O que de mais importante ocorreu em alguns países do Magrebe (Marrocos, Tunísia, Mauritânia e Líbia) analisado por uma publicação argelina (Algérienews)
Inúmeros acontecimentos marcaram o Magrebe em 2013 bem como
a União dos Povos, embora enquanto organização esta continue a ser uma utopia.
Marrocos conheceu uma recessão e dificuldades económicas que
obrigaram o reino a fazer empréstimos junto de instituições financeiras mundiais.
A Tunísia contínua em busca de um consenso nacional para uma
saída da crise. A crise política pesa enormemente sobre a economia e as
receitas do turismo.
Na Líbia, a autoridade provisória com enorme dificuldade
tenta implementar instituições de segurança capazes de criar uma atmosfera de
serenidade e tranquilidade.
Na Mauritânia, as eleições locais marcaram o final do ano
passado com o reforço do partido no poder.
Os Saharauis não conseguiram realizar o seu sonho de autodeterminação
diante das vicissitudes políticas de Washington e da oposição da França.
Marrocos : um passo atrás
A tensão entre Marrocos e a Argélia marcou seriamente os espíritos
em 2013. Nunca as relações entre os dois países chegaram a uma fase tão confusa.
Marrocos aproveitou a oportunidade de uma carta do Presidente da República,
Abdelaziz Bouteflika, lida em Abuja pelo ministro da Justiça, Tayeb Louh, para gritar por conspiração. O Makhzen
mobilizou todos os seus centros e porta-vozes para denegrir a Argélia.
A crise diplomática inflamou-se ainda mais dos dois lados
depois que um indivíduo que diz pertencer à "juventude monarquista" ter
arrancado a bandeira do consulado argelino em Casablanca.
As relações argelino-marroquinas também estiveram no centro
do discurso do rei de Marrocos, por ocasião do 38 º aniversário da Marcha Verde,
a 6 de novembro. Poucos dias depois, Bouteflika, enviou uma carta de
felicitações ao rei por ocasião do 58 º aniversário da independência de
Marrocos. Dado o clima prevalecente, esta foi vez vista como um gesto de decoro
diplomático.
O caso do pedófilo Espanhol agraciado por Mohamed VI quase
colocou reino a ferro e fogo. O “Danielgate”, como o designou a imprensa
marroquina, tem alimentado a ira dos marroquinos. Se a maioria da media
nacional tinha avançado com grande contenção sobre um assunto que envolvia
diretamente o rei, a cobertura do caso pela imprensa internacional e a posição
da sociedade civil criaram um verdadeiro brua-á-á.
A repressão policial à manifestação de 2 de agosto em Rabat não
conseguiu demover os marroquinos. Pelo contrário, as ONGs de Direitos Humanos foram
ao ponto de apresentar uma queixa contra o ministro do Interior da época. No
entanto, isso não extinguiu o fogo da controvérsia. Ainda sob a pressão social
e internacional, Marrocos solicitou a extradição do pedófilo. Mas a Espanha acabou
por se opor, alegando que os acordos de extradição de prisioneiros entre os
dois países não incluem nacionais.
Hoje, Daniel Galvan cumpre a sua sentença em Espanha, com a
possibilidade de sair da prisão em 2018, de acordo com o artigo 92 do Código
Penal que prevê, sob certas condições, a liberdade condicional para presos com
mais de 70 anos.
O caso do jornalista Ali Anouzla também despertou o
interesse público. Preso em 17 de setembro, em Rabat, na sequência da
publicação de um vídeo da Al-Qaeda para o Magrebe Islâmico, que incitava a
cometer "atos terroristas" em Marrocos, o ex-editor do site Lakome.com
foi e continua a ser acusado de atos terroristas.
Tunísia: A crise ... ainda e sempre
Ao longo de 2013, a Tunísia tem vivido sob o peso de uma
grave crise política que deixou sua marca sobre a situação socio-económica do
país, atingido também por uma ameaça terrorista que constitui um surdo golpe
para a sua estabilidade e dificulta o seu processo de transição. As forças de
oposição laicas não deixaram de tecer críticas severas ao partido islâmico no
poder acusando-o de "má gestão dos assuntos do país" e
"tolerância" face as facções extremistas acusadas de estarem na origem dos atos de violência que sacodem o país.
