Os marroquinos
sempre sonharam com uma União do Magrebe, mas à custa da causa saharaui. Não sabem
que todos os seus apelos a uma reconciliação duradoura com a Argélia que passaria,
segundo eles, pela reabertura das fronteiras, será em vão enquanto esta pedra
angular na construção do Grande Magrebe, que é a questão saharaui, não for resolvida.
Isto é o que ressalta do último discurso da Secretária de Estado marroquina dos
Negócios Estrangeiros perante o Parlamento do seu país. Pede à Argélia a "assumir
o seu papel de liderança", disse ela, no conflito do Sahara, enquanto, simultaneamente,
acusava aquele país vizinho de impedir o processo de reconstrução da União do
Magrebe Árabe.
O Enviado Pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental, o embaixador norte-americano Christopher Ross, ladeado pela secretária de Estado e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos |
Esta enésima
tirada de um responsável oficial marroquino contra a Argélia confirma, pelo
menos, duas coisas importantes: primeiro, que o Palácio não pretende cessar ou
moderar a sua hostil campanha contra a Argélia, mesmo após o lamentável
comportamento do seu ministro das Relações Exteriores, Mourad Mezouar; e que,
além disso, Rabat também admite que nada se pode fazer no Magrebe sem o seu
vizinho oriental. Isso explica esse frenesim, à beira da neurose, nas manobras e
provocações que adota como estratégia.
Esta
declaração da secretária de Estado dos NE dá uma ideia do que será a próximo discurso
do Rei, por ocasião da Festa do Trono, que terá lugar em menos de uma semana. Converteu-se
numa história patética e repetitiva o discurso de Mohamed VI: cada súplica de
reabertura das fronteiras terrestres em nome da irmandade magrebina e a boa
vizinhança, é seguida por uma declaração de guerra.
No seu
último discurso, o governante alauita acusou a Argélia, nomeando-a – o que devia
provocar uma reação de Argel -, de "sabotar a iniciativa da autonomia"
marroquina [para o Sahara Ocidental] que
o seu governo quer impor fora do âmbito das Nações Unidas. Para ele, a força da
Frente Polisario e as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas são
apenas um reflexo de manipulações e manobras tecidas pela Argélia", “visceralmente
anti marroquina". Com o seu tom alarmista, ao mesmo tempo ameaçador e
suplicante, esse discurso tem apenas um só objetivo: aumentar a pressão e jogo
das chantagens sobre o Sahara Ocidental, que continua a ser a pedra angular da
política externa do Makhzen.
Por R.
Mahmoudi
Algérie Patriotique, 23/07/2014
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