Os EUA querem que a ONU
vigie de forma permanente as violações aos direitos humanos no Sahara Ocidental.
Como explica este pedido
norte-americano?
É uma ideia antiga que surgiu na sequência de dois acontecimentos.
Por um lado, a última viagem de Christopher Ross à região e os seus encontros, no
Sahara Ocidental, com os independentistas saharauis. Por outro lado, as relações
entre a Fundação Robert Kennedy e John Kerry, o novo Secretário de Estado americano,
bem como com Susan Rice, a embaixadora dos EUA na ONU. Foi a Fundação e a sua presidente,
Kerry Kennedy, quem anunciou, em primeira mão, a iniciativa dos EUA a 12 de
abril no seu site e no Twitter.
Marrocos regiu com
nervosismo exprimindo a sua oposição ao alargamento do mandato da MINURSO e à
vigilância dos direitos humanos. Porquê este pânico?
O balanço em matéria de direitos humanos no Sahara, embora
tenha melhorado desde a época do rei Hassan II, está longe de ser considerada
brilhante. Basta ler o relatório de Juan Méndez, o relator da ONU sobre a Tortura,
após a sua viagem a Marrocos em 2012. Receber no Sahara, de tempos a tempos, missões
da ONU, do Parlamento Europeu ou ONGs como a Humans Rights Watch (HRW), é uma
coisa, mas ter uma vigilância permanente no terreno por parte da MINURSO, é
diferente.
Esta presença pode incitar os independentistas a serem mais
ativos, sabendo que as forças de segurança marroquinas têm que pensar duas
vezes antes de os espancar e reprimir, pois a MINURSO não deixará de alertar. Eu
digo sempre aos meus interlocutores marroquinos que a sua oferta de autonomia
para esta antiga colónia espanhola seria muito mais credível se eles tratassem
os independentistas com mais consideração. Rabat sempre defendeu que os
refugiados em Tindouf eram "sequestrados" pela Polisario. A dar-se
essa monitorarização, é então agora a ocasião, ou nunca, de tentar libertar esses
milhares de "sequestrados".
Quais são as consequências
de uma extensão do mandato da MINURSO relativamente à resolução do conflito do Sahara
Ocidental ?
É ainda muito cedo para podermos falar. É preciso ver em
primeiro lugar em que é que dará exatamente esta iniciativa americana. Até ao
dia 25 de abril, dia da votação no Conselho de Segurança da ONU, os responsáveis
marroquinos farão todo o possível para adoçar este projeto de resolução. Já
enviaram, ou vão enviar nos próximos dias, delegações às capitais dos países
membros do Conselho de Segurança, com prioridade para aqueles que são membros
permanentes. Eles contam muito com Paris, mas eu não sei se a França socialista
de Hollande irá ajudá-los como o fizeram no passado os presidentes Nicolas
Sarkozy e Jacques Chirac. O desfecho desta iniciativa passa, em grande medida, por
Paris.
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