cálculo que atualmente motiva os EUA, a França e a Espanha na sua abordagem da questão. Mas significa que pouco mudará efetivamente no terreno no Sahara Ocidental.

Jacob Mundy é professor associado e diretor de Estudos sobre Paz e Conflitos na Universidade Colgate. O seu livro “Western Sahara War, Nationalism, and Conflict Irresolution”, em coautoria com Stephen Zunes, foi recentemente publicado numa segunda edição actualizada em livro de bolso. É também o autor de “Libya”, parte da série da Polity Press sobre Global Hot Spots.

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