sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Magrebe-2013 : uma visão sobre os acontecimentos importantes




O que de mais importante ocorreu em alguns países do Magrebe (Marrocos, Tunísia, Mauritânia e Líbia) analisado por uma publicação argelina (Algérienews)

Inúmeros acontecimentos marcaram o Magrebe em 2013 bem como a União dos Povos, embora enquanto organização esta continue a ser uma utopia.
Marrocos conheceu uma recessão e dificuldades económicas que obrigaram o reino a fazer empréstimos junto de instituições financeiras mundiais.
A Tunísia contínua em busca de um consenso nacional para uma saída da crise. A crise política pesa enormemente sobre a economia e as receitas do turismo.
Na Líbia, a autoridade provisória com enorme dificuldade tenta implementar instituições de segurança capazes de criar uma atmosfera de serenidade e tranquilidade.
Na Mauritânia, as eleições locais marcaram o final do ano passado com o reforço do partido no poder.
Os Saharauis não conseguiram realizar o seu sonho de autodeterminação diante das vicissitudes políticas de Washington e da oposição da França.
 
Rei Mohamed Vi de Marrocos

Marrocos : um passo atrás

A tensão entre Marrocos e a Argélia marcou seriamente os espíritos em 2013. Nunca as relações entre os dois países chegaram a uma fase tão confusa. Marrocos aproveitou a oportunidade de uma carta do Presidente da República, Abdelaziz Bouteflika, lida em Abuja pelo ministro da Justiça, Tayeb Louh,  para gritar por conspiração. O Makhzen mobilizou todos os seus centros e porta-vozes para denegrir a Argélia.
A crise diplomática inflamou-se ainda mais dos dois lados depois que um indivíduo que diz pertencer à "juventude monarquista" ter arrancado a bandeira do consulado argelino em Casablanca.
As relações argelino-marroquinas também estiveram no centro do discurso do rei de Marrocos, por ocasião do 38 º aniversário da Marcha Verde, a 6 de novembro. Poucos dias depois, Bouteflika, enviou uma carta de felicitações ao rei por ocasião do 58 º aniversário da independência de Marrocos. Dado o clima prevalecente, esta foi vez vista como um gesto de decoro diplomático.
O caso do pedófilo Espanhol agraciado por Mohamed VI quase colocou reino a ferro e fogo. O “Danielgate”, como o designou a imprensa marroquina, tem alimentado a ira dos marroquinos. Se a maioria da media nacional tinha avançado com grande contenção sobre um assunto que envolvia diretamente o rei, a cobertura do caso pela imprensa internacional e a posição da sociedade civil criaram um verdadeiro brua-á-á.
A repressão policial à manifestação de 2 de agosto em Rabat não conseguiu demover os marroquinos. Pelo contrário, as ONGs de Direitos Humanos foram ao ponto de apresentar uma queixa contra o ministro do Interior da época. No entanto, isso não extinguiu o fogo da controvérsia. Ainda sob a pressão social e internacional, Marrocos solicitou a extradição do pedófilo. Mas a Espanha acabou por se opor, alegando que os acordos de extradição de prisioneiros entre os dois países não incluem nacionais.
Hoje, Daniel Galvan cumpre a sua sentença em Espanha, com a possibilidade de sair da prisão em 2018, de acordo com o artigo 92 do Código Penal que prevê, sob certas condições, a liberdade condicional para presos com mais de 70 anos.
O caso do jornalista Ali Anouzla também despertou o interesse público. Preso em 17 de setembro, em Rabat, na sequência da publicação de um vídeo da Al-Qaeda para o Magrebe Islâmico, que incitava a cometer "atos terroristas" em Marrocos, o ex-editor do site Lakome.com foi e continua a ser acusado de atos terroristas.
  


