sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Saharauis festejam unidade nacional e Gdeim Izik, apesar da repressão marroquina

 

Nos territórios ocupados do Sahara Ocidental, os cidadãos saharauis celebraram um duplo aniversário, o 12 de outubro 1975 - data da declaração da unidade nacional - e o 10 de outubro de 2010, data do aniversário do início da grande manifestação-acampamento de protesto de Gdeim Izik. Uma vez mais, tiveram que enfrentar a opressão e a repressão do colonizador marroquino.

A 12 de outubro de 1975, ao apelo de El Ouali Mustapha Saied, mártir-fundador e primeiro líder da Frente Polisario, os chefes tradicionais Saharauis reuniram-se numa tenda em Ain Bentili, no Sahara Ocidental, para proclamar a unidade nacional. Os notáveis - os Chioukhs -, declararam que estavam unidos num só como povo, contra todos os inimigos e sob a direção da Polisario. Esta data é um momento essencial da luta pela libertação do Sahara Ocidental contra os seus colonizadores.

Na cidade de El Aaiun ocupada, a 9 de outubro de 2013, a associação saharaui para a difusão da cultura e o património organizou um encontro para comemorar estas duas datas festivas. O seu local de encontro foi, desde logo, assediado e cercado pela polícia e por agentes das DST durante todo o período da reunião, que, não obstante, decorreu até ao fim, sem cedências à intimidação. Os participantes no encontro eram ativistas e representantes de associações e comités saharauis de direitos do homem.

Os oradores na reunião exprimiram a importância da unidade nacional saharaui, afirmando que ela constitui o rochedo contra o qual se desfizeram todos os sonhos dos invasores. Insistiram na necessidade de vigiar e denunciar os websites criados pelos serviços de informação marroquinos para difamar as figuras importantes da resistência, a fim de os desacreditar e enfraquecer as forças ativas. De acordo com os intervenientes, tratam-se de websites de lixo e, é nesse sentido, que devem ser criticados. A luta pela independência está para além de pessoas físicas, e toda a gente deve ignorar os ataques pessoais sobre os defensores mais expostos.

A 11 de outubro, os cidadãos saharauis organizaram um encontro numa tenda debaixo do telhado da casa da militante saharaui Oum Lmnain Souaieh. Os participantes trocaram informações sobre as violações dos direitos do homem cometidos pelo Estado de Marrocos, sobre os desaparecidos, e a detenção insuportável a que são sujeitos os presos políticos. Marrocos proíbe não só os cidadãos saharauis de montar tendas, mas também se expressarem livremente sob a ameaça de violência e, por isso, é apenas em espaços privado e fechados que é ainda possível proteger a sua dignidade.

Em Smara ocupada, no bairro Essoukna, a 11 de outubro, as forças de ocupação detiveram o pequeno Mohamed Maelainin, de 8 anos, a quem bateram violentamente numa rua próxima da junta de freguesia do bairro, antes de o deixar estendido no chão e de partirem. Maelainin tinha também participado numa manifestação pacífica para comemorar o dia da unidade nacional.

A 12 de outubro, na cidade de El Aaiun ocupada, e pelos mesmos motivos de comemoração, a "coordenação de Gdeim Izik pela resistência pacífica" apelou os saharauis a manifestarem-se. Mais de 50 cidadãos saharauis concentraram-se na avenida Smara, onde a polícia marroquina fardada e à paisana os atacou para os dispersar.



Perseguiram os manifestantes nas ruas do bairro Maatala. Entre os feridos, o pequeno saharaui Housam Ajaf, de 14 anos, sequestrado por uma patrulha policial liderada por Mouhcen Serghini e levado para a periferia da cidade, onde foi torturado durante uma hora. (Veja o vídeo).



Nesse mesmo dia, na avenida Tan Tan, as forças de ocupação atacaram 40 desempregados saharauis que se manifestavam pelo respeito do seu direito ao trabalho. Os desempregados denunciavam também através de palavras-de-ordem a pilhagem dos recursos naturais do Sahara Ocidental por parte de Marrocos. 12 desempregados foram feridos na sequência da intervenção policial. (Ver declaração de um manifestante)





Ainda a 12 de outubro, em Bojador ocupada, a polícia prendeu a jovem El-Ghalia El Ansari, de 16 anos, junto do liceu Errachidi. El-Ghalia El Ansari é aluna e ativista saharaui pela independência do Sahara Ocidental. Distribuía panfletos sobre a celebração do dia da unidade nacional quando a polícia a deteve.
El-Ghalia El Ansari passou duas horas no centro da polícia, interrogada pelo comissário "Bouazza" e por agentes da DST. Insultaram-na e ameaçaram violá-la se prosseguir as suas atividades contra a ocupação.

Por outro lado, nesta mesma dinâmica, domingo, 13 de outubro, 2013, em El Aaiun, a coordenação local apela a uma manifestação sábado, 19 de outubro, a partir das 17h na avenida Smara, por ocasião da visita à cidade do Enviado Pessoal do SG da ONU para o Sahara Ocidental, Christopher Ross, e depois em outras cidades do território ocupado. A razão para o protesto é lembrar ao diplomata a responsabilidade das Nações Unidas no impasse da situação, e que a ONU deve usar os meios necessários sobre o colonizador para que se realize o referendo de autodeterminação do povo saharaui.

Os presos políticos saharauis da Prisão Negra de El Aaiún, também comemoram as importantes datas. Em resposta, a 13 de outubro, pelas 23h, um grupo de agentes penitenciários invadiu as suas celas, tendo-os agredido e insultado.
Trata-se de mais um ato brutal nesta prisão em que as condições carcerárias e as infrações cometidas são crimes conhecidos por todas as instâncias nacionais e internacionais em matéria de tratamento de presos.

A 17 de outubro, o diretor da prisão transferiu os dois presos políticos saharauis Ouled Shaikh e Kamal Mahjoub Trayh para uma cela com 50 presos de direito comuns, entre os quais muitos criminosos. Em protesto e porque temem por suas vidas, os dois presos políticos saharauis iniciaram nessa noite uma greve de fome por tempo indeterminado.

É neste contexto global que os jornalistas holandeses e suecos, especialistas em guerras e conflitos, visitaram El Aaiún ocupada. De segunda-feira, 7 de outubro, a sexta-feira, 11, reuniram com associações saharaui dos direitos humanos, jornalistas, vítimas de violações dos direitos humanos, antigos desaparecidos, e assistiram aos preparativos e reuniões públicas de comemoração do aniversário da unidade nacional saharaui.

Equipa Mediatica, El Aaiun, Sahara Ocidental ocupado

18 de outubro 2013

Sem comentários:

Enviar um comentário