Insurreição
independentista no Sahara espanhol. (1956-1958)
Em Outubro de 1956, o Exército de Libertação
Nacional Marroquino (ALN) começou a infiltrar grupos armados no Sahara Espanhol
com o pretexto de atacar os postos fronteiriços do exército francês na
Mauritânia. Em meados de 1957, o seu campo de ação expandiu-se até à colónia
espanhola, com aproximadamente 2.500 combatentes.
Nesse tempo, para a estratégia marroquina, o
Sahara Espanhol era uma prioridade secundária, utilizando-a em seu favor para
desviar a atenção do poder espanhol daquele que era o seu objetivo principal: a
região de Ifni.
As forças marroquinas, tendo fracassado ao atacar
Ifni, iniciaram hostilidades no Sahara Espanhol atacando a cidade de El Aaiún
no dia 26 de Novembro de 1957 na estação de Telata. Desde então, e até 23 de
Dezembro, sucederam-se as tentativas de assalto à capital saharaui sem êxito.
Espanha
cede Tarfaya a Marrocos. (1958)
A partir de 10 de Fevereiro de 1958, Espanha e
França desencadeiam conjuntamente e de forma simultânea as ofensivas:
"Operação Teide", que mobilizou 10.000 soldados e 100 aviões espanhóis,
e a "Operação Ecouvillion (Vassourada)", que mobilizou 5.000 homens e
70 aviões franceses. Duas semanas mais tarde, os exércitos europeus tinham
esmagado a insurreição, e a " paz e a ordem" coloniais reinavam novamente
no Sahara Espanhol e nos territórios limítrofes da Mauritânia e de Marrocos.
Finalmente, no dia 1 de Abril de 1958, Espanha cedeu a Marrocos a zona saharaui
de Tarfaya a troco do Reino marroquino, no futuro, não voltar a alterar a paz na
região sahariana.
Evolução
social e económica do Sahara espanhol. (1960-1970)
Após a derrota da insurreição de 1958, o governo
espanhol aplicou severas represálias contra a população saharaui e forçou milhares
de famílias a procurar refúgio nos territórios limítrofes de Marrocos, Argélia e
Mauritânia.
Os acontecimentos do ano de 58 levaram a que o governo
de Madrid se passasse a interessar mais pela sua distante colónia. Ao longo dos
anos 60 foi-se dando um processo de mudanças económicas e sociais no Sahara Espanhol.
Em 1963, realizam-se importantes investimentos nas jazidas de fosfatos de
Bu-Craá, e isso estimulou a actividade económica da colónia e modificou os
costumes da população autóctone. Com a urbanização e o abandono progressivo da
vida nómada, começa-se a formar uma consciência nacional saharaui.
Durante a década de 60 surge uma nova geração de
independentistas, nascida das experiências e fracassos anteriores, que impulsiona
um nacionalismo renovador, baseado na consciência nacional e fundamentado em argumentos
políticos.
Em Novembro de 1960, a Assembleia Geral da ONU, no
seu XV período de sessões, aprova a Resolução 1514 sobre o processo de
descolonização das regiões coloniais que ainda subsistiam no mundo. O Comité
Especial encarregado de aplicar a referida resolução, elabora uma lista de
territórios a ser descolonizados, entre os quais figura o Sahara Ocidental.
Em 1966, O Comité Especial pediu a Espanha que criasse
condições para realizar um referendo no Sahara, a fim de que a população autóctone
pudesse expressar-se livremente sobre o seu futuro. O governo de Madrid aceita
o pedido, mas o que fez foi transformar o Sahara numa "província"
espanhola introduzindo reformas no regime jurídico e administrativo da colónia e
criando a Assembleia Geral do Sahara (a Yemáa).
Foi assim como o franquismo desperdiçou a oportunidade de proporcionar aos
saharauis a sua independência.
|
Ibrahim Bassiri - líder do MLS - Preso, desaparecido e assassinado pela força colonial espanhola |
Em 1968, um intelectual saharaui, Mohamed Sidi
Ibrahim "Bassiri", fundou o Movimento de Libertação do Sahara –MLS para
reivindicar pacificamente a independência do Sahara Ocidental. Em pouco tempo o
movimento agregou nas suas fileiras centenas de militantes entre operários e empregados
na indústria, funcionários da administração colonial, estudantes, sargentos e
soldados das tropas indígenas.
Antecedentes
históricos da fundação da Frente Polisario. (1970-1973)
Dadas as pressões internacionais, o governo de
Madrid e o governador do Sahara congeminam e organizam, em 1970, uma atividade
política em El Aaiún com fins propagandísticos para influir na opinião pública
internacional. A encenação consiste numa manifestação mediante a qual a população
saharaui mostraria a sua adesão ao Estado espanhol. Chamam jornalistas e observadores
para que fossem testemunhas do acontecimento, mas o Movimento de Libertação do Sahara
convoca os seus militantes e simpatizantes para uma manifestação paralela a fim
de desmontar a manobra colonialista. Na manhã do dia 17 de junho de 1970, o dia
marcada para a realização da manifestação propagandística, uns quantos grupos
concentram-se frente à sede do Governo, enquanto uma multidão enche uma praça
da cidade gritando palavras-de-ordem independentistas. Pela tarde, a Legião Espanhola
abre fogo sobre a multidão causando numerosos mortos e feridos. E nessa noite é
desencadeada uma “caça-ao-homem” a dirigentes e militantes do MLS; centenas são
detidos; alguns desaparecem, incluindo o próprio líder "Basiri". Esta
ação repressiva acabou para sempre com os projetos de "fraternidade"
entre espanhóis e saharauis.
