quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Descobertas mais três fossas comuns de saharauis vítimas da repressão marroquina

 
Foto: Sociedad de Ciencias Aranzadi
  • A mesma equipa da Universidade do País Basco que identificou os restos de oito saharauis em junho descobriu outras três fossas comuns de que recolheu amostras para análise


  • A descoberta ocorreu durante uma nova viagem em que foi feita a exumação e entrega às famílias e enterro definitivo dos primeiros restos mortais encontrados


  • Os investigadores solicitam ao Governo [espanhol] a abertura de uma investigação própria e denunciam a passividade institucional ante estas provas dos crimes de Marrocos



Por Gabriela Sánchez

Mahmud Salme estava absorto, enquanto observava os restos mortais de seu irmão, seu pai e seu tio regressarem à terra envoltos em lençóis brancos. Enquanto terminava a ansiedade dos familiares dos oito saharauis, executados em 1976 pelo exército marroquino, localizados e identificados em duasvalas comuns em junho passado; abria-se a esperança para as centenas de famílias ainda esperam uma resposta concreta: a mesma equipa de investigação da Universidade do País Basco, descobriu outras três fossas nos territórios libertados do Sahara Ocidental. Os investigadores retiraram amostras para posterior análise e identificação.

As novas descobertas ocorreram durante uma segunda viagem do grupo da Sociedade de Ciências Aranzadi e do Instituto de Desenvolvimento e Cooperação Hegoa que fez a primeira exumação dos restos mortais, a entrega às famílias das vítimas e seu enterro final no mesmo local onde foram localizados. Além dos entes queridos dos falecidos, estiveram presentes no evento, a equipe de pesquisa responsável pelo Governo saharaui e membros da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO).

Apesar de duas das vítimas identificadas nas primeiras descobertas terem consigo o Bilhete de Identidade espanhol e os assassinatos terem ocorrido quando as tropas espanholas estavam ainda no Sahara Ocidental — retiraram-se a 26 de fevereiro de 1976, enquanto os terríveis acontecimentos ocorreram no dia 12 do mesmo mês —, os pesquisadores ainda estão à espera de uma resposta do Governo de Espanha. "Deveriam encarar o assunto a sério, deve haver uma resposta após a apresentação das provas contundentes que temos sobre este caso. Deve abrir a sua própria investigação sobre o que aconteceu e pedir a cooperação de Marrocos", reclama Carlos Martín Beristain, antropólogo do Instituto Hegoa.

"Afinal, o que temos feito já é muito mais fácil do que o que está por vir. Agora temos que oficializar a informação. Tornar oficial este relatório técnico cheio de provas. Quem é que o vai fazer?" interroga-se o forense Etxeverria Francisco, diretor da pesquisa. Ambos explicaram que, depois de uma reunião com responsáveis do Magrebe e de Direitos Humanos do Ministério dos Negócios Estrangeiros [de Espanha], aquela instituição ainda não voltou a contactá-los.



"As mentiras de Marrocos ficaram demonstradas. Estas descobertas têm que ser conhecidas por toda a gente, tem que haver justiça a nível internacional," afirma Salme Mahmud, irmão, sobrinho e filho de três das vítimas assassinadas naquele dia 12 de fevereiro de 1976 pelo exército marroquino e cujos restos mortais foram localizados 38 anos depois. Quando utiliza a palavra "mentiras" sabe do que está a falar. Em 1995, o governo marroquino havia respondido ao pedido de informação do Grupo sobre os Desaparecimentos Forçados da ONU através de um documento que ele ainda conserva. "Diziam que o meu irmão morava em El Aaiún. O meu irmão, que eu enterrei há poucos dias no deserto do Sahara." Mostra-nos: o texto detalha até a suposta rua onde morava e já ele estava morto.

Esta informação falsa é anexada ao relatório técnico que deu visibilidade às descobertas da equipa da Universidade do País Basco. Marrocos não deu nenhuma resposta oficial sobre o paradeiro dos desaparecidos. Só em 2006, o Relatório da Instância de Equidade e Reconciliação de Marrocos assegurou que quatro dos detidos naquele dia tinham sido levados para o quartel de Smara e lá tinham morrido durante o tempo de prisão. No entanto, a equipa de investigação forense demonstrou a falsidade dessa informação: "As detenções foram coletivas e ocorreram no mesmo dia [...] Os detidos não foram transferidos para qualquer quartel, antes foram imediatamente executados no local. Embora se encontrassem indefesos."

Após a localização de outras três fossas, Etxeverria pretende voltar ao Sahara Ocidental após um período entre seis meses a um ano. De acordo com eles, esperam receber um novo financiamento já que, após as operações realizadas, esgotaram os fundos fornecidos pelo Instituto de Cooperação da Universidade do País Basco, mas confiam que vão conseguir voltar uma vez analisadas as amostras recolhidas durante esta última viagem.

Como membro do conselho da Associação de Familiares de Presos e Desaparecidos Saharauis (AFAPREDESA), a luta de Mahmud não termina com o funeral dos seus três parentes, mas sente a diferença. Ele esforça-se para nos explicar. "Não chega a ser alegria ... Vês os restos mortais de um pai que não pôde receber o amor que lhe querias dar. Sentes em vez de alegria muita angústia. Mas agora podemos ao menos recordá-lo em paz."

Fonte: eldiario.es

Foto: Sociedad de Ciencias Aranzadi

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