sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Felipe González: Um homem de palavra?


Encontrámo-nos a 14 novembro de 1976 nos acampamentos de refugiados saharauis em Tindouf (Argélia), no primeiro aniversário dos Acordos Tripartidos. Felipe González, na qualidade de secretário-geral do PSOE, subscreve com a Frente Polisario um comunicado de apoio à luta de independência da RASD. Transcrevo literalmente o discurso do então secretário-geral do PSOE, para que possam apreciar o que é um homem de palavra.

«Quisemos estar aqui hoje, 14 de novembro de 1976, para demonstrar com a nossa presença a nossa repulsa e nossa reprovação pelo Acordo de Madrid de 1975».

«O povo saharaui vai vencer na sua luta e vai vencer não só porque tem a razão mas porque tem a vontade de lutar pela sua liberdade».

«Quero que saibais que a maior parte do povo espanhol, o mais nobre, o melhor do povo espanhol, é solidário com a vossa luta. Para nós não se trata já de direitos de autodeterminação mas de vos acompanhar na vossa luta até à vitória final».

«Como parte do povo espanhol sentimos vergonha de que o Governo não só tenha feito uma má colonização mas a pior descolonização, entregando-nos nas mãos de governos reacionários como os de Marrocos e Mauritânia».

«Mas deveis saber que o nosso povo também luta contra esse Governo que deixou o povo saharaui nas mãos dos governos reacionários. À medida que o nosso povo se acerca da liberdade será maior e mais eficaz o apoio que podemos prestar à vossa luta».

«A Frente Polisario é o guia para a vitória final do povo saharaui e está convencido também de que a vossa República independente e democrática se consolidará sobre o vosso povo e que podereis volver aos vossos lares».

«Sabemos que a vossa experiência é a de haver recebido muitas promessas nunca cumpridas».

«Não prometemos nada que não seja o comprometimento com a História: o nosso partido estará convosco até à vitória final».
 
Felipe González, novembro de 1976, nos acampamentos
de refugiados saharauis de Tindouf (Argélia)


A 5 de agosto de 1979 foi firmado o Acordo de Paz entre a Frente Polisario e o Governo da Mauritânia. Nove dias mais tarde, a 14 de agosto, Marrocos invade militarmente a até então zona mauritana do território e anuncia a sua anexação. A Assembleia Geral da ONU condena a nova agressão marroquina na sua Resolução 34/37, de 1979.

O reconhecimento mauritano significa a denúncia formal dos Acordos Tripartidos de Madrid. A invasão da parte Sul do Sahara por Marrocos resultava duplamente ilegítima.

Poderíamos acrescentar às promessas incumpridas e à palavra dada por Felipe González em representação do PSOE na sua visita de janeiro de 1978 à Argélia, a declaração posterior do PSOE com idêntico ponto de vista com a FLN argelina sobre o conflito do Sahara.

Felipe González fez promessas, em representação do PSOE, que nunca foram cumpridas. No entanto, tendo sido nos anos posteriores presidente do Governo de Espanha e como homem de palavra, teve a oportunidade de as cumprir, e não o fez. Daí a pergunta: um homem de palavra?

A partir da Liga Española Pro Derechos Humanos e a Federación Internacional de Derechos Humanos-España (fidh-España) temos manifestado reiteradamente que a única solução digna, justa e legítima do conflito saharaui deve provir de um referendo de autodeterminação transparente e auspiciado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que permita ao povo Saharaui manifestar-se com absoluta liberdade sobre o seu futuro e o seu destino.

Nós, como muitas pessoas, não compreendemos a posição atual do Reino de Marrocos, sobre um plano de autonomia para o Sahara, que contradiz a doutrina da ONU, e os acordos firmados entre as partes no ano de 1991.

Pensamos que a melhor opção para Marrocos é aceitar as resoluções da ONU, o que lhe permitiria trabalhar pelo seu desenvolvimento económico e garantir a segurança do Reino, com a segurança que teria no povo saharaui um fiel aliado na zona como se nunca nada se tivesse passado, já que o povo saharaui é generoso e pacífico.

Autor: Francisco José Alonso Rodríguez

(*) Presidente Nacional de la Liga Española Pro Derechos Humanos. Y Federación Internacional de Derechos Humanos-España (fidh-España)

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