quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A Frente Polisario não tomará parte nas mesas redondas - afirma Brahim Ghali, SG da Frente POLISARIO e Presidente da RASD



(APS) 01-12-2021 - O Presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) e Secretário-Geral da Frente Polisario, Brahim Ghali, afirmou que a parte saharaui não participará nas mesas redondas sobre o Sahara Ocidental, mas que está disposta a regressar às negociações, desde que sejam dadas garantias internacionais para assegurar o direito do povo saharaui à autodeterminação

Em entrevista concedida à televisão argelina, transmitida terça-feira à noite, o Presidente saharaui afirmou que "a parte saharaui poderá chegar à resolução da questão do conflito do Sahara Ocidental, através da organização de negociações entre as duas partes em conflito (Marrocos / Frente Polisario), sob os auspícios da União Africana (UA), a fim de alcançar uma solução que permita à região viver em paz e conduza a ocupação a retirar as suas tropas dos territórios saharauis”.

Para Brahim Ghali, "são oferecidas duas opções ao ocupante marroquino: a solução defendida pelas Nações Unidas com base na organização de um referendo de autodeterminação, ou a solução negociada defendida pela UA.

Na entrevista, Ghali referiu-se ao papel a desempenhar pela UA, indicando que apesar "dos tímidos esforços que são desenvolvidos ao nível da organização pan-africana, a parte saharaui permanece, contudo, apegada ao seu papel de parceiro das Nações Unidas no plano de resolução, apelando à "necessidade de ativar as negociações entre as duas partes do conflito e de impor à parte que é teimosa, a colaboração com a comunidade internacional".

Relativamente à última decisão do Conselho de Segurança sobre a prorrogação da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO), o Secretário-Geral da Frente Polisario lamentou este facto que foi decepcionante e ignorou a realidade do reinício da luta armada pelo povo saharaui, na sequência da violação por parte de Marrocos do acordo de cessar-fogo a 13 de novembro de 2020.

Relativamente à nomeação do novo Enviado Pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental, Staffan de Mistura, o Ghali observou que este último "está a ter dificuldades em desempenhar as suas funções, tendo em conta a falta de vontade por parte do Conselho de Segurança em encontrar uma solução para esta questão, contentando-se em gerir o conflito”.

“Apesar dos factos", acrescenta o Presidente Ghali, "a parte saharaui espera que o Conselho de Segurança apoie o novo enviado a "exercer pressão sobre o ocupante que continua a opor-se às decisões da legalidade internacional".

Relativamente ao recurso interposto pela Comissão da UE ao Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) para continuar a pilhagem da riqueza do Sara Ocidental, Ghali recordou que o TJUE emitiu três acórdãos já em 2016 reconhecendo que Marrocos e o Sahara Ocidental são dois territórios "distintos" e "separados". [O TJUE viria a reforçar essa posição com a mais recente sentença de setembro passado, decisão de que a Comissão interpôs agora recurso].

Os países envolvidos com Marrocos apresentarão mais recursos contra o veredicto para ganhar tempo, acrescentou Ghali, sublinhando que "uma vez que os prazos tenham terminado, a parte saharaui iniciará uma nova era, nomeadamente a aplicação das decisões do TJUE.

O exército saharaui desenvolverá a sua luta armada adaptando-se à evolução da guerra

O presidente saharaui afirmou que o exército saharaui é chamado a desenvolver a sua luta armada adaptando-se à evolução da guerra no Sahara Ocidental, um ano após a violação do cessar-fogo assinado com Marrocos.

Ghali disse que a guerra ainda não tinha terminado, indicando que "os esforços da liderança saharaui para acalmar as ruas enquanto esperava que a comunidade internacional, liderada pelo Conselho de Segurança, tomasse consciência da situação tinham sido torpedeados pela flagrante violação do plano de resolução por parte de Marrocos.

 

"...as perdas sofridas pelo inimigo são incomensuráveis"

Relativamente à escalada da guerra, o presidente saharaui disse que não era necessário fazer declarações a priori sobre este facto, no sentido de que a guerra impõe a sua lei em conformidade com os novos métodos aplicados, observando que o povo saharaui está determinado a desenvolver a sua luta armada até que o ocupante admita que a sua política baseada na obstinação, na precipitação e no genocídio não servirá qualquer propósito.

"A natureza da guerra está a desenvolver-se e cada fase é mais dura e influente no aspeto psicológico e material do colonizador", sublinhou, explicando que o exército saharaui "goza de um espírito de iniciativa, que é um ponto forte que o distingue do exército marroquino, que está preso nas suas entrincheiras.

"Atacamos onde queremos e quando queremos", disse Ghali, revelando que a República Saharaui está a trabalhar para desenvolver alianças militares com outros países em apoio à causa saharaui, alianças que foram concretizadas, entre outras, pela assinatura de novos acordos de apoio à luta do exército saharaui.

Apesar da utilização intensiva de drones pelo exército marroquino nos últimos dois meses, não conseguiu enfrentar os ataques do exército saharaui, daí que quase todos (90%) dos seus ataques são realizados contra alvos civis, sublinhou.

Além disso, as perdas militares nas fileiras dos saharauis permanecem, um ano após o regresso da guerra, "muito baixas", disse, lamentando ao mesmo tempo as grandes perdas que afetaram os civis, em referência aos últimos massacres perpetrados em novembro passado.

Por outro lado, as perdas sofridas pelo inimigo são incomensuráveis, recordou Ghali, citando, como exemplo, um único ataque perpetrado por elementos do exército saharaui contra uma base militar junto ao muro da vergonha, que resultou em 53 mortes entre os soldados marroquinos e vários feridos.

O uso intenso do terrorismo de Estado pelo regime terrorista e expansionista marroquino contra civis indefesos não diminuirá a dedicação dos cidadãos saharauis dispostos a sacrificar-se, quanto mais a sua vontade de continuar a luta, concluiu.

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