Trinta anos da MINURSO.
Frente Polisário responsabiliza ONU pelo impasse
Nos últimos meses a missão ficou marcada por escaramuças entre o exército marroquino e o (movimento) independentista na antiga colónia espanhola.
O porta-voz da Frente Polisário avisa que a paciência dos saarauís está a esgotar-se.
Por Rui Polónio com Cátia Carmo - 29 Abril, 2021
Passam esta quinta-feira 30 anos da MINURSO, a mais antiga missão das Nações Unidas para tentar manter a paz no Saara Ocidental. O prometido referendo à autodeterminação parece cada vez mais longe.
Perante este cenário, o porta-voz da Frente Polisário (em Portugal), Mohamed Fadel, responsabiliza a ONU pelo impasse. Nos últimos meses a missão ficou marcada por escaramuças entre o exército marroquino e (o movimento) independentista na antiga colónia espanhola.
Para o dirigente, a violenta resposta de Marrocos à ocupação da passagem de Guerguerat justifica o regresso dos Polisários às armas e avisa que a paciência dos saarauís está a esgotar-se.
"O que exigimos é que se aplique o plano de paz que foi aprovado pelo Conselho de Segurança. Depois de 30 anos de paciência, à espera de um referendo que, segundo os textos das Nações Unidas, parece cada vez mais distante, não tínhamos outra opção. A resposta de Marrocos foi mais uma violação do cessar-fogo e autoriza-nos a regressar às hostilidades para reclamar o nosso direito e fazer as pressões que sejam necessárias", explicou à TSF Mohamed Fadel.
O acordo de paz, assinado em 1991, previa a realização de um referendo e estabelecia a MINURSO como administradora do território, mas a Frente Polisário acusa os quase 500 funcionários da ONU de cumplicidade com Marrocos.
"A gestão tem sido catastrófica. Converteram-se, e digo isto sem hesitar, em apêndices do Ministério do Interior marroquino. As violações dos direitos humanos acontecem diariamente debaixo do nariz das Nações Unidas e nunca houve qualquer denúncia", aponta o porta-voz da Frente Polisário.
O papel de António Guterres na independência de Timor alimentou as esperanças do Saara Ocidental, mas também o português defraudou as expectativas da Frente Polisário. O porta-voz acusa ainda a comunidade internacional de querer atirar o referendo para as calendas.
"Foram introduzidas nos últimos anos alterações aos documentos da ONU e do Conselho de Segurança que, de maneira furtiva, querem afastar a verdadeira responsabilidade da MINURSO, que é a sigla da missão das Nações Unidas para um referendo no Saara Ocidental. Fizeram tudo ao contrário, tudo para que o referendo não se realize", acrescentou Mohamed Fadel.
Apesar de tudo, Mohamed Fadel não fecha a porta a uma solução pacífica para o conflito. Há quase 200 mil saarauís a viver em campos de refugiados na Argélia e Mauritânia. O conflito entre Marrocos e a Frente Polisário dura desde 1979.
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