As autoridades de Marrocos expulsaram do Sahara Ocidental pelo
menos cinco estrangeiros hoje, terça-feira
6 de novembro, quando se celebra o 37º aniversário da ocupação do território através
da Marcha Verde organizada pelo defunto Hassan II, pai do atual rei Mohamed VI.
«Está perigo a vossa segurança», disseram ao jornalista freelance
espanhol Ginés Soriano um grupo de agentes à paisana que o intercetaram em El
Aaiún e que o advertiram que alguns «acontecimentos» iriam ocorrer na cidade.
Os polícias — calcula o jornalista em declarações ao ABC que
eram entre dez e doze — apreenderam o passaporte a Soriano, chegado à capital
saharaui pouco antes do incidente, e a quatro políticos de partidos governamentais
noruegueses que tinham chegado ontem, segunda-feira.
Trata-se de Paal Henriksen e Khristine Hallin, do Partido Trabalhista,
e Vegard Tjorhom e Gunnar Kaus, do Partido de Centro. Após a sua chegada na
segunda-feira foram confinados no Hotel Nagjir, segundo testemunhos de uma organização
local, a ASVDH, que lhes preparava contactos e entrevistas que finalmente não
puderam concretizar.
«Não puderam levar a cabo o seu trabalho», confirmou ao ABC
Hassana Duihi, membro da ASVD ( Associação Saharaui de Vítimas de Violações Graves
de Direitos Humanos cometidas pelo Estado Marroquino). Duihi confirmou a expulsão
dos quatro noruegueses e do espanhol, para quem tinham também preparado reuniões
em El Aaiún.
Os cinco tinham chegado ao território em conflito como
turistas ante os problemas colocados pelas autoridades de Rabat. Na tarde de
hoje, terça-feira, foram obrigados a tomar um táxi em direção à cidade marroquina
de Agadir, cerca de 650 quilómetros ao norte de El Aaiún. Só então lhes foi
devolvida amavelmente a sua documentação.
A intenção de todos eles, reconhece Soriano, era entrevistarem-se
com ativistas saharauis de organizações humanitárias que denunciam a ocupação
do território e a violação dos direitos humanos. Nenhum desses encontros se
pôde organizar porque foram intercetados pelos polícias, que não chegaram a identificar-se
com nenhum documento. Entre o grupo intercetor, segundo refere a ASVDH, encontrava-se
também o Pacha, uma autoridade local ligada ao ministério do Interior
(marroquino), e um intérprete.
Segundo o jornalista espanhol, as autoridades marroquinas procuram
ainda outros três espanhóis que tinham conseguido passar os controlos de
estrada como turistas.
Não é a primeira vez que Marrocos expulsa estrangeiros do Sahara
Ocidental para impedir que tenham reuniões com ONGs ou ativistas favoráveis à independência
ou que denunciam a ocupação do território.
Além do aniversário da Marcha Verde, também se cumprem dois
anos desde que as Forças de Segurança do reino alauita desmantelaram pela força,
na madrugada de 8 de novembro de 2010, o acampamento de Gdeim Izik, o maior
protesto popular organizado em décadas no Sahara. Nos incidentes posteriores morreram
onze agentes marroquinos e dois civis saharauis.
Tudo isto acontece quando o enviado pessoal do Secretário-geral
da ONU para o Sahara Ocidental, o norte-americano Christopher Ross, acaba de
visitar na semana passada pela primeira El Aaiún e se encontra ainda em viagem
pela região até mediados de novembro.
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