terça-feira, 6 de novembro de 2012

Rabat expulsa do Sahara vários estrangeiros no aniversário da Marcha Verde




As autoridades de Marrocos expulsaram do Sahara Ocidental pelo menos cinco estrangeiros  hoje, terça-feira 6 de novembro, quando se celebra o 37º aniversário da ocupação do território através da Marcha Verde organizada pelo defunto Hassan II, pai do atual rei Mohamed VI.

«Está perigo a vossa segurança», disseram ao jornalista freelance espanhol Ginés Soriano um grupo de agentes à paisana que o intercetaram em El Aaiún e que o advertiram que alguns «acontecimentos» iriam ocorrer na cidade.

Os polícias — calcula o jornalista em declarações ao ABC que eram entre dez e doze — apreenderam o passaporte a Soriano, chegado à capital saharaui pouco antes do incidente, e a quatro políticos de partidos governamentais noruegueses que tinham chegado ontem, segunda-feira.

Trata-se de Paal Henriksen e Khristine Hallin, do Partido Trabalhista, e Vegard Tjorhom e Gunnar Kaus, do Partido de Centro. Após a sua chegada na segunda-feira foram confinados no Hotel Nagjir, segundo testemunhos de uma organização local, a ASVDH, que lhes preparava contactos e entrevistas que finalmente não puderam concretizar.

«Não puderam levar a cabo o seu trabalho», confirmou ao ABC Hassana Duihi, membro da ASVD ( Associação Saharaui de Vítimas de Violações Graves de Direitos Humanos cometidas pelo Estado Marroquino). Duihi confirmou a expulsão dos quatro noruegueses e do espanhol, para quem tinham também preparado reuniões em El Aaiún.

Os cinco tinham chegado ao território em conflito como turistas ante os problemas colocados pelas autoridades de Rabat. Na tarde de hoje, terça-feira, foram obrigados a tomar um táxi em direção à cidade marroquina de Agadir, cerca de 650 quilómetros ao norte de El Aaiún. Só então lhes foi devolvida amavelmente a sua documentação.

A intenção de todos eles, reconhece Soriano, era entrevistarem-se com ativistas saharauis de organizações humanitárias que denunciam a ocupação do território e a violação dos direitos humanos. Nenhum desses encontros se pôde organizar porque foram intercetados pelos polícias, que não chegaram a identificar-se com nenhum documento. Entre o grupo intercetor, segundo refere a ASVDH, encontrava-se também o Pacha, uma autoridade local ligada ao ministério do Interior (marroquino), e um intérprete.

Segundo o jornalista espanhol, as autoridades marroquinas procuram ainda outros três espanhóis que tinham conseguido passar os controlos de estrada como turistas.

Não é a primeira vez que Marrocos expulsa estrangeiros do Sahara Ocidental para impedir que tenham reuniões com ONGs ou ativistas favoráveis à independência ou que denunciam a ocupação do território.

Além do aniversário da Marcha Verde, também se cumprem dois anos desde que as Forças de Segurança do reino alauita desmantelaram pela força, na madrugada de 8 de novembro de 2010, o acampamento de Gdeim Izik, o maior protesto popular organizado em décadas no Sahara. Nos incidentes posteriores morreram onze agentes marroquinos e dois civis saharauis.

Tudo isto acontece quando o enviado pessoal do Secretário-geral da ONU para o Sahara Ocidental, o norte-americano Christopher Ross, acaba de visitar na semana passada pela primeira El Aaiún e se encontra ainda em viagem pela região até mediados de novembro.

Sem comentários:

Enviar um comentário