quinta-feira, 17 de julho de 2014

A Guerra Esquecida do Sahara




Se perguntarem ao linguista e filósofo Noam Chomsky, ele dir-lhes-á que a Primavera Árabe não começou na Tunísia, em 2011, mas com os protestos de outubro 2010 no lugar de Gdeim Izik, nos territórios ocupados do Sahara Ocidental. A ex-colónia espanhola é ocupada ilegalmente por Marrocos desde 1975. O seu território está dividido em dois por um longo muro de areia com 2698 km de comprimento, e cercado por cerca de 7 milhões de minas terrestres.

Os Saharauis nativos, liderados por seu movimento independentista, a Frente Polisario, são reconhecidos pelo Tribunal Internacional de Justiça como os legítimos proprietários do território. No entanto, Marrocos, sequestrou o processo de descolonização do Sahara Ocidental por Espanha em 1975, fazendo invadir cerca de 300.000 colonos para o território [e também destacamentos militares]. Isso desencadeou uma guerra de 16 anos entre Marrocos e a Frente Polisario, que obrigou mais de 100 000 Saharauis a fugir para o exílio na fronteira com a Argélia. Tecnicamente, o Sahara Ocidental ainda é espanhol e continua a ser a última colónia de África.

Esquecidos nos campos de refugiados e dependentes da ajuda ou definhando sob a ocupação marroquina, os Saharauis continuam a lutar pela sua independência, numa região cada vez mais volátil. Enquanto isso, a ONU continua sem mandato para monitorizar os direitos humanos no Sahara Ocidental ocupado. VICE News Travels visitou os territórios ocupados e libertados do Sahara Ocidental, bem como os campos de refugiados administrados pela Polisario na Argélia, para saber mais sobre um dos conflitos mais desconhecidos.



Parte 1

Assistimos à comemoração do 38 º aniversário da proclamação da República Árabe Saharaui Democrática. Os Saharauis celebram este aniversário a cada ano, apesar de Marrocos controlar um terço da sua pátria e do desfile militar ocorrer nos campos de refugiados administrados pela Polisario e que se situam em território da Argélia. Na celebração encontramos o ativista Saharaui Sidahmed Talmidi que, em outubro de 2010, ajudou a mobilizar o acampamento de protesto de Gdeim Izik perto de El Aaiún, capital do Sahara Ocidental ocupado. Chomsky refere-se aos milhares de Saharauis que ali se reuniram para protestar contra o status quo social e económico desigual e a negação brutal de seus direitos humanos, como o verdadeiro início da Primavera Árabe.

Ahmed Salem, um veterano de guerra e comandante do 2 º Batalhão da Polisario, mostra-nos os acampamentos ​​de refugiados no deserto árido, onde mais de 100 000 Saharauis que escaparam da ocupação marroquina vivem há quase 40 anos, contando com a ajuda humanitária e esperando a oportunidade de regressar à sua terra natal.




Parte 2

VICE News viaja aos territórios libertados controlados pela Polisario, uma terra praticamente inabitável repleta de minas terrestres resultantes da guerra de 16 anos. No caminho, passamos por um protesto saharaui perto do Muro marroquino - também conhecido como o “muro da vergonha” - que separa a Zona controlado pela Polisario dos territórios ocupados por Marrocos. Assim que chegamos ao coração dos territórios libertados, o Comandante Ahmed Salem da Polisario mostra-nos uma das muitas peças de arte que ele criou e colocou no deserto. Os seus soldados demonstram as suas táticas de guerrilha do deserto.




Parte 3

VICE News descobre como a Polisario enfrenta as ameaças do terrorismo e o tráfico de drogas numa região cada vez mais volátil do Sahara. Constatamos a forma como o movimento melhorou a segurança para evitar outro evento como o de 2011, com o rapto de três cooperantes humanitários estrangeiros dentro de um complexo da Polisario. Falamos com os ministros da Defesa e da Segurança, e acompanhamos uma unidade anti-terrorismo da Polisario numa das suas patrulhas noturnas, passando perigosamente perto das rotas de contrabando do Sahara.




Parte 4

VICE News aprende como é a vida dos Saharauis que vivem sob a ordem marroquina nos territórios ocupados do Sahara Ocidental. Região proibida para jornalistas, conseguimos entrar e conhecer Saharauis cujo ativismo coloca-os em risco de suportar tanto a brutalidade policial como a detenção - sem direito a um julgamento digno desse nome - na infame Prisão Negra de El Aaiún.




Parte 5


O comandante da Polisario Ahmed Salem mostra-nos Tifariti e as suas redondezas, uma localidade nos territórios libertados que afirma ter sido completamente destruída depois do cessar-fogo de 1991. Encontramos vítimas dos 7 milhões de minas terrestres que cercam o muro marroquino antes de Salem nos levar a uma base da ONU nos territórios libertados. A ONU estabeleceu uma missão após o cessar-fogo para promover a paz e organizar um referendo, mas sua incapacidade de fazer qualquer desses objetivos permite as contínuas violações dos direitos humanos nos territórios ocupados.

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