sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sahara: Clinton continua a sabotar Obama

Estamos em véspera de uma importante decisão da ONU sobre o Sahara Ocidental. E o papel dos EUA no conflito é fundamental. Como já disse aqui noutra ocasião, o presidente Barack Hussein Obama apoia a realização de um referendo de autodeterminação para o povo do Sahara Ocidental. No entanto, a sua ministra Hillary Rodham Clinton está a fazer todo o possível para sabotar os seus esforços. A questão é o que fará a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice. Por agora, Marrocos e o lobby pró-marroquino, com Clinton à cabeça, está a pressionar até ao extremo de modo a que a resolução do Conselho de Segurança não seja favorável ao Sahara Ocidental.

I. A PRESIDÊNCIA DE OBAMA E O SAHARA OCIDENTAL 
 
Os leitores deste blog sabem muito bem que, após a eleição de Obama como presidente dos EUA, se pôs fim à política de George W. Bush no final de seu mandato de alinhamento cego com o Makhzen. E digo no final do seu mandato porque, no início, Bush apoiou James Baker e o seu plano para descolonizar o Sahara Ocidental. 
E os leitores sabem também que a Secretária de Estado (ministra das Relações Exteriores), no entanto, tem posições muito diferentes do seu presidente. Em muitas questões. Ainda recentemente viu-se na crise da Líbia, onde Clinton defendia a guerra e Obama não. Clinton acabou por convencer Obama a participar na guerra liderada pelo aventureiro Sarkozy. 
 Para tornar ainda mais complexa a situação, o Secretário-Geral da ONU nomeou como Enviado Pessoal para o Sahara Ocidental um diplomata dos EUA, Christopher Ross, que parece mais próximo de Obama do que de Clinton.
Eis alguns artigos em que tenho analisado essas questões: 
 
No ano passado foi apresentado no Conselho de Segurança, cruamente, a questão das violações dos direitos humanos no Sahara Ocidental. Vários membros do Conselho (Reino Unido, Áustria, México, Uganda) levantaram a questão. Mas a pressão dos Clinton e do lobby pró-marroquinos existente nos EUA conseguiram que os EUA não tenham tomado uma posição. 
O Conselho de Segurança aprovou a resolução 1920. E continuou a falar sobre os "esforços sérios e credíveis" de Marrocos, apesar de, desde 2007, não tenha feito nada que não seja  prender saharauis no Sahara ... . Que agora, é claro, está libertando a conta-gotas... 
 Após esta resolução, publiquei um artigo intitulado
 
 Sahara Ocidental: ONU de costas para a realidade, até quando? Nele dizia:

A reunião 1920 do Conselho de Segurança sobre o Sahara Ocidental poderá significar o fim de um ciclo. É difícil encontrar na história da ONU uma resolução sobre o Sahara Ocidental em que o texto esteja mais desfazado da realidade. Mas essa fuga da realidade pelo Conselho de Segurança, provavelmente não pode prosseguir, pois a credibilidade já baixa das Nações Unidas no processo pode ser reduzida a nada. Acontece que o Conselho de Segurança, ao afastar-se de forma tão extrema da realidade, levou, paradoxalmente, a que ela fosse percebida de maneira muito mais clara. 
 A realidade é que agora é a defesa dos direitos humanos que tem permitido que o povo saharaui tome a iniciativa do conflito e em convergência de ambos os lados da muro. 
A realidade é que a França é responsável de o Conselho de Segurança impedir o progresso na resolução do conflito aliando-se com Marrocos ao preço do seu isolamento, da degeneração do seu papel como membro permanente do Conselho de Segurança e desonrando a sua própria história constitucional.

III. ... E AO NEGAR A REALIDADE, O CONFLITO DO SAHARA OCIDENTAL DETERIORA-SE
  aconteceu o que tinha que acontecer. O que acontece cada vez que se fecham os olhos à realidade. 
 E o que aconteceu foi a devastação brutal pelas tropas de ocupação do acampamento de Gdeim Izik a 8 de Novembro de 2010. 
 O problema do respeito dos direitos humanos no Sahara Ocidental, a começar pelo direito à autodeterminação, já não pode ser negada.

