O Papa Francisco nomeou
segunda-feira, dia de São João, Frei Mario León Dorado como novo prefeito
apostólico do Sahara Ocidental. O Padre León exercia as funções de administrador
apostólico do Sahara Ocidental desde junho de 2009 depois do venerável Frei
Acacio Valbuena Rodríguez (+4-5-2011) ter cessado o seu ministério a 25 de fevereiro
de 2009, após ter substituído o Padre Félix Erviti Barcelona, prefeito durante quarenta
anos, desde 1954 a 1994). O Padre Erviti, pouco conhecido, foi no entanto um
dos homens mais importantes na história do Sahara Ocidental. A sua vida, própria
de uma novela ou de fita de cinema, espera ainda que alguém escreva a sua história.
A tarefa da prefeitura apostólica do Sahara Ocidental não é nada fácil devido à
situação de ocupação da maior parte do território que é onde se encontram as igrejas
que foram erigidas pelos espanhóis.
I. HISTÓRIA DA PREFEITURA APOSTÓLICA DO SAHARA OCIDENTAL
Há boa informação na internet
para fazer a história da prefeitura do Sahara Ocidental (ver
especialmente o altamente documentado e essencial trabalho e informações em
espanhol e aqui
e ali informações
em Inglês). Claro que a presença católica no território é muito pequena, o que
pode explicar que os livros de história do Sahara Ocidental geralmente omitam
qualquer referência a esta instituição. Mas a sua importância qualitativa é,
sem dúvida, superior à quantitativa.
O Papa Pio XII, erigiu a
"Prefeitura Apostólica do Sahara Espanhol e Ifni" a 05 de julho de
1954, unindo dois territórios para a formação da nova prefeitura que haviam
pertencido ao Vicariato Apostólico de Marrocos e da Argélia.
Após a cedência de Ifni a Marrocos
por parte de Espanha em 1969, a 02 de maio de 1970, a instituição mudou seu
nome para " Prefeitura Apostólica do Sahara Ocidental". Naquela
época, ainda ainda havia muitos espanhóis, e a instituição contava com vários
milhares de católicos e cinco paróquias.
Após o abandono por Espanha do
Sahara Ocidental e a ocupação do território por Marrocos e Mauritânia, a prefeitura
passou a designar-se por "Prefeitura Apostólica do Sahara Ocidental".
O abandono espanhol significou um brusco declínio no número de católicos por
dois motivos.
Primeiro, porque a maioria dos
espanhóis foram forçados a abandonar o território. E, depois, porque Marrocos tem
uma legislação que persegue penalmente a conversão dos muçulmanos ao
cristianismo (embora
ao que parece essa legislação não se aplique ao próprio Mohamed VI), o que torna
muito difícil a vida aos saharauis (que os há) convertidos ao Cristianismo.
II. UMA PREFEITURA PERSEGUIDA PELA OCUPAÇÃO MARROQUINA
A "Prefeitura Apostólica
do Sahara Ocidental" é eclesiasticamente independente de Marrocos. Depende
diretamente da Santa Sé.
Neste momento conta com duas
paróquias abertas, a de El Aaiún e a de Villa Cisneros-Dakhla em dois edifícios
de importante valor histórico-artístico. Além disso, conseguiu recuperar recentemente
outra bela igreja, a do porto de El Aaiún.
É digna de menção a história
das Igrejas do porto de El Aaiún e de Nossa Senhora de Carmen, de Villa
Cisneros.
1. A Igreja do porto de El Aaiún
Em 1966, o padre Rafael
Álvarez construiu a igreja da praia de El Aaiún, distinta de situada na cidade
de El Aaiún. No entanto, após a invasão marroquina do Sahara Ocidental através
da chamada "Marcha Verde", uma família de invasores instalou-se na sacristia
e na residência anexa à capela. Após 30 anos de “ocupação”, conseguiu-se que a
Igreja recuperasse este templo. A família deixou o imóvel num estado lamentável
pois no recinto criavam-se cabras, galinhas e outros animais. Depois de frei
León ter recuperado as chaves da igreja a 3 de outubro de 2012 houve que realizar
um
restauro completo.
Mohamed Fadel Semlali, deficiente motor, muçulmano e guardião da Igreja de Dakha- Villa Cisneros |
2. A Igreja de Nossa Senhora de Carmen de Villa
Cisneros.
Um edifício que Marrocos tentou
destruir (como conseguiu destruir uma peça importante do património
histórico-artístico, o "Forte" de Villa Cisneros, ante a indiferença
da ministra da cultura Calvo Poyato, do Governo de Rodríguez Zapatero) e que
está sendo guardado por um saharaui muçulmano, Mohamed Fadel Semlali, conhecido
como Bouh, que apesar de estar numa cadeira de rodas (é Presidente da Associação
de Incapacitados de Dakhla), defende e assegura EXEMPLARMENTE a herança espanhola
e católica do Sahara Ocidental dando uma impressionante lição de tolerância e
de respeito. Recomendo ver o seu testemunho (em
hassania, mas com legendas em espanhol). "Bouh", que viva numa
cadeira de rodas, sofreu
inclusive tentativas de agressão por parte das forças de ocupação marroquinas
devido à sua perseverança na defesa dessa parte importante do património que é
a Igreja de Villa Cisneros.
Muita sorte, na sua difícil tarefa,
Frei Mario León Dorado.
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