O partido Istiqlal, parceiro do atual governo marroquino liderado
pelo Partido Justiça e Desenvolvimento (PJD), volta a desenterrar uma velha
aspiração de cariz puramente expansionista como é a ilusória ideia do ‘Grande
Marrocos’. “Queremos recuperar as cidades de Tindouf, Colom-Bechar, Hassi
Baida, Elknadssa”, afirmou no passado dia Primeiro de maio, nada mais nada
menos que o secretário-geral da segunda força política mais importante em Marrocos,
Hamid Chabat, o qual qualifica esses territórios como “marroquinos usurpados pela
Argélia”(1). Palavras que podiam incendiar a já sensível região do Magrebe Árabe.
Não satisfeito ainda, nove dias depois, aquele que é também secretário-geral
da União Geral do Trabalho em Marrocos (UGTM), solicitou ao atual executivo de
Abdelilah Benkirán “romper as relações diplomáticas e de segurança” com o Estado
vizinho da Argélia e “fechar a sua embaixada em Rabat”, segundo publica o diário
argelino echoroukonline.com. Chabat justifica essa medida como ‘castigo’ à Argélia
por continuar “ocupando os territórios orientais do Reino”.
Argélia, geralmente pouco dada a responder a este tipo de
manifestações, desta vez, no entanto, fez referências ao assunto pela boca do
seu ministro de Assuntos Exteriores, Mourad Medelci, que qualificou as afirmações
de Chabat de “inaceitáveis”. Medelci fez estas declarações na passada
terça-feira durante uma conferência de imprensa conjunta dos ministros de
Exteriores da União do Magreb Árabe em Rabat. E pouco tempo depois o seu gabinete,
através de uma nota de imprensa, insiste em que se trata de um “desvio perigoso
e irresponsável. A Argélia
condena e denuncia energicamente”, conclui o comunicado.
Hamid Chabat, de 60 anos, tomou as rédeas deste partido político,
de caráter nacionalista e o mais antigo de Marrocos - fundado em 1937 – nas passadas
eleições de setembro. Era presidente
da cámara de Fez desde 2003.
O partido Istiqlal conta atualmente com 60 deputados (num parlamento
de 325) e tem seis ministros no governo de coligação de 30 pastas encabeçado
pelo Partido islamita da Justiça e Desenvolvimento (PJD).~
(1) O diferendo fronteiriço deu origem à denominada « guerra
das Areias» entre Marrocos e a Argélia, em outubro de 1963, pouco tempo
depois da independência argelina. Após vários meses de incidentes fronteiriços,
a guerra aberta desencadeia-se na região argelina de Tindouf e Hassi-Beïda, e
estende-se depois a Figuig em Marrocos. Os combates cessam a 5 de novembro, e a
Organização de Unidade Africana obtém um cessar-fogo definitivo a 20de
fevereiro de 1964, ficando a fronteira inalterada.
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