IV. ESTRATÉGIAS EM CONFRONTO
 
Neste novo contexto em que já não pode ser negada a realidade assistimos a um confronto entre duas estratégias.
Por um lado, está a estratégia de "O Padrinho" do Makhzen, que já não é negar o problema, mas, como já aqui descrevemos, mas tentar instrumentalizar o problema de como garantir o respeito dos direitos humanos ... para legitimar a ocupação marroquina.
Mas, por outro lado, deparamo-nos com a estratégia de Christopher Ross, que em parte está cristalizada na proposta de resolução sobre o Sahara Ocidental do chamado "grupo de amigos" do do Sahara Ocidental que reativa o referendo de autodeterminação.

V. CLINTON QUEIMA ARGUMENTOS EM DEFESA DE MOHAMED VI 
 
Desde que assumiu o cargo no Departamento de Estado, Clinton tem apoiado Mohamed VI. Isto é em parte explicável porque Mohamed VI sempre foi um doador generoso da Fundação Clinton e também porque o monarca sempre foi muito amável e obsequioso nas viagens particulares que os  Clinton fizeram a Marrocos. 
 Neste blog fiz eco de umas declarações escandalosas suas, em Novembro de 2009, escandalosas porque se trata de toda uma Secretaria de Estado, que não hesita em fazer afirmações objetivamente falsas em relação ao Sahara Ocidental para prestar apoio a Mohamed VI. Estas alegações objetivamente falsas, chegaram mesmo ao ridículo de atribuir ao seu marido, Bill Clinton, que foi presidente entre 1992 e 2000, apoio para o plano da pseudo-autonomia para o Sahara Ocidental por Marrocos ...que só viria a ser apresentado em 2007 ! 
 No entanto, aquelas suas declarações de Novembro de 2009 surtiram efeito: a aprovação e a entrada em vigor da resolução 1920 do Conselho de Segurança. Resolução que não disse ainda a Marrocos as coisas pelo seu verdadeiro nome. 
Mas se é verdade que estas declarações de Clinton conduziram à resolução 1920, então Clinton tem então uma enorme responsabilidade no falhanço que representou esta resolução e cuja maior expressão é a brutal devastação do acampamento de Gdeim, em Novembro de 2010.
Agora, Clinton está de volta à carga. 

A 23 de Março numa conferência de imprensa conjunta com o ministro marroquino Taieb Fassi-Fihri, Hillary VOLTOU A FALTAR À VERDADE EM DECLARAÇÕES PÚBLICAS. Repito para que fique claro: Hillary Clinton voltou a mentir sobre o Sahara Ocidental ao repetir as mesmas falsidades que já tinha dito em Novembro de 2009 
 O objetivo, novamente, é claro: trata-se de evitar que a nova resolução sobre o Sahara Ocidental apoie os direitos do povo saharaui. 
Tudo parece indicar que, desta vez, essa pressão não está sendo tão bem sucedida como em 2009. A pressão aumentou. E a prova é que "alguém" planeou uma carta conjunta dos últimos oito embaixadores dos EUA em Marrocos (Joseph Verner Reed Jr., Thomas Nassif, Michael Ussery, Frederick Vreeland, Marc Ginsberg, Eduardo Gabriel, Margaret D. Tutwiler, Thomas Riley) para "aplaudir" o compromisso de Clinton de estabelecer uma parceria "estratégica" com Marrocos.

VI. CONCLUSÃO

A pressão de Clinton sobre Ross e Obama tem sido continua. Teve exito em 2009-2010. No entanto, os resultados da sua política não parece que sejam agora motivo de orgulho.
- Em 2009 Clinton elogiava as "reformas" em Marrocos...
que agora o próprio regime alauita confessa que eram manifestamente insuficientes.
- Em 2009 Clinton apoiava a fórmula do Majzen para o Sahara Ocidental...
que Gdeim Izik demonstrou que foi um fracasso.
Clinton, sin qualquer pudor, volta a defender em 2011, o mesmo que em 2009 e 2010.. ainda que a realidad o tenha desmentido!
Os EUA confronta-se com um desafio histórico:
Honrará os principios que a fizeram uma grande Nação, como prometia Obama?
ou
teimará na defesa de um regime fracassado, como faz Clinton?
Barack Hussein Obama, tem a palavra.
 

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