Tunísia: A crise ... ainda e sempre

Ao longo de 2013, a Tunísia tem vivido sob o peso de uma grave crise política que deixou sua marca sobre a situação socio-económica do país, atingido também por uma ameaça terrorista que constitui um surdo golpe para a sua estabilidade e dificulta o seu processo de transição. As forças de oposição laicas não deixaram de tecer críticas severas ao partido islâmico no poder acusando-o de "má gestão dos assuntos do país" e "tolerância" face as facções extremistas acusadas ​​de estarem na origem dos atos de violência que sacodem o país. Acusações que são rejeitadas em bloco pelos dirigentes do partido no poder.
O assassinato do deputado Mohamed Brahmi, em julho passado, veio agitar a tensão entre o governo de transição chefiado por Ali Laârayedh, do partido islamita Ennahdha, e as forças da oposição laicas. Este assassinato foi o segundo, após aquele que matou, em fevereiro do mesmo ano, o político Chokri Bélaïd. Os partidos da oposição não hesitaram em apontar o dedo aos dirigentes da troika no poder, acusando-os de "má-fé" na elaboração da nova Constituição, com o único propósito de "prolongar" o período de transição, reprovando-lhes o fazerem nomeações partidárias no funcionamento do Estado "para prepararem operações de fraude na próxima eleição." Os dirigentes do partido no poder afirmam que o povo tunisino "votou neles em total democracia e, por consequência, não podem deixar de assumir as suas responsabilidades para cumprir a vontade da oposição, sob pena  de afundarem o país no desconhecido ". Durante muitos meses, os apoiantes de ambas as partes invadiram as ruas em diferentes regiões do país desatando um rio demonstrações e concentrações sem fim. O Livro Negro de Marzouki constituiu também um evento maior na vida política do país. Embora algumas publicações tivessem escapado ao controlo, as instâncias judiciárias tunisinas pronunciaram-se contra a sua difusão.
  


Mauritânia: nada mudou

O maior acontecimento político de 2013 na Mauritânia foi a organização de eleições legislativas e municipais em 23 de Novembro e 21 de Dezembro, respetivamente, depois de dois adiamentos devido à situação do estado civil e uma vã tentativa de estabelecer uma diálogo entre o governo e a ala mais radical da oposição. Um censo de 1,1 milhão de inscritos serviu de base para estas eleições, numa população global em idade de votar estimada em 1,9 milhões. Estas eleições tiveram a participação de sessenta partidos políticos, dos quais apenas quatro se reclamam da oposição. As eleições legislativas e autárquicas de 2013 foram boicotadas por dez partidos reagrupados na Coordenação da Oposição Democrática (COD) e alguns outros de tendência radical.
Após as eleições, que conheceram uma afluência estimada em 72 %, o presidente Mohamed Ould Abdel Aziz dispõe de uma confortável maioria de 108 deputados, numa assembleia nacional que conta com um total de 147 lugares. O partido principal da maioria, a União para a República, tem 74 membros e seus aliados do movimento presidencial elegeram 34 deputados. O movimento favorável ao poder é também amplamente maioritário nas assembleias municipais, apesar de uma forte presença da oposição nos municípios de Nouakchott, onde ganhou três dos nove presidentes camarários. Depois destas eleições, o presidente Mohamed Ould Abdel Aziz elogiou "o bom desenvolvimento" dos escrutínios e salientou o facto de que eles permitirem uma renovação da classe política, tanto a nível da assembleia nacional como nos conselhos municipais.
  


Líbia: um grande país “balcanizado”

O ano terminou na Líbia sem que nenhum progresso se tenha registado em termos de segurança. Autoridades Provisórias lutam por implementar Instituições de segurança enquanto as milícias retomam o caminho da violência. Grupos mercenários, jihadistas e separatistas cercam as perfurações de petróleo para encurralar o Governo interino a aceitar as suas diferentes exigências. É o ciclo do terror que se instalou em Trípoli e Benghazi, onde se registam ataques contra embaixadas e representações diplomáticas. O último ataque ocorreu na manhã do dia 30 de dezembro, contra a Embaixada da França em Trípoli. Fez dois feridos entre a polícia francesa, um dos quais gravemente, e causou grandes danos. Trata-se do primeiro ataque contra interesses franceses na Líbia desde a queda de Mouammar Kadhafi em 2011. Para o analista Patrick Haimzadeh, especialista sobre a Líbia, este ataque é sintomático de um país assolado pela violência permanente.


Algérienews, 01/01/2014

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