TSA - Argel (Francês) - 26-07-2021 - Num contexto marcado pelo escândalo retumbante da espionagem de muitos países pelo Reino (Alauita), incluindo os seus aliados, uma nota de um renomado instituto alemão recomenda aos Estados membros da União Europeia que revejam a sua estratégia na região do Magrebe e que trabalhem para acabar com "as tentações hegemónicas" de Marrocos.
O conteúdo da nota é uma reprovação à política europeia que tem favorecido Marrocos em detrimento dos outros países do Magrebe. O seu autor recomenda em substância fazer parar Marrocos nas suas "tentações hegemónicas" sobre os outros países do Magrebe e "deixar de ajudar o seu crescimento e desenvolvimento económico", o que, ainda segundo a nota, "impede assim a emergência da Argélia e da Tunísia".
A nota foi emanada pelo Stiftung Wissenschaft und Politik (SWP, Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança), uma instituição fundada em 1962 que aconselha o Parlamento alemão.
Descreve a política marroquina na região como "tentações hegemónicas" e apela a que se ponha termo a ela. Intitulada "Rivalidades magrebinas sobre a África subsahariana: Argélia e Tunísia procuram seguir os passos de Marrocos", a nota, que não é oficial, é uma espécie de orientação para a Alemanha e a UE sobre a política a ser conduzida no Magrebe. A nota é de certa forma uma censura pela grandeza concedida pela UE ao Reino, em detrimento dos outros Estados da região.
"A política subsahariana de Marrocos exacerbou as tensões com a Argélia e despertou ambições na Tunísia. Argel (...) procura contrariar os avanços de Rabat. Tunes, por seu lado, está a tentar seguir os passos de Rabat, esperando que o estreitamento das relações com África estimule o crescimento económico", escreve a autora da nota, a Dra. Isabelle Werenfels.
Alguns números contidos na nota são reveladores desta hegemonia, particularmente nas relações económicas com a África subsahariana. Enquanto a Argélia exportou apenas 440 milhões de dólares para estes países em 2019 e a Tunísia 355 milhões de dólares, Marrocos ultrapassou os mil milhões de dólares (1,308 mil milhões de dólares).
O mesmo se aplica ao investimento direto estrangeiro (IDE) na região: Marrocos está bem à frente com 1,446 mil milhões de USD, muito à frente da Tunísia (292 milhões) e da Argélia (146 milhões).
O que a nota sugere para a União Europeia
A nota sugere que a União Europeia deveria "considerar estas tendências como uma oportunidade para a integração africana e a cooperação triangular UE/Magrebe/Sub-Sahara". "Isto poderia contrariar a crescente sensação de irrelevância da Argélia, reforçar a economia tunisina, relativizar as ambições hegemónicas de Marrocos e assim mitigar a dinâmica negativa da rivalidade", diz.
“É portanto óbvio", acrescenta, "que exportadores experientes como a Alemanha ofereçam conhecimentos técnicos especializados aos dois "retardatários" em questões como o desenvolvimento de estratégias e a expansão das infraestruturas de exportação de produtos locais para África”.
A publicação desta nota surge num contexto particular marcado pela crise entre Marrocos e certos países da UE, incluindo a Alemanha, e pelo escândalo Pegasus, que poderá ter consequências graves para Marrocos.
"Este contexto obrigará a França (cujo presidente foi espiado pela Pegasus, nota do editor) e toda a União Europeia a clarificar as suas relações com os países do Norte de África e a repensar as suas relações económicas e migratórias", escreve o jornalista económico francês Jean-Marc Sylvestre (Nota: apresentado por vezes por ser um ultraliberal).
Para ele, e visto da Alemanha, esta nota significa em substância: "Marrocos deve ser travado nas suas tentações hegemónicas sobre os países do Magrebe e, em particular, deixar de ajudar o crescimento e o desenvolvimento económico de Marrocos, o que dificulta assim o surgimento da Argélia e da Tunísia".
Em maio passado, pouco antes da crise com a Espanha e a chantagem migratória de Marrocos, este país já estava em desacordo com outro grande país da UE, a Alemanha.
Deve dizer-se que o país de Angela Merkel nunca foi um defensor declarado das teses marroquinas sobre a questão do Sahara Ocidental, ajudando a equilibrar a posição da Europa sobre a questão.
A 6 de maio, Marrocos chamou a Rabat o seu embaixador em Berlim, denunciando "actos hostis" da Alemanha. Para além das suas posições sobre o Sahara, Marrocos criticou a Alemanha por combater o papel regional do Reino, nomeadamente sobre a questão líbia.
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