Acusações que são rejeitadas em bloco pelos dirigentes do partido no poder.
O assassinato do deputado Mohamed Brahmi, em julho passado,
veio agitar a tensão entre o governo de transição chefiado por Ali Laârayedh, do
partido islamita Ennahdha, e as forças da oposição laicas. Este assassinato foi
o segundo, após aquele que matou, em fevereiro do mesmo ano, o político Chokri Bélaïd.
Os partidos da oposição não hesitaram em apontar o dedo aos dirigentes da troika
no poder, acusando-os de "má-fé" na elaboração da nova Constituição,
com o único propósito de "prolongar" o período de transição, reprovando-lhes
o fazerem nomeações partidárias no funcionamento do Estado "para prepararem
operações de fraude na próxima eleição." Os dirigentes do partido no poder
afirmam que o povo tunisino "votou neles em total democracia e, por
consequência, não podem deixar de assumir as suas responsabilidades para
cumprir a vontade da oposição, sob pena de
afundarem o país no desconhecido ". Durante muitos meses, os apoiantes de
ambas as partes invadiram as ruas em diferentes regiões do país desatando um rio
demonstrações e concentrações sem fim. O Livro Negro de Marzouki constituiu também
um evento maior na vida política do país. Embora algumas publicações tivessem
escapado ao controlo, as instâncias judiciárias tunisinas pronunciaram-se
contra a sua difusão.
Mauritânia: nada mudou
O maior acontecimento político de 2013 na Mauritânia foi a
organização de eleições legislativas e municipais em 23 de Novembro e 21 de
Dezembro, respetivamente, depois de dois adiamentos devido à situação do estado
civil e uma vã tentativa de estabelecer uma diálogo entre o governo e a ala
mais radical da oposição. Um censo de 1,1 milhão de inscritos serviu de base para
estas eleições, numa população global em idade de votar estimada em 1,9
milhões. Estas eleições tiveram a participação de sessenta partidos políticos,
dos quais apenas quatro se reclamam da oposição. As eleições legislativas e
autárquicas de 2013 foram boicotadas por dez partidos reagrupados na Coordenação
da Oposição Democrática (COD) e alguns outros de tendência radical.
Após as eleições, que conheceram uma afluência estimada em
72 %, o presidente Mohamed Ould Abdel Aziz dispõe de uma confortável maioria de
108 deputados, numa assembleia nacional que conta com um total de 147 lugares. O
partido principal da maioria, a União para a República, tem 74 membros e seus
aliados do movimento presidencial elegeram 34 deputados. O movimento favorável ao
poder é também amplamente maioritário nas assembleias municipais, apesar de uma
forte presença da oposição nos municípios de Nouakchott, onde ganhou três dos
nove presidentes camarários. Depois destas eleições, o presidente Mohamed Ould
Abdel Aziz elogiou "o bom desenvolvimento" dos escrutínios e
salientou o facto de que eles permitirem uma renovação da classe política,
tanto a nível da assembleia nacional como nos conselhos municipais.
Líbia: um grande país “balcanizado”
O ano terminou na Líbia sem que nenhum progresso se tenha
registado em termos de segurança. Autoridades Provisórias lutam por implementar
Instituições de segurança enquanto as milícias retomam o caminho da violência.
Grupos mercenários, jihadistas e separatistas cercam as perfurações de petróleo
para encurralar o Governo interino a aceitar as suas diferentes exigências. É o
ciclo do terror que se instalou em Trípoli e Benghazi, onde se registam ataques
contra embaixadas e representações diplomáticas. O último ataque ocorreu na
manhã do dia 30 de dezembro, contra a Embaixada da França em Trípoli. Fez dois
feridos entre a polícia francesa, um dos quais gravemente, e causou grandes
danos. Trata-se do primeiro ataque contra interesses franceses na Líbia desde a
queda de Mouammar Kadhafi em 2011. Para o analista Patrick Haimzadeh,
especialista sobre a Líbia, este ataque é sintomático de um país assolado pela
violência permanente.
Algérienews, 01/01/2014
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