Foto:
Sociedad de Ciencias Aranzadi
- A mesma equipa da Universidade do País Basco que identificou os restos de oito saharauis em junho descobriu outras três fossas comuns de que recolheu amostras para análise
- A descoberta ocorreu durante uma nova viagem em que foi feita a exumação e entrega às famílias e enterro definitivo dos primeiros restos mortais encontrados
- Os investigadores solicitam ao Governo [espanhol] a abertura de uma investigação própria e denunciam a passividade institucional ante estas provas dos crimes de Marrocos
Por Gabriela Sánchez
Mahmud Salme estava absorto, enquanto observava os restos
mortais de seu irmão, seu pai e seu tio regressarem à terra envoltos em lençóis
brancos. Enquanto terminava a ansiedade dos familiares dos oito saharauis,
executados em 1976 pelo exército marroquino, localizados e identificados em duasvalas comuns em junho passado; abria-se a esperança para as centenas de
famílias ainda esperam uma resposta concreta: a mesma equipa de investigação da
Universidade do País Basco, descobriu outras três fossas nos territórios
libertados do Sahara Ocidental. Os investigadores retiraram amostras para posterior
análise e identificação.
As novas descobertas ocorreram durante uma segunda viagem do
grupo da Sociedade de Ciências Aranzadi e do Instituto de Desenvolvimento e Cooperação
Hegoa que fez a primeira exumação dos restos mortais, a entrega às famílias das
vítimas e seu enterro final no mesmo local onde foram localizados. Além dos
entes queridos dos falecidos, estiveram presentes no evento, a equipe de
pesquisa responsável pelo Governo saharaui e membros da Missão das Nações
Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO).
Apesar de duas das vítimas identificadas nas primeiras
descobertas terem consigo o Bilhete de Identidade espanhol e os assassinatos terem
ocorrido quando as tropas espanholas estavam ainda no Sahara Ocidental — retiraram-se
a 26 de fevereiro de 1976, enquanto os terríveis acontecimentos ocorreram no
dia 12 do mesmo mês —, os pesquisadores ainda estão à espera de uma resposta do
Governo de Espanha. "Deveriam encarar o assunto a sério, deve haver uma
resposta após a apresentação das provas contundentes que temos sobre este caso.
Deve abrir a sua própria investigação sobre o que aconteceu e pedir a
cooperação de Marrocos", reclama Carlos Martín Beristain, antropólogo do Instituto
Hegoa.
"Afinal, o que temos feito já é muito mais fácil do que
o que está por vir. Agora temos que oficializar a informação. Tornar oficial este
relatório técnico cheio de provas. Quem é que o vai fazer?" interroga-se o
forense Etxeverria Francisco, diretor da pesquisa. Ambos explicaram que, depois
de uma reunião com responsáveis do Magrebe e de Direitos Humanos do Ministério dos
Negócios Estrangeiros [de Espanha], aquela instituição ainda não voltou a contactá-los.
"As mentiras de Marrocos ficaram demonstradas. Estas descobertas
têm que ser conhecidas por toda a gente, tem que haver justiça a nível
internacional," afirma Salme Mahmud, irmão, sobrinho e filho de três das
vítimas assassinadas naquele dia 12 de fevereiro de 1976 pelo exército
marroquino e cujos restos mortais foram localizados 38 anos depois. Quando
utiliza a palavra "mentiras" sabe do que está a falar. Em 1995, o
governo marroquino havia respondido ao pedido de informação do Grupo sobre os
Desaparecimentos Forçados da ONU através de um documento que ele ainda conserva.
"Diziam que o meu irmão morava em El Aaiún. O meu irmão, que eu enterrei
há poucos dias no deserto do Sahara." Mostra-nos: o texto detalha até a
suposta rua onde morava e já ele estava morto.
Esta informação falsa é anexada ao relatório técnico que deu
visibilidade às descobertas da equipa da Universidade do País Basco. Marrocos
não deu nenhuma resposta oficial sobre o paradeiro dos desaparecidos. Só em
2006, o Relatório da Instância de Equidade e Reconciliação de Marrocos assegurou
que quatro dos detidos naquele dia tinham sido levados para o quartel de Smara
e lá tinham morrido durante o tempo de prisão. No entanto, a equipa de
investigação forense demonstrou a falsidade dessa informação: "As detenções
foram coletivas e ocorreram no mesmo dia [...] Os detidos não foram
transferidos para qualquer quartel, antes foram imediatamente executados no
local. Embora se encontrassem indefesos."
Após a localização de outras três fossas, Etxeverria
pretende voltar ao Sahara Ocidental após um período entre seis meses a um ano.
De acordo com eles, esperam receber um novo financiamento já que, após as
operações realizadas, esgotaram os fundos fornecidos pelo Instituto de
Cooperação da Universidade do País Basco, mas confiam que vão conseguir voltar
uma vez analisadas as amostras recolhidas durante esta última viagem.
Como membro do conselho da Associação de Familiares de
Presos e Desaparecidos Saharauis (AFAPREDESA), a luta de Mahmud não termina com
o funeral dos seus três parentes, mas sente a diferença. Ele esforça-se para nos
explicar. "Não chega a ser alegria ... Vês os restos mortais de um pai que
não pôde receber o amor que lhe querias dar. Sentes em vez de alegria muita
angústia. Mas agora podemos ao menos recordá-lo em paz."
Fonte: eldiario.es
Foto:
Sociedad de Ciencias Aranzadi
Sem comentários:
Enviar um comentário