O rei Mohamed VII de Marrocos |
A Human Rights Watch (HRW) –
ONG norte-americana de defesa dos DDHH - denunciou num relatório publicado sexta-feira,
21 de junho, as torturas cometidas pelas forças de segurança de Marrocos com a
finalidade de obter confissões falsas, e insta a que incluam na reforma
judicial mais garantias para que não sejam aceites nos julgamentos testemunhos firmados
sob pressão.
Após a análise de cinco julgamentos
realizados entre 2009 e 2013 incluídos no relatório, com um total de 77
acusados, a HRW constatou que em todos
eles os juízes tinham utilizado as confissões como única provo de condenação, apesar
de os réus terem alegado que tinham sido obtidas por meios ilegais. A HRW
denuncia que este tipo de atuação fomenta as práticas ilegais como os
maus-tratos ou a tortura para obter declarações falsificadas.
A legislação em Marrocos
penaliza a tortura e proíbe aos tribunais utilizar testemunhos obtidos por meios
ilegais, no entanto, em nenhum dos casos analisados se investigaram as alegações
dos condenados. A diretora para o Norte de África e Médio Oriente da HRW, Sarah
Leah Whitson, afirmou que uma vez acusado se entra num processo injusto,
"uma vertiginosa corrida para um veredito de culpabilidade". O direito
a contactar com um advogado durante uma detenção policial também está
contemplado na Justiça marroquina, no entanto a HRW denunciou que nenhum dos 77
acusados nos cinco julgamentos analisados pela organização teve acesso a um
advogado nem antes nem durante o interrogatório.
Reforma do poder judicial
O rei de Marrocos, Mohamed
VI, anunciou em agosto de 2009 uma importante iniciativa para reformar o poder
judicial, que se formalizou em alguns artigos da Constituição de 2011 que
garantem os direitos dos acusados. Durante as próximas semanas ambém prevê a
publicação de um processo de reforma judicial que se arrasra desde 2012.
Alguns dos acusados que relataram
os seus casos à HRW afirmaram ter recebido pontapés, bofetadas e ameaças por
parte da Polícia durante os interrogatórios, e terem sido obrigados a assinar declarações
sem as ter lido. "Nem sempre é fácil determinar se uma confissão é falsa ou
não embora o acusado o alegue", explicou Whitson. "No entanto, quando
os juizes demonstam vontade e capacidade para o averiguar poder-se-á dizer que a
reforma judicial está em marcha", acrescentou.
O boxeur marroquino Zakaria
Moumni também descreveu como a Polícia o obrigou a firmar uma declaração depois
de três dias de detenção incomunicada, período durante o qual recebeu muita
pancada. "Disse-lhes que queria lê-lo (o documento que depois assinou), vendaram-me
os olhos, pisaram-me os pés e ameaçaram-me. Nesse momento assinei muitas coisas
sem saber o que eram", explicou o boxeur. Moumni foi julgado por duvidosas
acusações de fraude por um juiz que nem sequer reagiu quando ele lhe mostrou os
pisões e feridas que tinha. Depois de ouvir a sentença, de três anos de prisão,
descobriu que o que tinha assinado era uma confissão detalhada e a renúncia ao
seu direito de contactar com um advogado durante o julgamento.
Jornal ABC - 21/06/2013
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