Após o escândalo revelado recentemente graças
aos documentos publicados pelo hacker «Chris Coleman24» na sua conta
Twitter [ todos os documentos divulgados em http://www.arso.org/ColemanPaper.htm] , expondo
a ex-Alta-Comissária dos Direitos Humanos, a senhora Navy Pillay, e os seus
dois mais próximos adjuntos, Anders Kompass e Bacre Ndiaye, eis que o misterioso
hacker publica outros documentos que nos informam da traição do Chefe de
Gabinete do Alto Comissário para os Refugiados, Athar Sultan Khan, às
obrigações éticas que se impõem ao cargo humanitário do mais alto nível que
desempenha.
Os documentos «confidenciais» do
ex-embaixador marroquino em Genebra, Omar Hilale, (que agora ocupa o cargo de
embaixador de Marrocos junto das Nações Unidas, em Nova Iorque) relatam muita
informação sobre a colaboração prestada pelo seu «amigo» no seio desta
organização das Nações Unidas vocacionada a servir os refugiados saharauis,
como tantos outros em todo o mundo.
Complot
contra o líder saharaui
Um dos incidentes mais marcantes revelados pelos
documentos do diplomata marroquino sobre as suas ações de corrupção nos bastidores
das organizações internacionais em Genebra, refere-se ao seu sucesso em convencer
altos funcionários da organização das Nações Unidas encarregado dos refugiados a
recusar receber em audiência o presidente saharaui, Mohamed Abdelaziz, que
representa os mais antigos refugiados políticos da África, os saharauis.
Hilale relata com entusiasmo aos seus
superiores, a 16 de maio de 2013, que "Mr. Athar Sultan Khan, chefe de
gabinete do Alto Comissário para os Refugiados, lhe telefonou para confirmar
que a Polisario foi oficialmente informada da impossibilidade de António Guterres
receber Mohamed Abdelaziz, por causa de sua ausência de Genebra na data de 29
de maio.
Recorde-se que, no mesmo período, o
Presidente saharaui tinha uma reunião com a Sra. Navy Pillay, a 23 de Maio, a
qual também foi parcialmente sabotada por outros peões do embaixador marroquino
no Alto Comissariado dos Direitos Humanos — Andres Kompass e Bacre Ndiaye —,
que tudo fizeram para convencer Pillay a limitar a reunião ao mínimo e até se
recusar a tirar fotos com o Presidente saharaui, o que é surpreendente por
parte de um representante da ONU, sabendo que o seu chefe, Ban Ki-moon, nunca
hesitou em tirar fotos com os seus interlocutores saharauis em múltiplas
ocasiões na sede da ONU em Nova Iorque.
Tal como os dois "peões" de
Marrocos no Comissariado para os Direitos Humanos, e para ganhar os favores de
seus "patrões" marroquinos, o Sr. Athar Sultan Khan não hesitou em
chamar a atenção do seu querido amigo embaixador do Marrocos para ele lhe fornecer
informações sensíveis pela sua confidencialidade, sobre as reuniões e conversas
que ele tivesse com os responsáveis saharauis.
Segundo o embaixador Omar Hilale, Athar trabalhou
deliberadamente para inviabilizar qualquer possibilidade de encontro entre
Mohamed Abdelaziz e Guterres. E conseguiu-o. Em troca, Marrocos concedia aparentemente
contribuições e doações em abundância ao Alto Comissariado para os Refugiados,
e quem sabe terá concedido também "doações" generosas a estes amigo(s)
fiéis para expressar a gratidão do Reino. O que é vergonhoso, a ser verdade.
