quarta-feira, 2 de abril de 2014

As vicissitudes que implica escrever um livro sobre Marrocos




O primo do rei Mohamed VI foi espiado em Paris quando preparava o lançamento das suas memórias

 Escrever um livro sobre Marrocos e a sua monarquia pode gerar algum contratempo ao seu autor mesmo que ele pertença à família real alauita. Moulay Hicham, primo direito do rei Mohamed VI, terceiro na linha de sucessão, acaba de passar por essa experiência estes dias em Paris onde se deslocou para preparar o lançamento do livro “Journal d’un Principe Banni” que a editora francesa Grasset publicará na próxima semana.

Moulay Hicham, de 50 anos, foi apelidado de príncipe vermelho pelas suas críticas ao funcionamento da monarquia marroquina e as suas alegações a favor da democratização do país. Distanciou-se do seu primo, o monarca, após a sua entronização em 1999 e três anos depois optou por exiliar-se nos Estados Unidos. “Não suporto este ambiente policiesco”, declarou então. “Estou farto de ser escutado e seguido”, acrescentou indignado. Passa, no entanto, temporadas de descanso em Marrocos.

Quando na semana passada se deslocava por Paris foi seguido “três indivíduos” em carro ou a pé, segundo constatou a segurança do hotel Fouquet’s Barrière onde se alojava. Alain Kada, o diretor da segurança da unidade hoteleira, chamou a polícia que requereu a documentação dos três acompanhantes não desejados pelo príncipe. Explicaram que eram Paparazzi.

A mesma situação se passou na passada 6.ª feira, no aeroporto parisiense de Orly, mas desta vez foi o pessoal da RAM, as linhas aéreas marroquinas, quem detetou os movimentos suspeitos em torno de Moulay Hicham e chamou a polícia que pediu a documentação a um francês que tinha feito inúmeras fotos do príncipe e dos seus acompanhantes. Todos foram para a comissaria e o francês declarou que era acompanhado por dois marroquinos que fugiram quando foram destetados. Moulay Hicham recusou apresentar denuncia.

O conteúdo do libro, de 380 páginas, é um dos segredos mais bem guardados. O primo do monarca começou a escrevê-lo em 2006 durante a sua convalescença, após lhe terem colocado um quinto bypass. É uma biografia, mas também uma longa análise do reinado de Hassan II (1961-1999) e Mohamed VI, o qual diz que lhe pesa o trono, não gostar de política e, por isso, depende excessivamente de seus íntimos colaboradores. Nunca, até agora, algum membro da família real tinha escrito um livro.

A jornalista francesa Catherine Graciet, autora junto com o escritor Eric Laurent, de “O Rei Predador” (editorial Le Seuil, 2012), assegura que o seu telefone “foi posto sob escuta” durante a preparação do livro. Cinco antes tinha publicado outro livro, “Quando Marrocos for Islamita” (La Découverte), cuja edição foi pirateada nos computadores da editora antes de ser enviado para a gráfica “por pessoas impacientes por o ler”.

Por: jornalista Ignacio Cembrero | 01 de abril de 2014


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