domingo, 14 de abril de 2013

Wikileaks, Hassan II em 1973: “O Sahara deve ser marroquino, mas a não sê-lo, que permaneça espanhol, mas que não seja nunca argelino ou independente”




O presidente da Argélia na altura, o falecido Houari Boumediene, havia proposto que os três países apoiassem os movimentos de libertação que trabalhassem juntos para expulsar os espanhóis do Sahara Ocidental.

O Rei Hassan II afirmava, porém, que "ele preferiria ver os espanhóis permanecerem a ter um Estado independente sob controlo argelino", segundo Stuart W. Rockwell, embaixador dos EUA em Marrocos, em telegrama enviado ao Departamento de Estado dos EUA e às embaixadas dos EUA nos países em causa, a 27 de julho de 1973, após o seu encontro com o ministro marroquino de Relações Exteriores Ahmed Tayeb Benhima – telegrama divulgado pelo WikiLeaks no passado dia 08 de abril de 2013.  

Durante esta entrevista, o embaixador dos EUA pediu a Benhima que lhe contasse os debates havidos em Agadir, sobre o Sahara, poucos dias antes, a 23 e 24 de julho, entre Hassan II, o presidente da Argélia e Moktar Ould Daddah presidente mauritano.
Em 1973, o Sahara Ocidental ainda é o espanhol, mas Marrocos, Argélia e a Mauritânia – que Hassan II pensa que é manipulada pela Argélia – disputam-na.

Argélia deixou claro a Marrocos que não reclamava o Sahara

Na reunião de julho de 1973 entre os três chefes de Estado, Hassan II acusa diretamente a Argélia de ter traído a sua palavra. Hassan II, segundo os relatos do MNE marroquino, Ahmed Tayeb Benhima, ao embaixador americano, “criticou Boumediene de reclamar o Sahara depois de Marrocos ter feito sacrifícios sobre o acordo de fronteira".

Ainda de acordo o Wikileaks, a Argélia deu a conhecer a Marrocos que ela não reclamava o Sahara, de acordo com Hassan II. Em troca, Marrocos tinha concordado fazer mais amplas concessões territoriais no traçado da fronteira entre Marrocos e Argélia, quando da assinatura do tratado assinado no ano anterior entre os dois estados. Desde então, a Argélia e a Mauritânia renovaram a sua intenção de levar a questão do Sahara à Assembleia Geral das Nações Unidas.

Para Hassan II, é impensável que o Marrocos tenha um novo vizinho. "Ele disse que se a Argélia antevia a criação de um Estado saharaui independente, ela devia ter consciência que os primeiros países a reconhecer um tal Estado não seriam as grandes potências, mas pequenos estados comunistas, como a Albânia, ou o Vietname do Norte ... ", afirma Ahmed Tayeb Benhima ao embaixador dos EUA.

Inimaginável. Marrocos "não pode tolerar a existência de um Estado afiliado ao comunismo junto às suas fronteiras", terá dito o rei a Houari Boumediene e a Mokhtar Ould Daddah.
 
O Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger

"Marrocos mobilizaria as suas tropas e declararia a guerra"

Noutro telegrama, as razões de oposição de Marrocos a um Estado independente surgem mais claramente. "Ahmed Tayeb Benhima exprime sem rodeios que Marrocos não podia tolerar que esta região, tradicionalmente na rota das invasões a Marrocos, pudesse cair nas mãos de um governo local fraco, e se tornasse presa fácil da influência da Argélia ou da Líbia ", relata o embaixador dos EUA em Rabat.

Em suma, para Marrocos, o Sahara é uma zona tampão. Se a Argélia dela tomasse o controlo, o reino estaria encravado, e portanto mais fraco, e vulnerável ​​às pressões argelinas.
Para Marrocos, a perspetiva de um Sahara argelino ou independente é uma questão impensável a que promete declarar guerra se ela vier a ocorrer.

“E, se é isso que a Argélia tem em mente, o rei poria fim à sua política de contenção, mobilizaria as suas tropas e declararia a guerra", explica o ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino ao embaixador americano em julho de 1973 .

Fonte: Algerie1.com

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