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Omar Hilale, ex-ambaixador em Genebra e atual embaixador de Marrocos nas Nações Unidas: o grande corruptor |
O
embaixador marroquino muito satisfeito com o novo «servidor» do Rei
O ex-embaixador do Marrocos em Genebra expressa
no seu relatório de 18 de Outubro de 2012, publicado por "Chris coleman24", a sua
total satisfação com Athar Sultan Khan, indicando que é muito importante para o
Reino o apoiar por causa de "benevolência sutil que ele sempre demonstra
para com a nossa causa nacional (o conflito do Sahara Ocidental)", além da
sua" personalidade moderada e consensual, conjugada com a estima e
respeito que nutre pelo nosso país. "
Resulta claro, da leitura dos cerca de oito
documentos da embaixada de Marrocos em Genebra sobre os serviços prestados por
Athar Khan aos seus novos senhores, a razão por que Omar Hillale tem tão alta
opinião do seu amigo.
No mesmo documento de 18 de Outubro de 2012,
Hilale sopra aos seus superiores uma informação secreta sobre as ações de lobbying
realizadas por Khan junto dos Americanos, para que eles o apoiem no seu desejo
de substituir Christopher Ross no cargo de Enviado Pessoal do SG da ONU para o Sahara
Ocidental. Recorde-se que Marrocos, já neste período, havia começado a sua
campanha de difamação contra Ross, para levá-lo a deixar o seu cargo, tal como
o seu antecessor norte-americano, James Baker. E, claro, Hilale confirma a
necessidade de apoiar o amigo de Marrocos, se estes esforços forem bem
sucedidos, porque segundo ele: "A nomeação do Sr. Khan, caso se vier a formalizar,
seria importante para o nosso país, por várias razões ".
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Athar Sultan-Khan traiu a confiança de António Guterres e atraiçoou as Nações Unidas |
Funcionário
da ONU ou espião ?
O ato de espionagem de Khan contra Ross e a Frente Polisario é totalmente
confirmada pelos mencionados documentos do embaixador marroquino.
Num desses documentos enviados pelo embaixador,
a 25 de outubro de 2013, Khan aproveitou deliberadamente uma oportunidade de se
encontrar com o embaixador durante uma recepção para lhe transmitir um relato
detalhado sobre os contatos e conversas que Ross teve com responsáveis da Polisario
nos acampamentos de refugiados saharauis, assim como dos encontros que o
norte-americano teve com o Chefe de Operações das CBM (Medidas de Confiança, em
Inglês: Medidas de Fortalecimento da Confiança) no ACNUR.
Neste mesmo dossier, Khan teria abortado os
esforços de Ross em contactar o ACNUR, ao pedir a contribuição para o seu relatório
informal de Outubro de 2013 ao Conselho de Segurança. Khan respondeu sem
rodeios que não tinha nada a relatar no momento, tanto mais que o briefing é
oral, e diz respeito à componente política e não humanitária, de acordo com o
seu argumento. E, claro, ele fez isso em coordenação e seguindo as ordens
diretas do seu amigo, Omar Hilale.
Mais, Khan não se contenta apenas a dar
informações mas, como qualquer servo leal, ele aconselha Marrocos e fornece
ideias e táticas ao seu amigo Hilale para contrarir o "inimigo", ou
seja, a Polisario e qualquer pessoa de integridade dentro das instituições das
Nações Unidas que não ceda às exigências de Rabat.
Ele fez o mesmo com os seu próprios contatos
com responsáveis da Polisario. Assim, ficamos a saber que depois de ter tido uma
conversa ao telefone com Mhamed Khadad [responsável da POLISARIO pela ligação à
MINURSO], sobre a visita que o Presidente saharaui iria fazer a Genebra, Khan
chama o imediatamente por telefone o embaixador marroquino para lhe transmitir um
relatório detalhado da conversa, revela as propostas saharauis e vai mesmo ao
ponto de dar a sua análise sobre o estado de alma do seu interlocutor saharaui.
Também confirma a Hilale que fez tudo para não permitir a realização da reunião
entre o Presidente saharaui e o Alto Comissário para os Refugiados, António
Guterres.
