Espanha não quer deixar de fora das suas mais estreitas relações
bilaterais o seu vizinho do sul. O governo de Mariano Rajoy não só não reduziu
em intensidade os laços estabelecidos pelos governos anteriores, como projetou uma
dinâmica de contatos – incluindo a tradicional primeira visita como
primeiro-ministro a um país estrangeiro - , que poderá até qualificar-se de exagerada
e que tem intensificado consideravelmente nos últimos meses.
No decorrer de pouco mais de 20 dias no final de 2012, o
ministro da Defesa, Pedro Morenés, visitou Rabat em duas ocasiões, e o ministro
dos Negócios Estrangeiros fez o mesmo em junho, além de não poupar elogios ao
governo de Mohamed VI.
Tudo para consolidar e reforçar um quadro de relações já suficientemente
explicado na nova Diretiva de Política de Defesa, aprovada em outubro do ano
passado e na qual, entre outras, surgiu como diretriz básica o fortalecimento
das relações bilaterais defesa com Marrocos, além dos EUA, Alemanha, França,
Grã-Bretanha, Itália, Portugal e Argélia, países que aparecem
significativamente descritos nos documentos que estabelecem as metas e
prioridades da nossa segurança.
...27 MF 2000... |
A intenção do governo não esconde, para além das usuais boas
intenções diplomáticos, a preocupação da Espanha pelo alarmante rearmamento que
Marrocos está a executar nos últimos tempos. Uma política às claras que esfria os
balbuciantes movimentos de reação por parte da oposição dentro das suas
fronteiras e que delimita o panorama geoestratégico no Magrebe.
A ameaça
da Argélia
Uma posição que influencia Rabat e que é resultante de
querer manter influência na região e, simultaneamente, dar um aviso ao seu
rival geográfico, a Argélia. Agora, novos dados colocam o país magrebino entre
as nações que longe de limitar os seus investimentos armamentistas - como ocorre
com os seus vizinhos do norte – amplia declaradamente a sua estratégia de
defesa. O último relatório do Instituto de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI)
sobre as tendências internacionais nas transações de armas revela que, nos
últimos cinco anos, Marrocos se colocou na décima segunda posição entre os maiores
compradores devido às aquisições de aviões de combate, fragatas e tanques.
...três fragatas Tipo SIGMA...
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O dado é ainda mais alarmante se considerarmos que, entre
2003 e 2007, Marrocos ocupava o 69º lugar entre os maiores importadores de armas
pesadas convencionais.
Crescimento vertiginoso
Durante os últimos cinco anos Marrocos só foi superado em
termos de aquisição de armamento (de maior para o menor) pela Índia, China,
Paquistão, Coreia do Sul, Singapura, Argélia, Austrália, EUA, Emirados Árabes
Unidos, Arábia Saudita e Turquia, apesar de nenhum desses país ter conhecido um
crescimento tão vertiginoso como o marroquino, que, limitando os dados a
períodos anuais, adquiriu em 2012 vinte vezes armas mais do que em 2009 e quase
trinta vezes mais do que em 2007.
De acordo com o relatório do SIPRI, entre as importações
recebidas de 2008 a 2011, estão 24 caças F-16C aviões americanos, outros 27 aviões
de combate MF-2000 fabricados em França, três fragatas Tipo SIGMA compradas à
Holanda e 54 tanques Tipo-90-2 produzidos na China. Na verdade, os EUA, o maior
exportador de armas para o país norte Africano, e França - seu principal
cliente – constituem o par donde provem a maioria das armas compradas nos
últimos cinco anos. Conclusão: Marrocos e África do Sul são, de longe, os
maiores importadores de armas em África.
A verdade é que estes dados apenas confirmam documentos
anteriores que já enfatizavam o interesse de Rabat em se tornar na potência
militar do Norte de África. Nesse sentido, as referências dos serviços de
informação dos EUA foram confirmados por vários estudos realizados pelo Instituto
Nacional de Estudos de Segurança de Israel que, em julho de 2012, já alertava para
a escalada militar do “inimigo do sul”, como é denominado Marrocos em alguns
meios militares espanhóis.
Para além das referências estrangeiras, o Instituto Espanhol
de Estudos Estratégicos apresentou há um par de semanas o seu Panorama
Estratégico 2013, no qual, mais uma vez, destacava as relações com Marrocos e
sublinhava riscos exponenciais em que Rabat tem muito a dizer.
Fundamentalmente, o Sahel.
Fonte: La Gaceta
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