quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Efemérides : a situação no Sahara 3 dias antes da denominada Marcha Verde


A alegada marcha pacífica procurava encobrir a invasão militar que já tinha sido desencadeada...

Cumprem-se hoje 39 anos da Marcha Verde, através da qual o regime marroquino de Hassan II iria consumar a invasão da até então colónia espanhola do Sahara Ocidental. Uma enorme encenação que preparava nos bastidores aquela que é, talvez, a maior traição de uma potência colonial em África: os acordos tripartidos de Madrid, subscritos por Espanha oito (8) dias depois. Neles, o Estado ibérico concedia a Marrocos e à Mauritânia a administração do Sahara Ocidental, a troco de compensações económicas no domínio da exploração dos fosfatos e das pescas que se mantiveram secretas.

O rei Hassan II de Marrocos deu a ordem de partida para a denominada Marcha Verde no dia 6 de novembro de 1975. Inicialmente a marcha estava prevista para 28 de outubro, mas foi adiada para 2 de novembro, para logo depois se dizer que teria lugar entre 4 e 6 de novembro.

Uns dias antes, a agência norte-americana United Press International (UPI) informou, citando fontes governamentais e militares marroquinas, que tropas do exército marroquino entraram no território do Sahara espanhol e ocupavam toda a fronteira entre o Sahara e a Argélia. A penetração teve início pouco tempo depois de ter falado no Conselho de Segurança o representante espanhol, segundo informava Pyresa.

A televisão norte-americana deu a notícia de que forças marroquinas tinham passado a citada fronteira. Fontes saharauis informaram que nas últimas horas tivera lugar um confronto entre tropas marroquinas e guerrilheiros da Frente Polisario na zona de El Farsía, entre Mahbes e Ecgedería, uns 60 km no interior da fronteira.

O então Príncipe Juan Carlos afirmava em El Aaiún, três dias antes da Marcha Verde: «...Desejamos proteger também os legítimos direitos da população civil saharaui, já que a nossa missão no mundo e a nossa história no-lo exigem...» 

- Em El Aaiún prossegue o recolher obrigatório geral. O Príncipe Juan Carlos chega à capital saharaui no dia 3 de novembro e no Casino Militar dirige-se aos assistentes com estas palavras: “Vim para vos saudar e viver umas horas convosco; connosco está o vosso espírito, a vossa disciplina e a vossa eficácia. Sinto não poder estar mais tempo aqui com estas magníficas unidades, mas queria dar-vos pessoalmente a segurança de que se fará tudo quanto seja necessário para que o nosso exército conserve intacto o seu prestígio e honra. Espanha cumprirá os seus compromissos e tratará de manter a paz, dom precioso que temos que conservar. Não se deve pôr em perigo nenhuma vida humana quando se oferecem soluções justas e desinteressadas e se procura com afã a cooperação e o entendimento entre os povos. Desejamos proteger também os legítimos direitos da população civil saharaui, já que a nossa missão no mundo e a nossa história no-lo exigem. A todos um abraço e saudação com o maior afeto, já que quero ser o primeiro soldado de Espanha”.


No seu regresso a Madrid presidiu a uma reunião da Junta de Defesa Nacional a que assistiu o governador-geral do Sáhara, Gómez de Salazar, e o Chefe co Comando Unificado de Canárias, o tenente-general Ramón Cuadra Medina.

- Em Nova Iorque, a ONU culmina as suas gestões, consultas e deliberações com a aprovação por consenso de uma nova resolução, a qual, como a anterior, exorta as partes “envolvidas e interessadas” a evitar qualquer ação “susceptível de incrementar a escalada da tensão na região”. O documento elaborado após sete horas de consultas, à porta fechada, solicita novamente ao SG, Kurt Waldheim, que “continue e intensifique as suas consultas com as partes interessadas e afetadas, e mantenha informado o Conselho de Segurança para que este possa adotar quaisquer medidas apropriadas que sejam necessárias”. Em declarações privadas, alguns membros do Conselho, presidido pelo embaixador soviético, Malik, disseram que o que este organismo preconiza é uma solução baseada no estabelecimento da presença da ONU no Sahara, a fim de coadjuvar a administração do território até que o futuro seja decidido. Essa presença, dizem, poderia assumir a forma de uma administração civil e não militar.

O apelo contido na resolução aprovada pelo Conselho para que se evite qualquer ato capaz de agravar a situação em torno da questão do Sahara, é interpretada como uma tácita advertência a Marrocos para que desista dos seus planos para a “pacífica” invasão do território saharaui. No decurso do Conselho as advertências em tal sentido dirigidas ao monarca alauita pelo delegado espanhol, Fernando Arias Salgado, e pelo embaixador da Argélia, Abdelatif Rahal, foram claras e precisas.


Com a Marcha Verde começou o êxodo saharaui...


- O diário ‘Financial Times’ conclui em editorial que “todos os esforços diplomáticos devem ser dirigidos a persuadir o Rei Hassan para que aceite uma solução das Nações Unidas”.

- Por seu lado, o diário ‘The Guardian’, sob o título “A crescente ameaça da “marcha verde”, diz que a marcha decidida pelo Rei Hassan II sobre o Sahara “começa agora a tomar diariamente um matiz mais ameaçador “. O periódico faz depois uma série de perguntas : “Que fará Hassan II com os participantes da marcha uma vez chegado à terra prometida?” “Convocará um referendo e ganha-lo-á?” Não haverá risco de resistência se repartir o território com a Mauritânia? E, por último, por que pede Marrocos a autodeterminação para os palestinos e não para os saharauis?”. Qualifica, depois, a ação de Hassan II de “hábil e cínica” e faz referência às citações do Corão nos seus discursos e na utilização do adjetivo verde para a marcha por ser esta a cor santa do Islão. ‘The Guardian’ acrescenta que, em primeiro lugar, a realização de um referendo é o melhor caminho para sair da crise e, em segundo, que a ONU é o organismo melhor colocado para intervir diplomaticamente na questão.


Fonte : Hemeroteca de ABC

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