Khan também deu informações consideradas secretas
sobre uma confidência que a canadiana senhora Kim Bolduc, a nova representante
especial para o Sahara Ocidental, lhe terá feito sobre as suas intenções
aparentemente preocupantes para Marrocos. E como resultado, Marrocos continua a
recusar recebê-la para assumir a sua missão no Sahara Ocidental, impedindo,
assim, a missão oficial de um alto funcionário da ONU para um plano de paz e
uma operação da ONU de descolonização do Sahara Ocidental, que já custou à
comunidade internacional quase um mil milhões de dólares até esta data, para
não mencionar o seu impacto sobre a segurança, prosperidade e estabilidade dos
povos do Norte de África e da África em geral…
Sabotagem
dos Programas da ONU a favor dos refugiados
Pior, o funcionário humanitário provou ser um
grande interveniente na sabotagem de programas humanitários do ACNUR, seguindo
as ordens de Marrocos. Assim, ele fez tudo como revela o embaixador Omar Hilale,
para cancelar uma reunião que foi planeada pelo ACNUR em Nova Iorque, como
parte de Medidas de Confiança, em que a senhora Kerry Kennedy, presidente da
Fundação Robert Kennedy, deveria comparecer como convidada de honra.
O primeiro parágrafo do relatório de Hilale ao
seu ministério sobre este tema é suficiente para entender: "tal como
prometido pelo Sr. Athar Sultan Khan, chefe de gabinete do Alto Comissário para
os Refugiados, o Sr. Udo Janz, Diretor do ACNUR em nova Iorque, procedeu esta
manhã à anulação do seminário onde a senhora Kerry Kennedy devia intervir, a 17
de outubro, nas instalações da Representação de ACNUR em Nova Iorque sobre a
situação humanitária nos campos de Tindouf. "
Hillale refere na mesma mensagem, que o seu
sucesso em cancelar este evento "foi possível graças ao excelente
relacionamento (que ele mantém) com o Alto Comissariado e seus principais
colaboradores." Mas é claro que o Sr. Khan está à cabeça da lista de
amigos. O que continua por saber é que outras "boas relações" este
especialista marroquino em corrupção tem ainda dentro das instituições das
Nações Unidas, e que provavelmente ainda mantém em Nova Iorque, seu novo posto
de serviço.
Sabemos, por um outro relatório, que foi Khan
quem tudo fez para acelerar o cancelamento do seminário a alguns dias da sua
realização. Ele foi a Nova Iorque para persuadir o Diretor da Representação a
proceder ao cancelamento nada simpático para os participantes se estavam preparando
para viajar para Nova Iork, incluindo a Sra. Kerry Kennedy.
E
a «dinheirama»?
Quando sabemos que todos os esforços e
serviços de Khan são generosamente pagos por Marrocos, é fácil entender por que
razão o alto funcionário do ACNUR está sempre tão atento aos desejos dos seus
novos mestres.
Hilale escreve num relatório datado de 06 de
março de 2013 que Khan lhe falara sobre "o desejo do Alto Comissário, que
Marrocos pudesse transferir, o mais breve possível, a contribuição anual
voluntária ao ACNUR", em virtude, como Khan "conta ao seu amigo"
— de acordo com o texto — da crise financeira da organização e do número
crescente de refugiados no Médio Oriente e no Sahel ".
No entanto, acrescenta o embaixador Omar Hilale,
"Khan pediu aos seus serviços que não enviassem uma nota escrita a
Marrocos (tal como solicitado por Guterres) para não interferir. Ele próprio se
encarregou de entrar em contato comigo abordando esta questão de maneira
informal e, também pelas relações excepcionais do ACNUR com Marrocos". Resultou
daqui que a contribuição Marrocos foi concedida de imediato, para garantir a
lealdade de seu top-peão no ACNUR.
Conclusão
Que conclusão se pode tirar de todas estas
informações comprometedoras e incriminatórias contra este alto funcionário do ACNUR?
A resposta deve ser dada pelas mais altas autoridades da Organização das Nações
Unidas, uma vez que se tratam de gravíssimas acusações, de atos de espionagem claros
contra personalidades internacionais e, pior ainda, um padrão criminoso e
intencional de um alto funcionário que tem que guardar sigilo do seu trabalho e
das suas funções.
Fonte : Pambazuka
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