Os 24 saharauis julgados no Tribunal Militar de Rabat desde o
passado dia 1 de fevereiro fizeram do processo uma tribuna política que
aproveitam para expressar abertamente o independentismo.
Julgados pela morte de 11 agentes marroquinos nos
acontecimentos que se seguiram ao desmantelamento do acampamento de Gdeim Izik
(nas redondezas de El Aaiún) em novembro de 2010, os 24 saharauis aproveitam qualquer
momento para proferir declarações políticas e reclamar a autodeterminação e a independência
do Sahara Ocidental.
Na sessão de hoje (ontem), tomou a palavra o réu Naama Lasfari,
considerado o líder do grupo e um dos organizadores do acampamento até ao seu
desmantelamento, que aproveitou as perguntas do juiz para exigir o direito à
autodeterminação e denunciar o caráter de "ocupação" da ex-colónia
espanhola.
Uma das suas intervenções, que se transformou num verdadeiro
discurso político, levou os outros 23 réus a levantarem-se e gritarem palavras-de-ordem
independentistas na sala de audiências, o que levou à sua expulsão.
De acordo com os advogados de defesa, é a primeira vez que o
independentismo saharaui se expressa tão abertamente em tribunal (e ainda por
cima num tribunal militar) com a "permissão" do juiz.
De facto, o presidente do tribunal, o juiz civil Omar Zahaf,
tem sido elogiado pelos numerosos causídicos presentes na sala - tanto
saharauis como marroquinos -, que comentaram à EFE a tolerância que tem mostrado,
tanto com os detidos como com os advogados de defesa.
Um dos advogados presentes como observador mostrou menos
paciência que o juiz e ao ouvir as reivindicações independentistas gritou
"traidores" aos acusados saharauis e abandonou a sala.
Este julgamento, que conta com a presença de numerosos
observadores estrangeiros - juristas e diplomatas -, é considerado por muitos dos
presentes como um "termómetro" para medir o grau de mudança democrática
experimentada por Marrocos após a aprovação em 2011 da nova Constituição.
Segundo a maior parte dos observadores presentes no processo,
o juiz mostra vontade de acabar quanto antes com o processo, que ainda deverá prolongar-se
por vários dias para dar a palavra a todos os acusados e à audição das
testemunhas.
Doze dos saharauis são acusados de "constituição de
bando criminoso e uso da violência contra a força pública com resultado de morte;
entre eles, dois são acusados ainda de "profanação de cadáver", enquanto
os restantes são considerados cúmplices nos anteriores delitos.
Fonte: jornal ABC, Espanha, 10-02-2013
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