sábado, 27 de agosto de 2022

Marrocos chama embaixador na Tunísia por causa do Sahara Ocidental e a Tunísia responde e chama o seu em Rabat

 


Marrocos chamou esta sexta-feira o seu embaixador na Tunísia após o Presidente tunisino Kais Saied ter recebido o Presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) e SG da Frente Polisario que luta pela independência para o Sahara Ocidental, um território que Marrocos ocupa desde 1975.

A Tunísia acolhe este fim-de-semana a Conferência Internacional de Tóquio sobre Desenvolvimento Africano, uma reunião que incluirá chefes de Estado de países africanos.

Para o MNE do Reino de Marrocos, a decisão da Tunísia de convidar Brahim Ghali para uma cimeira de desenvolvimento japonesa para África que Tunes acolhe este fim-de-semana foi "um acto grave e sem precedentes que fere profundamente os sentimentos do povo marroquino".

O ocorrido abre uma nova frente na série de disputas regionais e mostra o isolamento com que Marrocos se depara tanto no Magrebe como no continente Africano. Recorde-se que a RASD é membro fundador da União Africana desde maio de 2001. Marrocos só viria a aderir à organização pan-africana em 30 de janeiro de 2017, sendo o único Estado do continente africano que permanecia à margem.

Marrocos foi membro fundador da Organização de Unidade Africana (OUA), a antecessora da UA, em 1963, mas decidiu abandonar em 1984 devido à admissão da República Árabe Saharaui Democrática (RASD).

Numa declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Marrocos afirma que já não participa na cimeira. Também acusou a Tunísia de ter recentemente "multiplicado as posições negativas" contra Marrocos, e que a sua decisão de acolher Ghali "confirma a sua hostilidade de uma forma flagrante".

Ganhar o reconhecimento da sua soberania sobre o Sahara Ocidental tem sido, desde há muito, o objectivo primordial de Marrocos em matéria de política externa. Em 2020, o então presidente Donald Trump dos Estados Unidos reconheceu a sua soberania em troca de Marrocos acordar laços mais estreitos com Israel.

Desde então, Marrocos tomou uma posição mais dura sobre o Sahara Ocidental, retirando os seus embaixadores em Espanha e Alemanha até se aproximarem da sua posição sobre o território.

Por seu lado, a Argélia retirou o seu próprio embaixador em Espanha, um importante cliente do gás argelino, após a súbita mudança de Madrid sobre o Sahara Ocidental.

Com resposta à decisão o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Imigração e Tunisinos no Estrangeiro emitiu hoje um comunicado em que afirma:

 

“– A Tunísia manteve a sua total neutralidade sobre a questão do Sahara Ocidental no que diz respeito à legitimidade internacional, uma posição firme que não mudará até que as partes envolvidas encontrem uma solução pacífica aceitável para todos.

– Tal como a Tunísia respeita as resoluções das Nações Unidas, também está vinculada pelas resoluções da União Africana, da qual o nosso país é um dos fundadores.

Neste contexto, é de salientar que, ao contrário do que foi dito na declaração marroquina, a União Africana, na qualidade de importante participante na organização do Simpósio Internacional de Tóquio, emitiu um memorando convidando todos os membros da União Africana, incluindo a República Árabe Saharaui Democrática, a participar nas actividades da Cimeira TICAD 8 na Tunísia. Numa segunda fase, o Presidente da Comissão Africana fez também um convite individual directo à República Saharaui para participar na Cimeira”.

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