Na sequência da repressão, a militância
nacionalista dispersa-se por temor e muitos de seus integrantes refugia-se nos
países vizinhos, onde encontram ajuda nas comunidades saharauis aí residentes e
reorganizam-se. Em 1971 começam de novo a formar-se grupos nacionalistas nas
cidades de Zouerat (Mauritânia) , Tan Tan (na província de Tarfaya cedida pela
Espanha a Marrocos em 58) e Rabat
(Marrocos). É precisamente em Rabat onde surge um núcleo muito ativo de
estudantes universitários, entre os quais se destacava El Ouali Mustafa Sayed. Este
núcleo, ao longo de 1972, promove encontros entre os diversos agrupamentos
saharauis dispersos por Marrocos, Argélia e Mauritânia.
A
Frente Polisario, ideologia política e campo de ação. (1973)
Em Janeiro de 1973 multiplicam-se os encontros
destes grupos e fortalece-se a sua coordenação. Desta maneira, em finais de
Abril de 1973 tem lugar uma conferência cujas sessões de trabalho se realizam de
forma intermitente e em distintos lugares do deserto para despistar o serviço
de informações franquista. Nestas sessões é decidido criar uma organização político-militar
para lutar pela independência. No dia 10 de Maio de 1973, em Zouerat (na
Mauritânia), a conferência encerra os seus trabalhos fundando a Frente Popular
de Libertação do Saguia El Hamra e Rio de Ouro - Frente POLISARIO.
A Frente Polisario é um movimento de libertação nacional
democrático e anticolonialista. A organização reúne todos os setores e
personalidades mais progressistas da sociedade saharaui, onde quer que estejam:
no exílio, nas regiões libertadas ou sob a ocupação marroquina.
Seus principais objetivos são a independência
total do Sahara Ocidental e a construção de um Estado moderno no contexto de uma
integração regional magrebina. No plano internacional, a Frente Polisario
defende a criação de um Estado palestiniano, a unidade do mundo árabe e a eliminação
de toda a forma de colonialismo em África.
A
guerra de libertação nacional contra Espanha. (1973-1974)
A 20 de Maio de 1973, dez dias depois da sua
fundação, a Frente Polisario leva a cabo a sua primeira ação armada contra o colonialismo
espanhol. O objetivo foi o posto policial de El Janga. Esta operação marca o início
de uma guerra que em breve ultrapassa a capacidade de controlo da administração
espanhola do território saharaui. As ações posteriores fizem aumentar o
prestígio da Frente Polisario entre a população saharaui e os soldados nativos
enquadrados no exército colonial.
1974 é um ano chave para o fortalecimento do Exército
de Libertação; por um lado multiplica as suas ações de combate e intensifica a sua
campanha política para ganhar simpatizantes entre os soldados saharauis do exército
colonial. Por outro lado, começa a receber armas da Líbia e da Argélia.
Espanha
ante a descolonização. (1974-1975)
Ante a ofensiva saharaui, o governo espanhol trata
de ganhar tempo para criar as bases sobre as quais pretende erigir um futuro governo
saharaui "independente", que garanta os interesses económicos espanhóis.
A 20 de Agosto de 1974, o regime franquista envia uma carta ao Secretário-
Geral da ONU anunciando a intenção de realizar um Referendo de Autodeterminação
no Sahara durante o primeiro semestre de 1975. Ao mesmo tempo, apoia a formação
de um partido político fiel aos interesses de Espanha denominado "Partido
de União Nacional Saharaui" - PUNS.
Fundação
da Frente Polisario. (1975)
Durante o ano de 1975, várias patrulhas de
militares saharauis passam-se para a Frente Polisario com veículos e armamento.
Ao longo desse ano o Exército de Libertação tomo o controlo de numerosos postos
do exército colonial e mantem a segurança na imensidade do deserto.
Após dois anos e meio de guerra, a Frente
Polisario coroa os seus esforços político-militares com a realização, a 12 de Outubro
de 1975, da Convenção para a Unidade Nacional, na localidade de Ain Ben Tili. Mas
nesse tempo já existia um acordo entre Espanha e o reino de Marrocos para a
entrega do território saharaui.
À convocatória da Frente Polisario acorrem personalidades
de todas as forças políticas partidárias da independência: representantes, membros
da Yemáa e alguns dirigentes do PUNS.
Todos eles, sob a direcção e a presidência de El Ouali Mustafa Sayed, proclamam
a união do povo em torno do programa e das estruturas da Frente Polisario com o
objetivo de alcançar a independência e defender a integridade territorial do Sahara.
No seu programa acordavam:
- Libertar a Nação de todas as formas de colonialismo
e alcançar uma independência completa.
- Edificar um regime republicano nacional com participação
ativa e efetiva da população.
- Construir uma autêntica unidade nacional.
- Criar uma economia nacional baseada no desenvolvimento
agropecuário e industrial, a nacionalização dos recursos mineiros e a proteção dos recursos marinhos.
- Garantir as liberdades fundamentais dos cidadãos.
- Distribuir de forma justa as riquezas e eliminar os
desequilíbrios.
- Anular toda a forma de exploração.
- Garantir habitação a todo o povo.
- Restabelecer os direitos sociai e políticos da mulher.
- Estabelecer o ensino gratuito e obrigatório a todos
os níveis e para toda a população.
- Combater as doenças, construir hospitais e proporcionar
cuidados médicos gratuitos.
12 de Outubro de 2015, 42º aniversário da Unidade
Nacional Saharaui
A luta continua. Sahara Livre!
Fonte: El Confidencial Saharaui