Mohamed Ould Salek, ministro dos NE da República Saharaui |
Nesta entrevista ao diário argelino L'EXPRESSION, Mohamed
Salem Ould Salek, ministro dos Negócios Estrangeiros da RASD, analisa a
situação no norte do Mali, explica o verdadeiro papel do MUJAO (Movimento para
a Unidade e a Jihad na África Ocidental) na região e os objetivos que lhe foram
atribuídos por Marrocos, que — afirma — servem objetivamente a intervenção
estrangeira. Preciso e explícito, Salek diz que Marrocos, através do MUJAO,
procura desestabilizar toda a região e contrariar o papel central da Argélia.
L'Expression: Que análise
faz da situação de crise no norte do Mali e a da vontade manifesta da CEDEAO (Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental), respaldada pela França, de levar a
cabo uma operação militar ?
Mohamed Salem Ould Salek: A Polisario deseja que os Malianos
possam encontrar uma solução pacífica para a crise no quadro nacional e,
principalmente, sem interferência estrangeira. A Polisario apoia a posição da União
Africana, defendendo uma solução política pacífica negociada pelas partes em
conflito.
Uma eventual intervenção militar no norte do Mali, penso que
poderá envenenar a situação e ameaçar, em consequência, a paz e a estabilidade
em toda a sub-região. Numa palavra, uma intervenção militar no norte do Mali
terá consequências muito graves e caóticas em toda a região e não irá em nada resolver
a crise. E este é o objetivo procurado por alguns países que manipulam os
grupos terroristas, nomeadamente o MUJAO (Movimento para a Unidade e a Jihad na
África Ocidental) e os traficantes de todos os quadrantes que operam no Norte
do Mali, em particular, e na região em geral.
A República Árabe Saharaui Democrática estimula o diálogo e
uma resolução pacífica da crise. Dito isso, é preciso separar a luta contra o
terrorismo na região da crise sociopolítica no norte do Mali. É preciso que a questão
do terrorismo seja abordada numa estratégia global, que deve ser conduzida pelos
países centrais da região, em colaboração com os seus parceiros tradicionais.
Devemos implementar as estratégias adotadas por países da
zona para lutar contra o terrorismo e banditismo, sob todas as suas formas.
Sobre o problema sócio-político no norte do Mali, ele necessita uma solução
política, como foi corretamente apontado por Argel, em várias ocasiões.
Como explica o facto
de o Movimento para a Unidade e a jihad na África Ocidental (MUJAO) ser,
alegadamente, manipulado por Marrocos ao serviço de forças estrangeiras?
Na verdade, o papel do MUJAO é desestabilizar toda a região,
seguindo uma agenda bem precisa, teleguiada pelos serviços secretos marroquinos
que, por sua vez, estão ao serviço de forças estrangeiras. Os traficantes de
drogas e o MUJAO são manipulados e instrumentalizados por Marrocos, que procura
quebrar o papel central desempenhado pela Argélia na prossecução da estabilidade
e paz na região, e assim fazer um contrapeso.
Isso por um lado; por outro, através do MUJAO, Marrocos quer
criar desestabilização e confusão para desviar a opinião pública, a nível regional
e internacional, para melhor levar a cabo a sua colonização do Sahara Ocidental
e servir, em contrapartida, potências estrangeiras com interesses estratégicos
na região. Dito isso, Marrocos é, portanto, um meio e um instrumento de
potências estrangeiras na região, com objetivos específicos.
Os três cooperantes europeus raptados pelo MUJAO nos acampamentos de refugiados saharauis de Tindouf e posteriormente libertados |
O que o faz pensar
que o MUJAO, atuando a partir do norte do Mali, serve os propósitos de Marrocos?
Em primeiro lugar, convém dizer que a criação do próprio MUJAO
teve como alvo a Argélia. É um grupo terrorista que, desde a sua criação, procurou
atingir a Argélia e o povo saharaui.
Significa que ele foi encarregado de fazer da Argélia o seu alvo
principal. Esta organização, incluindo redes de passadores que traficam enormes
quantidades de drogas na região oriundas de Marrocos, mantém ligações com oficiais
marroquinos e a gendarmeria real.
Não há dúvidas a este respeito. Devo dizer que tudo é
relativo. Os grupos terroristas estão em contato com as potências estrangeiras
que procuram desestabilizar toda a sub-região. Isso quer dizer que a tomada de
reféns e outras ações e ataques na região do Sahel não são, na verdade, mais do
que falsos pretextos para aqueles que cultivam tendências intervencionistas na
região.
A agressão contínua de Marrocos contra o Sahara Ocidental, desde
1975, apoiada por potências estrangeiras, especialmente a França, constitui uma
fonte de desestabilização de toda a sub-região e inscreve-se nas veleidades intervencionistas
estrangeiras na região. As autoridades saharauis têm provas que confirmam que certos
grupos terroristas, ativos na sub-região, trabalham às ordens e sob diretrizes
de alguns governos, como Marrocos e seus aliados.
Temos em nosso poder alguns membros do grupo MUJAO que foram
presos pelos serviços de segurança saharauis após o sequestro de três cooperantes
europeus em Tindouf. Eles não negam o facto de terem sido recrutados pelos
serviços marroquinos para raptar os três cooperantes de ajuda humanitária de
Tinfouf.
L’Expression - Kamel
Lakhdar-Chouche
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